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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2012, o ano do amor

De 2012 só me recordo do amor. Tive ao meu lado um grande amor, principalmente quando perdi meu amor maior (minha mãe). Por isso só posso falar que esse foi um ano de amor. Amor em todos os tons, sons, gostos, texturas, aromas, calores, tamanhos e intensidades.

Mas se perdi minha mãe, como pode ter sido um ano de amor? Por todo o amor que recebi de volta. De quem esteve ao meu lado todos os dias, dando amor, compartilhando os choros e o colo aconchegante e seguro pra me refugiar; dos meus amigos que me consolaram e ajudaram; da minha família e principalmente do meu pai ao aprendermos a nos amar ainda mais. Pode parecer ridículo, mas também recebi de minha mãe. Sua partida deixou um universo de amor dentro de todos os que a amavam.

Termino o ano com uma lista de tristezas e perdas, mas outra de alegrias e realizações também. Nada irá substituir as ausências (em especial da minha mãe), mas devemos viver um dia por vez. Amanhã nascerá outro Sol, outro dia, outro mês, outro ano, outra chance de ser feliz mais uma vez.

Ultimamente não tenho estado na minha melhor condição mental e espiritual, por isso não vou me alongar no último post do ano. Não tenho muitas expectativas para 2013. Espero que seja um ano de saúde e paz. Que tenhamos coragem e força pra enfrentar o que está por vir e fé para não desistir.

Feliz 2013!

Maria Bethânia - Tocando em Frente

sábado, 29 de dezembro de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

E a vida continua...

Véspera de Natal, mas não será tão fácil e alegre comemorar por aqui. O dia amanhece dando sinais de que será triste e arrastado. Se fosse um outro feriado santo talvez seria uma sexta-feira da paixão. Mais do que presente em sua ausência, minha mãe tem estado em sonhos comigo. Não que sonhar seja ruim, o problema sempre esteve em acordar.

E despertar em datas assim, tão familiares, piora tudo e fica fimpossível não se lembrar dela. A imagino na cozinha preparando pratos para a ceia, ligando para as minhas tias, para a minha avó e me acordando para irmos comprar presentes e a batata palha, que sempre faltava.
Mas hoje não será assim... e preciso me acostumar. 


Não bastando minha dor, a ceia de hoje também será de luto para meus primos. Três meses antes da perda da minha mãe, eles perderam seu pai. Seremos quatro órfãos (eu, meu irmão e meus dois primos), dois viúvos (meu pai e minha tia) e meus avós chorando a perda de uma nora e um genro. Não teríamos ceia, mas apesar dos pesares celebraremos pelos que ainda estão aqui. Uma difícil e insuportável lição da vida, ela continua e não para por caprichos ou lutos de quem quer que seja.

Quero que cada um que ler isso entenda o dia de hoje como uma data para agradecer e se comemorar a vida, celebrar a família, os amores e principalmente se alegrar pela presença de cada um dos seus ao nosso lado. A mãe coruja, o tio chato, a cunhada bonita, o sobrinho levado, a namorada ciumenta, o irmão preguiçoso, a tia nojenta, o primo engraçado, o noivo esquecido, a avó religiosa, o avô animado...

A vida é tão curta. Leva quem amamos e nos deixa com a triste sensação de que devíamos e podíamos ter feito muito mais. Ter amado, vivido, dito uma centena de coisas, ter feito declarações de amor, ter deixado de lado as discussões e ter perdoado. Minha mãe se foi, mas o amor ficou aqui nos enfeites da casa, na saudade doída e nas boas lembranças que por vezes nos faz chorar, nos faz sorrir e esquecer que temos uma vida pela frente.


Não digo que seja fácil. A cada dia parece que piora, que a dor aumenta. Existe dentro de mim uma louca certeza de que minha mãe vai chegar de viagem a qualquer momento, mas infelizmente não vai ser assim. Se alguém também vive um luto, lembre-se que, mesmo nas tristezas e nos sofrimentos, não somos desamparados nem esquecidos por Deus. Por mais que algumas vezes a gente pense que Ele nos abandonou.

Feliz Natal!
Muita paz e luz pra todos nós.


