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sábado, 13 de abril de 2013

Esvaziando o pote...

Acendi um incenso, logo o cheiro me lembrou minha mãe. Daí então, outras lembranças começaram a se listar, como se tivesse feito uma busca na internet e milhões de coisas tivessem aparecido como resposta. Lembrei-me que hoje ela estaria feliz preparando-se pro aniversário da minha tia. Fazendo alguma coisa pra levar pro almoço, me chamando pra comprarmos algum presente e fazendo mil ligações pra minhas outras tias, meus primos e minha vó (que partiu há exato um mês).

A música no computador, me fez lembrar da nossa última conversa, por telefone. Para saber o quê comprar pra essa mesma tia que faz aniversário. Sentei na cama pra recuperar o fôlego e tentar achar uma resposta, um sussurro divino que me diga até quando vai doer tanto assim? Até agora só me vieram lágrimas.

Sei o quanto esses lamentos cansam os olhos de quem se dá ao trabalho de parar pra ler minhas postagens, mas algumas vezes é só escrevendo que consigo esvaziar o pote que se enche aqui dentro. Sei que nem todos entendem isso, e espero que tão cedo não saibam o que é essa dor. 

Mesmo crendo que exista algo além dessa vida, mesmo acreditando que ela permanece viva em algum bom lugar, isso ainda não é o suficiente para acalmar o coração. Mesmo comungando do pensamento de que o meu sofrimento também a traz sofrimentos, não consigo deixar de sofrer, acho que sofro em dobro.

Saudade é ignorante, desconhece crenças, datas e horários. Saudade não consegue entender o tempo. saudade é quando a pessoa ausente se torna extremamente presente e isso não é reconfortante. Apenas nos incomoda, nos atormenta, lembrando que essa pessoa só chegará aqui (quando muito) arrastada pelas lembranças que não preenchem.

Não há mais o contato físico do tato, do abraço apertado, da mão que virá procurar a sua pra segurar enquanto atravessa a rua e dos cabelos pra brincar de descabelar. Não dá mais pra ouvir a boca sempre pintada soltar aquelas gargalhadas, ou contar as piadas, dizer besterias, conselhos, broncas, pedidos, ou simplesmente cantarolar todas as músicas que você já ouviu desde seus primeiros anos de vida até hoje. 

Talvez ainda se sinta alguns cheiros, mas o cheiro bom, aquele que era dela... perdeu-se pra sempre. Jamais haverá outra comida que cheire, que traga os gostos temperados com música e sorrisos. E os olhos apenas se enganam com algum vídeo, ou mesmo foto sem sentimento algum. Apenas uma repetição de imagens artificiais que jamais deixarão de ser passado. Nenhum daqueles lugares terá sua presença novamente. E eu preciso do presente, do imediatismo. Me transformo em criança mimada que exige o agora.

E é só por isso que eu venho aqui desabafar e alugar os "olhos" de cada um que se dá ao trabalho de ler isso. Apenas porque tudo o que conheço da vida é com ela ao meu lado. Não escrevo esperando "curtidas", comentários com declarações, ou mesmo dó e indiferença, só quero realmente esvaziar o peito e desentupir o canal lacrimal compartilhando com cada um o que nem eu sei explicar.

Hoje não quero que venham me dizer que não devo chorar, ou que ela permanece viva dentro de mim (já fui tolo o suficiente de repetir isso para alguns amigos acreditando que resolveria o problema). Quero mais é que se foda toda essa ladainha, eu a quero aqui comigo e sei que isso não vai acontecer e se ninguém poder me dar isso, não me digam mais nada, nem mesmo o que devo ou não fazer.  Rezem, meditem, me mandem bons pensamentos, mas por favor não digam que eu não posso sentir falta de 27 anos repletos de tudo isso.

Só quem esteve ao seu lado, por pelo menos um dia, entende o silêncio e o vazio que ficou.

(E todas as perdas que vieram de lá pra cá também fazem questão de estar por aqui. Minha mãe, minha vó e até mesmo eu, que me perdi de mim...)


Leandro Léo - Poema