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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Dor, mente

Tudo veio ao mesmo tempo. Toda a vida tentando ser lembrada em um único momento. Saudosismo, arrependimento, saudade, tristeza, alegria... os sentimentos também vieram de uma vez. O peito acelerava, disparava como quem vê um fantasma do passado ali na frente. Mãos trêmulas, palidez...  a cabeça doeu, não sabia se por um efeito colateral ou como uma auto-defesa.


Liah Soares - Tempo Perdido




Enquanto sentia a dor, a cabeça tentava refazer a vida. Voltava no tempo e tentava mudar muitas coisas, coisas grandes demais para serem mudadas, coisas antigas demais, mas que transformaram os dias atuais. Quem ficou pra trás? Quem permaneceu ao seu lado? Quem encontrará amanhã? Quem reencontrará o caminho pra sua vida? Só se esquecera não pode fazer nada, nem mesmo mudar aquilo que foi feito, ou desfeito, lá atrás.

Não bastava fechar os olhos e reinventar seu mundo, cedo ou tarde é preciso encarar a realidade. Abrir os olhos e perceber o quanto uma escolha pode trilhar caminhos. Continua!, ouviu alguém gritar lá dentro. Olhou o horizonte e seguiu, tendo de fazer mais escolhas (talvez mais acertadas).

Maneva - Saudades do Tempo



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ensaio sobre discursos inflamados, marginais, postes, vingadores e jornalistas juízes

"O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente que invés de prestar queixa contra seus agressores ele preferiu fugir, antes que ele mesmo acabasse preso. É que a ficha do sujeito está mais suja do que pau-de-galinheiro. 

No país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, que arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível. O Estado é omisso! A polícia desmoralizada! A justiça falha! O quê que resta ao cidadão de bem, que ainda por cima foi desarmado? Se defender, claro!

O contra-ataque ao bandidos é o que eu chamo de legítima-defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite.E aos defensores dos direito-humanos que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha: Faça um favor ao Brasil, Adote um bandido!". Assim foi o discurso inflamado da jornalista do SBT, Rachel Sheherazade.

Quem deu o direito à jornalista de classificar o menor como "marginalzinho" e aos agressores de "vingadores"? O grande problema nisso tudo é alguém que está na frente das câmeras para milhões de pessoas (tem uma força e influência imensa) apoiar a violência, pregando o tal "olho por olho" como medida. Quem está na mídia precisa ser cauteloso ao falar. Mas sabemos que este não foi o primeiro, nem será o último discurso polêmico dela.


Engenheiros do Hawaii - Muros e Grades


Ainda q
ue se justifique pelo cansaço da impunidade e do abrandamento das leis para menores, o julgamento de qualquer ser-humano não deve ser feito nas ruas a revelia. Se assim for estaremos a um passo do caos e sem diferenciar pessoas do bem e os bandidos.


Para além de todo esse meu discurso no melhor estilo "defensor dos direitos-humanos", vemos inúmeros culpados nesse "conto de fadas". O menor "marginalzinho" que a colega não sabe e nem quer saber porque tornou-se um infrator e ela apenas sabe que tem um extensa ficha criminal, os "vingadores" que resolvem ir às ruas agredir quem transgride a lei, a jornalista que apoia a justiça feita com as próprias mãos, incentiva a posse de arma pelo cidadão e debocha da defesa aso direitos-humanos.

Trabalho há 3 anos com a população de rua. Sofri ameaças e agressões diversas, mas aprendi que, na maioria dos casos (especialmente de crianças e adolescentes), foram violentados e agredidos dentro de casa, sofreram as maiores violências possíveis por aqueles mais próximos e "confiáveis" e viram como refúgio as ruas e a marginalidade. E digo mais, nenhum quis estar num abrigo (principalmente público). Justifica a busca pelo crime, drogas e a violência? Não! tanto que conheço casos de pessoas que apesar de tudo mudaram sua história.


Criolo - Ainda há tempo


Talvez nenhum de nós tenha entendido plenamente o que a Rachel disse, mas garanto que alguns milhões ouviram a opinião dela como um apoio e incentivo à vingança, ao porte de arma, crítica ao governo, à justiça, à polícia e a falta de punição aos menores infratores (e no fim das contas acabou sendo tudo isso mesmo).

Como jornalista, digo que ela está eticamente errada. Como cidadão, entendo e apoio ela estar tão indignada com tanta impunidade, mas ainda assim não cabe a ela julgar quem quer que seja, aplaudir e incentivar o errado.


É preciso sempre estar bem atento àquilo que a TV/Rádio/Internet/Jornais nos vendem todos os dias. Há interesses, há muito mais do que nos levar notícias por trás do discurso inflamado de Rachel. No fim das contas foi-se a censura dos anos da ditadura e veio uma outra, pior. Velada, que nos traz a falsa sensação de ter acesso a tudo. E isso é mentira, recebemos as notícias maquiada de acordo com os interesses de quem a está noticiando e todos sabem disso.


Titãs e Rita Lee - A Televisão


Quando se fala uma coisa e interpretarem duas ou três existe um sério problema nisso. Quem tá exposto na mídia tem um poderio imenso perante o telespectador. Influencia muito na opinião e no pensamento de gente de pouca instrução (e até de quem tem acesso a muita informação, mas é alienado) e isso me assusta. Uma mensagem errada tem consequências trágicas. A história da comunicação traz vários casos. 

Rachel não está de todo errado, quando se coloca como uma cidadã indignada com os rumos da violência em nosso país, mas diferente do que seu discurso nos trouxe, o combate à violência nunca foi um problema exclusivo da justiça, polícia, governo e defensores de direitos humanos. Ela também tem seu papel/responsabilidade nisso. Bem como eu, você e qualquer outra pessoa, até mesmo o marginalzinho amarrado ao poste. Ninguém pode, nem deve ser um conformado com a impunidade e a violência extrema em que vivemos. O cidadão de bem não quer, não precisa, nem cogita ter uma arma em casa como solução à violência.

Estamos todos saturados de tanta violência, impunidade, escândalos e tragédias. Por isso, por todo esse clima tenso em que vivemos, qualquer faísca pode explodir. Precisamos nos indignar, reivindicar direitos, cumprir com deveres, mas (mais do que nunca) buscar a paz e a boa convivência. Precisamos de gente disposta a nos trazer novos caminhos, novas soluções para os velhos problemas e a melhor forma de se amenizar a violência. São certos discursos e pensamentos que incitam pessoas a acender rojões e lançá-los no meio da multidão, matando um cinegrafista, acreditando que isso é uma forma legítima de protesto à violência. Ou quem sabe, dizer que adolescentes negros e pobres circulando por um shopping oferecem perigo à classe média e aos ricos. Prudência, acho que foi isso que faltou à colega jornalista. 

Gabriel o Pensador - Até Quando?