Mart'nália - Benditas

sábado, 22 de dezembro de 2012

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Último post!?

Uma lista grande de coisas vêm me acontecendo desde o fim de Setembro. Tudo de ruim resolveu passar por mim e tirar um sarro do meu juízo. Perdas, derrotas, fracassos, tristezas, mágoas... que algumas vezes no meu dia não sei em qual delas pensar primeiro. É claro que o dia começa pelas ausências e pelo coração disparado, pensando em mais um dia vazio pela frente. O restante vem chegando conforme as horas passam e as atividades rotineiras vão nos lembrando de tudo o que nos falta.

Minha vida ainda não parou. Continua a saculejar pra lá e pra cá, revirando tudo e por vezes nem me dando tempo de respirar. Dizer sim no automático e depois me questionar, esquecer quase tudo que me dizem ou que deveria lembrar, lembrar da morte da minha mãe e surtar, dormir mal, passar um dia não tão melhor assim, não ter vontade de fazer nada, tomar remédios para tentar ficar sóbrio diante da vida e ainda me olhar no espelho e não me reconhecer.

Acho que a lição da temporada 2012 do seriado da minha vida tem a ver com sanidade mental, ou maturidade sentimental. Paciência, amor, saudade, raiva e tristeza nunca foram tão bem compreendidos e bem sentidos por mim (nos seus significados mais plenos). Hoje tento domá-los e dosá-los, mas na melhor das hipóteses tenho apenas conseguido perceber quão grandes e intensos são cada um desses sentimentos. Quão pequeno sou diante da destruição que esse furacão de sensações causa em minha vida.

O exercício diário de paciência tem sido uma lição na qual ando errando muito. A irritação exagerada por coisas tão medíocres que antes passariam por mim como pequenos divertimentos diários, mas que hoje parecem ofensas cruéis. Ou mesmo a vivência do amor em suas mais variadas vertentes, que me alimenta e me fortalece a cada novo dia. Amor companheiro, amor amigo, amor familiar e o amor paternal. Como é perturbador viver tantas coisas que se tornaram incontroláveis, enquanto também se vive outras tantas surpreendentes.

Por causa dessa inconstância, temo enlouquecer antes que termine cada novo dia. Em casa a ausência materna é tão presente que fere e acaba com tudo. A cachorra que passou dias sem comer, a TV que ninguém assiste, o marido que se escorou pelas paredes para não cair, a planta que morreu, o rádio que se calou, a mãe que quer morrer pra acompanhar a filha, a neta baleada, a sogra que não para de chorar e um filho quase a perder a fé em Deus.

Não sou nenhum doente terminal morrendo e sentindo dores que não passam mesmo medicadas. Não perdi tudo e todos de maneira violenta. Não estou a ver meus filhos morrerem de fome. Posso listar algumas dezenas de situações piores do que a minha, mas ninguém poderá dizer que não existe tanto sofrimento no que venho passando. Como já ouvi tantas vezes: Cada um sabe onde o calo aperta. E o meu calo aperta no peito, bem forte e pesado.

Falei tanto sobre a saudade aqui no blog, mas foi presunção minha pensar que a conhecia, ou que a havia sentido. Saudade não é falta, não é ausência, não é tristeza e não são lembranças. Saudade é tudo isso, duas vezes maior e pior. É uma dor fela da puta que não pára, aumenta, dilacera, queima, lateja e apenas nos adormece por alguns minutos em nosso dia para voltar maior no dia seguinte. Saudade é a dor da certeza de que você jamais terá aquilo de volta.

Há dias venho remoendo o fim do blog. Como um ruminante, guardo a ideia num canto qualquer e sempre que posso trago à tona para mastigar e tentar digerir. Por quê faria isso? Falta de leitores, falta de criatividade, falta de inspiração, falta de ânimo, falta de tesão... Não faltam motivos para encerrar meus devanios virtuais. Minha cabeça nunca esteve tão sobrecarregada como agora e minha alma nunca se sentiu tão pesada.

Esse texto, por exemplo, é, disparado, um dos piores postados aqui. Ele não segue uma linha de raciocínio e apenas traz um monte de informações jogadas ao acaso num desabafo de ideias e frustações. Os tempos de inspiração e textos "legíveis" se foram.

