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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Momento Guimarães Rosa

"O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita."

"Saudade é ser, depois de ter."

"O amor é sede depois de se ter bem bebido."

"Esperar é reconhecer-se incompleto."

"Infelicidade é questão de prefixo."

"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muitos vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens."

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Dias Passados

Chovia tanto que a entrada do seu prédio estava inundada. O porteiro brigava contra a água, tendo apenas um velho rodo de madeira (escuro, talvez podre) como "arma". De botas, sobretudo e com o guarda-chuva nas mãos, ela atravessou o hall sem nem perceber o que acontecia.

Sorria para os vizinhos, mas para o porteiro é que mostrou um sorriso de verdade. Segurou a porta com o pé direito, enquanto abria o guarda-chuva. Seguiu pela rua sem se dar conta do temporal. Parecia desfilar, parecia querer mostrar ao mundo que estava de volta.

Percorreu caminhos que há tempos não ousava ir. Não por medo da violência nas grandes cidades, nem por insegurança ou qualquer motivo banal. Para preservar seu bem-estar, ela se poupou de possíveis ataques que suas lembranças lhe pudessem fazer. Em cada esquina havia um bom motivo para se sentir mal.

Evitar foi, antes de tudo, se preservar. Precisou de um tempo, de uma clausura, até que pudesse enfrentar tudo lá fora. Não que isso mudasse tudo que estava dentro, mas foi melhor assim. Ela caminhava mais segura, mais forte. Ainda abalada, mas seguia.

Se aproximando do semáforo, o tempo foi se abrindo. O dia lhe brindava com um sol radiante. Enquanto abaixava e fechava o guarda-chuva viu o fantasma que tanto lhe assustava do outro lado da rua. Sorrindente, acompanhado por alguns amigos, foi só na metade da faixa que ele percebeu que ela estava ali.

Ela ficou imóvel, sem entender o encontro que o destino lhe providenciava. Sem jeito, ele cogitou conversar e até cumprimentá-la, mas não ousou fazê-lo. Passou acompanhando-a com o olhar. O suficiente para ver a lágrima que escorria no canto do olho esquerdo. De longe ele ainda a observava, talvez também tenha chorado por remorso de tudo o que fez e deixou de fazer.

Tentou seguir, mas a busina a alertou para o sinal já fechado para os pedestres. Ela abaixou o rosto, enxugou as lágrimas e quando pôde atravessou e seguiu seu caminho sem olhar para o passado. Cumpriu mais uma etapa em sua vida, ou não.

Nando Reis - Ainda não passou


domingo, 26 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Lembranças de uma vida inteira

Parado em frente ao espelho, olhou seu rosto pela última vez. Tentava lembrar como era há 50 anos. Não foi capaz. Não sabia se por causa das rugas, ou por causa da memória que não ajudava, só sabia que não conseguia lembrar da juventude.

Lembrou-se das histórisa, mas não se enxergava jovem. A cicatriz, próxima da sombrancelha direita, foi feita quando uma telha caiu sobre seu rosto enquanto ajudava a companheira. De olhos fechados, com a ponta dos dedos tocou a marca e recordou do dia em que seu grande amor morreu.

Lavando o rosto tentou encobrir as lágrimas que escaparam rapidamente. Secou a testa, olhos, bochechas, boca, queixo... esquecera porque estava chorando. Refletido no espelho, no corredor paralelo à porta do banheiro, viu uma dezena de fotos.

Seus avós jovens, seus sobrinhos, irmãos, primos e a foto da sua cachorra (da época da sua adolescência) ao seu lado. Surgiu então um sorriso. Ele se reconheceu, reavivou a memória tão traidora e frágil. Apoiando-se nas paredes parou em frente ao seu passado. Todos estavam ali, sorridentes, convidando-o para reviver toda a sua vida.

Em passos lentos, chegou até a janela e se debruçou sobre as lembranças. A paisagem não era a mesma de quando foi fotografado. Apenas o morro permanecia ali, também marcado pelo tempo. Dois senhores do tempo se enfrentando. Cada um com suas marcas, suas dores, suas histórias escritas em algum lugar.

Deitou em sua cama e lembrou do avô que também morreu deitado, nos braços de sua tia. Mas não havia braços, nem colo para ele. Os parentes que ainda possuía eram jovens demais para se preocupar com ele. Aqueles que o amavam já tinha partido muito antes de sua memória se esvaziar.

E todos esses, os que o amavam, foram surgindo ao seu redor. Sorriu por ver que a memória estava viva, outra vez. Ouviu então a voz de todos, o cheiro da comida de sua mãe, os latidos da cachorra, os risos da infância, os gritos do pai o chamando, as orações da avó, o sorriso do avô, a tia cantando ao longe, os carinhos da esposa, as brigas com os irmãos e o rádio ligado na varanda.