A impressão é de que o que ficou por aqui foi sofrimento, que traz impaciência, alimenta a raiva, motiva um choro, dói a cabeça, piora a gastrite e volta na saudade, que gera mais sofrimento, trazendo mais impaciência, alimentando outra vez a raiva, motivando novos choros, doendo a cabeça, atacando a gastrite e enlouquecendo enquanto se sente mais saudade, mais sofrimento, mais impaciência... mais solidão.

Zeca Baleiro e Margareth Menezes - Último post

sábado, 17 de novembro de 2012

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Momento Divaldo Franco


Se alguém pretende magoá-lo, e você não aceita a ofensa, ele não o conseguirá, por mais o tente.
Se outrem enunciou cruel calúnia para desmoralizá-lo, e ele mente, como é óbvio, você prosseguirá como antes.
Se alguma pessoa de temperamento áspero não simpatiza com você, e a sua é uma atitude de compreensão, de forma alguma você será afetado pelas suas vibrações negativas.
Se um amigo de largo tempo desertou da sua companhia, acusando-o injustamente, e você se encontra com a consciência tranquila, não prosseguirá a sós.
Se você foi acusado por perversidade ou inveja de alguém, e se permanece consciente da sua honorabilidade, nada mudará em sua vida.
Se você se vê a braços com inimigos ferrenhos, mas não revida o mal que lhe desejam, conseguirá expressiva vitória na sua marcha ascensional.
Se apupado e desrespeitado, você percebe que o fazem por despeito e sentimentos inferiores, não se detendo na torpe situação, você é um vencedor.
Se algumas criaturas demonstram desagrado ante a sua presença, e você consegue desculpá-las, a sua é a postura adequada.

* * *

Nunca tome para você as agressões dos outros, mesmo quando citado nominalmente.
A grande maioria dos indivíduos vê o seu próximo mediante a projeção dos próprios conflitos, e nem sequer dão-se conta da insensatez que os domina.
É fácil identificar nos outros ou transferir as próprias torpezas e insânias, raramente os tesouros das virtudes que escasseiam.
Mantenha-se em paz, não se considerando tão importante, que seja sempre motivo da agressão e da maldade dos outros.
Sempre haverá opositores e vítimas na sociedade.
Que você seja a tranquilidade de consciência a serviço do Bem libertador.
Se você assim proceder, o mal dos outros nunca lhe fará mal, mas o seu bem a todos fará muito bem.

(do espírito Marco Prisco, psicografado por Divaldo Franco)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Adeus - II

Meu corpo estava cansado ao extremo, emocional e psicologicamente pela perda de minha mãe e fisicamente pela noite em claro no aeroporto do Rio Grande do Norte e as pouco mais de duas horas de viagem. Um banho longo, um suco, uma fruta e estava "pronto" para seguir para o cemitério.

Não sei o que havia naquele dia. Se Sol, se chuva... de alguma forma cheguei lá e apenas recebi abraços e palavras de inúmeros amigos e familiares.Tantos rostos e vozes conhecidas e queridas apareceram naquele e nos dias seguintes. Por mais triste que fossem aqueles momentos, o alento daqueles que nos querem bem sempre será um conforto ao coração.

Amigos de longa data de minha mãe também vieram. Estiveram ali para se despedir. Não a vi, quis lembrar-me da última vez em que me despedi e viajei. Minha despedida foi 11 dias antes, mas dias depois do velório nada daquilo parecia ser verdade. Ainda tenho a certeza, mesmo hoje, que daqui dias ou horas ela voltará de alguma viagem.

Uma vizinha e amiga de minha mãe prestou ainda uma última homenagem. Durante o sepultamento puxou uma canção que ouvi algumas dezenas de vezes minha mãe cantarolar. Todos acompanharam, choraram e entenderam que aquilo que cantavam narrava a vida daquela de quem se despediam. Uma vida vivida sem vergonha de ser quem se era, de ser feliz...

Gonzaguinha - O que é, o que é

Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...


Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão

E a vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...

Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...

Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Momento Chico Xavier


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Adeus - I

Enquanto na TV homenagens eram prestadas a uma falecida apresentadora, cantora e atriz, eu já me encontrava triste sem saber ao menos o motivo. Coloquei minha mala sobre a cama e a fiz para voltar. Mesmo que ainda faltasse tanto tempo para retornar, quis (sem saber o motivo) deixar tudo pronto para minha volta.

Na rua, comprei a lembrança que faltava. Um quadro retratando a santa ceia, algo que minha mãe sonhara por tantos meses. Enfim, achei um que lhe agradaria. Peguei o celular para avisá-la, mas hesitei no último segundo. Que tal fazer uma surpresa? Desliguei e fui dar um passeio noturno à beira-mar, um último brinde e depois descansar. Ainda assim algo parecia estranho desde o sábado pela manhã.

O telefone toca, minha mãe!? Pelo adiantado da hora achei estranho, mas o que poderia ter acontecido? Com certeza ela me perguntaria sobre algo relativo à viagem e se alguém iria me buscar do aeroporto. Atendi brincando e perguntando o quê ela queria. Do outro lado meu irmão aos prantos me pergunta onde estou, me pede pra ser forte e avisa que nossa mãe havia desencarnado...

Não me lembro bem o que aconteceu depois disso. Com muita dificuldade e passado algum tempo cheguei ao hotel aos prantos, sentei na cama e rezei pela alma da minha mãe. Minutos depois enviei duas ou três mensagens e recebi dezenas de telefonemas e mensagens.

Outra vez minha memória falha e agora já estou a caminho do aeroporto. Perto da meia noite alguém me liga, mais choro, mais inércia, mais nada. Uma noite sentado, sob um ar condicionado me congelando e eu tremendo de medo. Não queria voltar, mas também sabia que fazia parte da vida enterrar meus mortos.

Já de volta à Brasília, meus primos me esperavam. Choramos, nos abraçamos e eu ainda parecia estar dormindo. Esperava acordar ou ver ao chegar sorrindo e me dizer que tudo não passou de uma brincadeira. Até agora estou esperando.

Em casa outra sessão de choros a cada novo abraço e desejo de me reconfortar. Me vi tentando reconfortar tantos, a começar pelos meus avós e pelo meu irmão deitado em minha cama, dopado pelos remédios de tarja preta e como se quisesse meu perdão, jurou ter feito de tudo para salvá-la.

A casa revirada e suja descrevia toda a tragédia ocorrida ali horas atrás. Talvez depois de tudo isso, meu pai tenha descreditado ainda mais que Deus possa existir. Não que ele precisasse de novos argumentos, isso ele têm de sobra, mas talvez agora ele tivesse motivos reais para descrer. Ao me ver, veio emocionado me abraçar. Não sei ao certo se foi eu quem o acalmou, ou se ele me deixou nervoso.

Não houveram despedidas, tudo repentino como ela queria que fosse sua partida. Mas tenho a certeza que nem mesmo ela queria que fosse tão doloroso para todos nós. Agora seríamos apenas nós dois (eu e meu pai) e toda falta que minha mãe deixou. Terceiro elemento que se faz muito mais presente e preenchedor de espaços dentro dos nossos dias daqui por diante.

Alcione e Maria Bethânia - Sem Mais Adeus

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Momento Adélia Prado

Tão bom aqui

Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui para rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
Tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestionamos elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
O de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
Em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
Alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
Refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
Eu nada sei de mim.


Texto extraído do livro “A duração do dia”, Ed. Record, 2010 - Rio de Janeiro (RJ), pág. 09.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Noites de Agosto

O vento forte correu por toda casa, bateu portas, abriu janelas, levantou a poeira e acordou a criança que chorou, mas ninguém quis niná-la. Assustado, correu para ver o que havia acontecido.

Logo o choro se foi e a pequena alma adormeceu, acarinhada por seu anjo da guarda (talvez). Observou da porta a criança se acalmando com o som das folhas da mangueira que corriam na calçada, embaixo da janela. No quarto ao lado, os outros nem se moviam. No chão a garrafa de cachaça indicava o motivo deles não terem acordado.