Viu que havia um jovem segurando sua mão, era ele com seus vinte e poucos anos: cabelos longos e sorridente. Retribuiu o sorriso para sua juventude, para sua vida cheia de sorrisos. Os olhos então fecharam-se involuntariamente. Como se estivessem pesados pelo sono, descansaram. O rosto ficou sereno, algumas rugas desapareceram e aos poucos foi rejuvenescendo. Não tinha dor, não tinha medo, não tinha mais nada com o quê se preocupar.


Rita Lee - Minha Vida

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cinzas de uma quarta-feria

O dia amanheceu cinza. Não sei em qual porcentagem, em qual escala, mas era cinza como deveria ser. Enquanto eu queria o mais rápido possível voltar para casa, contraditório, diminuía a velocidade do carro. Havia desânimo não apenas lá fora, mas também aqui dentro.

Sem meus óculos de sol, encarei a manhã de cara limpa. Desmotivado pela sua pobre coloração, olhei o dia sem filtrar a luz que acinzentava ainda mais o universo ao meu redor. Cinza lá fora, a alegria do carnaval também se descoloria dentro do meu carro, preto. Minha roupa, variando apenas entre o branco e preto se fez um uniforme ideal para a quarta-feira.

As senhoras, fiéis, caminhavam rumo ao templo. Cumpriam suas obrigações, deixavam Deus feliz com sua silenciosa caminhada de fé. Eu, talvez infiel demais, queria apenas o escuro do meu quarto. Passava descrente por aquela procissão. Indo no sentido contrário, compartilhava com elas do silêncio.

Minha vó, talvez a mais disposta e feliz das fiéis, (quase que intencionalmente) escolheu o vestuário mais cinza de seu armário. Ela também entrou na caminhada e me convidou para seguir rumo ao altar. Dispensei a demonstração de fé, sacramentada com uma cruz na testa, feita com as cinzas do que sobrou da alegria do carnaval.

Sem som, sem tom, a quarta amanheceu para quem acreditasse, ou não, que ela poderia ser boa.

Elis Regina - Marcha da Quarta-Feira de Cinzas

Momento Fabrício Carpinejar

RETRATO FALADO DO MENTIROSO

Como sabemos que o homem está mentindo?

- O mentiroso é detalhista, responde aquilo que não foi perguntado, está tentando se convencer da história, perde-se em pormenores e curvas desnecessárias.
- O mentiroso fica romântico fora de hora, generoso de repente.
- O mentiroso baixa os olhos de vergonha e fala para os lados.
- O mentiroso somente desmente uma história quando há uma mentira maior para esconder.
- O mentiroso pede desculpa fácil (não se importa mesmo com aquilo que diz).
- O mentiroso ri de nervoso, ri antes da piada.
- O mentiroso é ambicioso: deseja uma mentira maior do que a anterior. Ele tropeça em seu próprio sucesso.

- O mentiroso nunca é evasivo, sempre tem certezas.
- O mentiroso se julga melhor do que os outros. Pensa que sairá impune, que ninguém é capaz de descobrir suas artimanhas.
- O mentiroso inventa tudo (que é um erro, o certo é contar algo falso a partir de algo verdadeiro).

- O mentiroso, tão preocupado consigo, não conversa. É um monólogo.
- O mentiroso sempre está se favorecendo com a trama, ou é a vítima ou é o azarado. Não há mentira que prejudique seu autor.
- O mentiroso acredita que escutar é acreditar e vai falando sem questionar nada.
- O mentiroso põe a culpa pelos atrasos nos amigos. Mas esquece de avisar os amigos.

E a mulher? O que ela faz?

Quando a mulher mente, conta a verdade. Como se fosse uma brincadeira.

Fonte: http://carpinejar.blogspot.com

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Pensamentos para a morte

Uma notícia sobre a morte de dois jovens em minha cidade me deixou preocupado. Não os conhecia, talvez um deles eu saiba quem seja, mas apenas de vista. Se for de fato quem penso que seja, já o vi uma dúzia de vezes em festas, ou pelas ruas da cidade. Mas acredito que minha preocupação tenha a ver com a forma como eles morreram, ou até mesmo por serem jovens.

Pensei em mim, jovem ainda e motorista, que também faz o mesmo trajeto e que, volta e meia, acelera para chegar logo em casa. Me aliviei por não ser dependente das drogas para ter uma noite divertida, o que quase sempre é um agravante em acidentes de trânsito. Diria até mais, é um fator decisivo em acidentes de trânsito, de madrugada, nos fins de semana.