Lá fora o tempo revolto era ainda mais calmo que dentro de seu peito.

Como um vigia dos sonos juvenis, andava entre os lixos e os jovens deitados pelo piso sujo. Enquanto as camas vazias serviam de guarda-roupas para as vestes encardidas, a juventude estava jogada e embriagada.

Tudo estava fora do lugar. Copos descartáveis espalhados pelo chão, roupas arremessadas para fora do varal e o coração se apertava, na tentativa da fazer correr uma lágrima qualquer. Seguia a passos lentos com sua ronda, enquanto o vento continuava a correr.

A noite foi fria, longa e seca dentro e fora do coração acelerado. Pronto!, os olhos úmidos aliviavam o tempo seco e tudo lá dentro ficou um pouco mais desacelerado. Chorou, dormiu, sonhou e pela manhã conseguiu até cantar uma canção triste.

O Sol não nasceu, só o vento chegou trazendo as nuvens, na tentativa de estender a noite dia-a-fora. Fechando o casaco protegeu a garganta e ao longe uma luz avermelhada se esforçava para romper o horizonte e ultrapassar a parede espessa nublada.

Tudo era estranho. Nada fazia sentido. Em casa, dormiu de verdade e sonhou com o fim do mundo. Tomou alguns remédios, viu histórias tristes na tv e abriu a cortina para saber se o mundo ainda estava inteiro.

Adriana Calcanhoto - Metade

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Curto esse Curta!

Romeu e Julieta (Rómeó és Júlia)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Amanhã, talvez

Um corpo cansado que se levanta em meio a um temporal. Foi apenas um susto, era um sonho. Pesadelo, talvez. As mãos procuram pelos olhos pesados de sono e os esfregam para que o coração se acalme e possa crer que tudo não passou de uma divagação noturna.Os pés tateiam o chão buscando as sandálias gastas, mas o corpo teima em permanecer imóvel.


Em uma manhã fria onde nem mesmo os cachorros queriam latir e permaneciam encolhidos nos tapetes, nas entradas de suas residências, esperando sobras do café da manhã ou um afago qualquer. Não haviam motivações, nem razões, que o fizessem acreditar que sair dali fosse o melhor naquele dia.

A água gelada repelia ainda mais o despertar. Assim que seu rosto se molhou pareceu retomar a consciência. Reconheceu-se diante do espelho e notou as marcas do cansaço e das noites mal dormidas há quase um ano. Todos se despediam, saíam e a casa vazia era mais um motivo para que ele não entedesse por onde ia sua vida.

Lembrou-se do sonho. Salvou os seus, pensou que aquilo podia ser verdade. Que estivesse mesmo em meio ao caos em uma ilha qualquer. A tentativa era a de encontrar algo de interessante, mas o esforço da imaginação não superou a realidade dos seus dias enfadonhos.

A TV servia apenas para distrair os pensamentos, o rádio já não tocava nada que lhe agradasse e as pessoas, na tentativa de serem diferentes, se vestiam com as mesmas roupas e falavam das mesmas coisas.

O telefone toca e sua chefe tenta simpaticamente trazer explicações e uma falsa sensação de que "tudo foi resolvido". Ele apenas sorri, agradece e desliga o telefone sabendo que nada mudará. Sabendo que ninguém, além dele, realmente poderá mudar sua vida.

Queria gritar, mas não tinha o mínimo de vontade. Andou por toda a casa, olhou para a poeira sobre os móveis e o vento arrastando o lixo na rua, lá fora. Arastando os pés, voltou para o quarto e viu na cama o alento para aquele dia. Onde está o sentido das coisas? Se acomodou, virou-se, ajeitou a coberta e tentou retomar seus sonhos até que um dia melhor nascesse.

Lobão - Essa noite não


sexta-feira, 27 de julho de 2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Momento Divaldo Franco

Janela das Almas

O sentimento e a emoção normalmente se transformam em lentes que coam os acontecimentos,
dando-lhes cor e conotação próprias.

De acordo com a estrutura e o momento psicológico,
os fatos passam a ter a significação que nem sempre corresponde à realidade.

Quem se utiliza de óculos escuros, mesmo diante da claridade solar,
passa a ver o dia com menor intensidade de luz.

Variando a cor das lentes,
com tonalidade correspondente desfilarão diante dos olhos as cenas.

Na área do relacionamento humano,
também, as ocorrências assumem contornos de acordo com o estado de alma das pessoas envolvidas.

É urgente, portanto, a necessidade de conduzir os sentimentos,
de modo a equilibrar os fatos em relação com eles.

Uma atitude sensata é um abrir de janelas na alma,
a fim de bem observar os sucessos da vilegiatura humana.
De acordo com a dimensão e o tipo de abertura,
será possível observar a vida e vivê-la de forma agradável,
mesmo nos momentos mais difíceis.

Há quem abra janelas na alma para deixar que se externem as impressões negativas,
facultando a usança de lentes escuras, que a tudo sombreiam com o toque pessimista de censura e de reclamação.

Coloca, nas tuas janelas, o amor, a bondade, a compaixão, a ternura,
a fim de acompanhares o mundo e o seu séqüito de ocorrências.

O amor te facultará ampliar o círculo de afetividade,
abençoando os teus amigos com a cortesia, os estímulos encorajadores e a tranqüilidade.

A bondade irrigará de esperança os corações ressequidos pelos sofrimentos e as emoções despedaçadas pela aflição que se te acerquem.

O perdão constituirá a tua força revigoradora colocada a benefício do delinqüente, do mau, do alucinado, que te busquem.

A ternura espraiará o perfume reconfortante da tua afabilidade,
levantando os caídos e segurando os trôpegos,
de modo a impedir-lhes a queda, quando próximos de ti.

As janelas da alma são espaços felizes para que se espraie a luz,
e se realize a comunhão com o bem.

Colocando os santos óleos da afabilidade nas engrenagens da tua alma,
descerrarás as janelas fechadas dos teus sentimentos,
e a tua abençoada emoção se alongará,
afagando todos aqueles que se aproximem de ti,
proporcionando-lhes a amizade pura que se converterá em amor,
rico de bondade e de perdão,
a proclamarem chegada a hora de ternura entre os homens da Terra.


(do espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Fábrica de Pesadelos

Que o papel aceita de tudo, isso não é novidade. Aliás, escrito o mundo se torna tão bonito e perfeitinho que nos orgulhamos de nossa humanidade. Pode-se criar leis que ofereçam direitos e deveres sem se esquecer de ninguém. Nas linhas é possível erguer um país justo e igualitário e corrigir os desenganos que o tempo cometeu.

Pena que quando saímos do papel pouco se concretiza. Em especial a assistência social, tão bonita em sua normatização. Tão garantidora de direitos que pode comover o mais desavisado que lê-la, acreditando que o mundo a concretiza. A verdade por trás de tudo isso é que os governantes entendem o serviço social como uma mera forma de assistencialismo que devolve aos seus governos votos importantes a cada 4 anos.

Após quase um ano em um abrigo público constato o completo abandono do Estado e o reflexo sentido por mim, a frágil ponta da linha que liga excluídos adolescentes de rua ao governo. Uso excessivo de drogas, vandalismo, tráfico, roubos, violência gratuita, algumas vezes a tentativa de coagir a nós que tentamos garantir-lhes os mínimos direitos e tendo como único apoio do sistema a "metodologia" da Polícia Militar (inimiga número 1 dos jovens em situação de rua).

Meu local de trabalho (nas piores condições estruturais possíveis) se localiza, ironicamente, próximo a um belíssimo canteiro de obras. Um estádio que receberá nações e será palco de possíveis alegrias a cada país representado. Até por quê, no "país do futebol" é imprescindível garantir uma bela Copa do Mundo e mostrar a capacidade da nossa nação em receber as Olimpíadas em 2016.

Afinal, o que garante votos? Abrigos que cuidam de idosos, moradores de rua, mulheres com problemas mentais e crianças? Ou a distribuição de pão, leite e auxílios que incentivam famílias a terem mais e mais filhos sem se importar de maneira eficaz com o planejamento familiar e a melhora social? Quase ia me esquecendo, as famílias que recebem os auxílios são, em parte, as mesmas que por vários motivos vêem seus filhos se envolverem no crime, traficarem, morarem na rua, se drogarem e chegarem até abrigos iguais ao que trabalho.