Na mesma noite Whitney Houston também morreu. Afogada, devido os calmantes, ou pela mistura dos remédios com o álcool? Ficam as perguntas a serem respondidas daqui semanas. Independente das coincidências e diferenças que possam haver entre os dois casos, sei que são acontecimentos assim que nos alertam para a vida. Quanto a colocamos em risco? Quanto a desperdiçamos, a desafiamos, ou mesmo a desprezamos?

Pra piorar minha tensão, reparei que ultimamente há um certo tom de despedida em meu discurso. “Pronto, meu nome tá no topo da lista”, pensei deitado em minha cama. E se houver de fato uma premonição nisso tudo?, tratei logo de levantar e pegar o laptop pra rascunhar qualquer texto que se torne póstumo. Até mesmo uma ligeira pontada no coração que volta e meia acontece, resolveu dar as caras hoje.

Logo me veio a pergunta: Como você quer morrer? A resposta óbvia é, “não quero morrer de jeito nenhum”. Mas entre tantas terríveis e possíveis maneiras que cabem à morte, acho que a escolha seria pela maneira menos dolorida e angustiante, como qualquer um escolheria se fosse possível.

Pronto, escolhida a maneira. Agora precisaria definir a data. Isso seria algo indefinido pra qualquer um. Nos momentos de raiva, ou tristeza já quis a morte, então essa data sofreria constantes mudanças só por isso. Uma escolha razoavelmente interessante seria da morte logo após o nascimento, para não ter raciocínio nem expectativas quaisquer sobre a vida. Mas como disse acima que não queria passar por este momento, optaria por nunca morrer. Enfim, tendo de definir prazos iria querer o mais distante possível.

Tentei pensar em mais coisas para me questionar e depois de muito tempo me veio a palavra, Onde. Nunca havia pensado em local para morrer. Deitado em minha cama? Talvez fosse melhor vendo o pôr-do-sol, na beira da praia, numa cachoeira, em um belo bosque, no jardim, na rede sob a sombra de uma árvore... comecei a imaginar tantos lugares que de repente me vi sorridente e criando expectativas sobre minha morte.

O que levaria comigo? Outro sorriso veio, seguido por uma gargalhada. Tantas histórias surgiram, tantas pessoas, tantos cheiros, gostos, cores..., mas levaria apenas as lembranças. E só de lembrar já me trazia uma felicidade imensa de ter vivido boas histórias em minha vida.

O trágico deu lugar ao lúdico. Tornar a morte bela foi só uma questão de pergunta. Me dei conta que mesmo a morte tem lá suas coisas boas. Se é que podemos ver dessa maneira. E para acabar com toda alegria me perguntei: Quem eu queria ver antes de morrer? O nó na garganta trouxe alguns nomes à cabeça, mas dizer um apenas seria injustiça. Preferi optar por Deus. Acho que vê-Lo seria, antes de mais nada, um bom sinal.

Legião Urbana - Música Ambiente

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A quem interessa a paz?

Nos últimos dias, jovens que tentaram evitar crimes foram vítimas da violência. Um espancado por defender um morador de rua, outro também espancado, mas até a morte, por tentar evitar o furto do veículo de um amigo. Quantas histórias violentas ainda serão escritas?

Nos dois casos, as vítimas foram covardemente agredidas por defenderem o certo. Contrariando preconceitos, antes que alguém diga algo sobre desigualdades sociais e coisas do tipo, os vilões foram jovens de classe média.

Gente que recebeu o mínimo de condições para ter o essencial. Na verdade preciso reformular a frase, gente que no mínimo teve de tudo, menos o essencial: educação e respeito. Mas para quem realmente interessa a paz?

Enquanto violência for o mais lucrativo dos negócios, não há motivos para diminuí-la ou extinguí-la. Há? A violência, apesar dos pesares, movimenta bilhões e se auto sustenta. Fabrica-se uma arma e para se defender dessa única arma é necessário outra, e mais outra, e mais outra, etc.

Afinal, quantas fardas, munições, coturnos, armamentos, carros, blindagens, alarmes, grades, cameras, aviões, muros, guaritas, granadas, condecorações, tanques, coletes, seguranças, policias, prisões, exércitos e delegacias são necessárias para a eficácia da paz?

Paz é um pouco mais do que faixas e passeatas.
Paz é, antes de mais nada, aquele mínimo que disse acima: educação e respeito.

Paulo Miklos - A paz é inútil para a nós

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fazeres

Já me disseram muitas coisas. Já me disseram o que fazer, como fazer e onde fazer. Já me disseram até o que não deveria ser feito, mas algumas vezes não justificaram os motivos para isso.
Ignorei e fiz, porque precisava fazer; porque nada me impedia de fazê-lo. Ainda não sei o que me virá como resultado, mas tenho certeza de que se eu não tivesse feito nada, nada aconteceria.

Cássia Eller e Fábio Allman - Faça o quiser fazer