Como nos alertou um colega de trabalho, ex-morador de rua, "menino de rua é igual onça, todo mundo defende, mas ninguém chega perto". No mais alto escalão da secretaria, promessas eternas de que tudo há de melhorar enquanto adolescentes são presos, mortos, traficam, são estuprados, viciados, agredidos, rejeitados, prostituídos e os servidores públicos que os assistem adoecem, são agredidos, ameaçados e com pouco mais de dois meses perdem todos os sonhos de que era possível mudar muitas vidas.

O sonho não é de todo em vão. Algumas poucas almas podem ser salvas, não por ajuda de um governo, mas por desejo de mudança do jovem. Como ovos de tartarugas enterrados na areia da praia, de cada mil, um consegue superar a natureza e sobreviver.

Natiruts e GOG - Quem Planta Preconceito

quarta-feira, 13 de junho de 2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Inferno Astral

Tantas coisas aconteceram nos últimos dias que por alguns minutos cheguei a acreditar que haveria mesmo o tal do inferno astral. Período de um mês que antecede o aniversário, correspondente na astrologia ao signo anterior de cada um, em que estamos propícios a passar por problemas e acontecimentos ruins.

Existe um certo exagero em pensar que somente um mês antes do nosso aniversário coisas ruins nos ocorram. Algumas fatalidades já estão fadadas a ocorrerem tendo cada um de nós aniversariado, ou não. Ninguém morre, adoece, passa por dificuldades financeiras, termina relacionamentos ou perde o emprego apenas porque daqui um mês ficará mais velho.

Tudo na natureza passa por ciclos. Momentos em nossas vidas onde vivemos um processo de mudança de hábitos para uma melhora. Fatos que nos trazem a maturidade e o crescimento pessoal e espiritual. Mudar, crescer e melhorar, em hipótese alguma será um inferno ou tormento.

Verdade seja dita, quase que todas as vezes, nossas mudanças ocorrem depois de muita aflição. Não por castigo divino, mas porque não somos capazes de mudar de outra forma. Somente as perdas e as atribulações nos chamam para a realidade e a análise de situações que precisam ser mudadas.

Em uma época tão plugada e tecnológica vejamos esses momentos como aqueles em que nosso software pede uma atualização. Só que essa "atualização" não rola apenas em períodos pré-estabelecidos (o que seria, de certa forma, uma boa saber quando passaríamos dificuldades e nos prepararmos).

Quando estamos bem acomodados e despreocupados demais é que os turbilhões surgem. Nada permanece o mesmo, por isso precisamos mudar de tempos em tempos. Como postei anteriormente, vida é feito água. E água quando é da boa um dia já foi, sólida ou gasosa.

Caetano Veloso - Como 2 e 2

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Salmos

Salmo 11

1 No Senhor confio. Como, pois, me dizeis: Foge para o monte, como um pássaro?
2 Pois eis que os ímpios armam o arco, põem a sua flecha na corda, para atirarem, às ocultas, aos retos de coração.
3 Quando os fundamentos são destruídos, que pode fazer o justo?
4 O Senhor está no seu santo templo, o trono do Senhor está nos céus; os seus olhos contemplam, as suas pálpebras provam os filhos dos homens.
5 O Senhor prova o justo e o ímpio; a sua alma odeia ao que ama a violência.
6 Sobre os ímpios fará chover brasas de fogo e enxofre; um vento abrasador será a porção do seu copo.
7 Porque o Senhor é justo; ele ama a justiça; os retos, pois, verão o seu rosto.

Cid Moreira - Salmo 11

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Momento Chico Xavier

Paciência e nós

Quando as dificuldades atingem o apogeu, induzindo os companheiros mais valorosos a desertarem da luta pelo estabelecimento das boas obras, e prossegues sob o peso da responsabilidade que elas acarretam, na convicção de que não nos cabe descrer da vitória final...

Quando os problemas se multiplicam na estrada, pela invigilância dos próprios amigos, e te manténs, sem revolta, nas realizações edificantes a que te consagras...

Quando a injúria te espanca o nome, procurando desmantelar-te o trabalho, e continuas fiel às obrigações que abraçaste, sem atrasar o serviço com justificações ociosas...

Quando tentações e perturbações te ameaçam as horas, tumultuando-te os passos, e caminhas à frente, sem reclamações e sem queixas...

Quando te é lícito largar aos ombros de outrem a carga de atribuições sacrificiais que te assinala a existência, e não te afastas do serviço a fazer, entendendo que nenhum esforço é demais em favor do próximo...

Quando podes censurar e não censuras, exigir e não exiges...

Então, terás levantado a fortaleza da paciência no reino da própria alma.

Nem sempre passividade significa resignação construtiva.

Raramente pode alguém demonstrar conformidade, quando se encontre sob os constrangimentos da provação.

Paciência, em verdade, é perseverar na edifi-cação do bem, a despeito das arremetidas do mal, e prosseguir corajosamente cooperando com ela e junto dela, quando nos seja mais fácil desistir.

(do espírito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier)

Lenine - Paciência

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A inocência é a nova vítima da violência

Duas crianças no quintal resolvem brincar que são apresentadores de um telejornal. Ajeitam a mesa e se sentam cobrando "postura" uma da outra. Ambas desejam boa tarde aos seus telespectadores imaginários e começam a improvisar/noticiar os fatos do dia.

"Um homem atropela e mata uma mulher com uma criança nos braços. Outro homem assalta uma loja. Uma mulher mata uma pessoa...". Tragédia após tragédia, as notícias são dadas naturalmente ao "público".

Nada de boas notícias na "pauta" dos pequenos âncoras? A fantasia resolve então entrar na brincadeira e um lobisomem surge, após atacar e matar algumas pessoas em uma fazenda. Quebrando o clima de tragédia e sangue, surge uma notícia de forte chuva que causará alagamentos em várias partes da cidade.

Alguns erros são cometidos pelas crianças e logo elas recomeçam a apresentação, detalhando e "melhorando" cada vez mais as tragédias anunciadas anteriormente. O telejornal é interrompido para que eles possam ir ao colégio.

Enquanto isso, na tv, as notícias reais são apresentadas à população. Assaltos, crimes, denúncias de abusos de crianças, problemas nos hospitais, muito choro e desespero por parte de alguns entrevistados. Apenas a previsão do tempo pareceu ser melhor que a noticiada pelas crianças.

E agora, com qual dos "telejornais" eu ficarei? Só nos restaram as péssimas notícias? Por quê as crianças noticiaram tantas tragédias e coisas ruins? O que nossas crianças esperam do futuro? Ainda haverá futuro para a inocência?

Casuarina e Roberto Silva - Jornal da Morte (uma edição extra)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Já comprou o presente da sua mãe?

Domingo comemora-se o Dia das Mães. Data em que normalmente a família se reúne para um almoço de confraternização e distribuição de presentes. Afinal, existe data mais oportuna para presentear a quem se ama?

O Boticário - Dia das Mães


A data é, como todas as outras, mais um período de promoções e altas vendas para o comércio. Por quê precisamos, para sermos bons filhos, presentear nossas mães? Porque família feliz é aquela em que a mãe recebe lindos presentes de seus filhos!

Ponto Frio - Dia das Mães


Crianças correndo pela casa e entregando o presente para a mãe, sorridente e satisfeita. Ou até mesmo a mãe que pede ao filho que não a presenteie, mas desobediente ele vai até a loja e aproveita a promoção para fazer sua mãe feliz. Será disso que nossas mães precisam?

Ricardo Eletro - Dia das Mães


Claro que hoje essa indução ao consumo se dá de maneira mais sutil. Deseja-se um bom dia às mamães e depois mostra-se o nome da empresa que está sendo tão "carinhosa". Coincidência ou não, aquela marca vem como lembrança ao filho que quer ser tão bom quanto o do comercial e fazer o dia de sua mãe verdadeiramente especial.

Casas Bahia - Dia das Mães


Coca-Cola - Dia das Mães

terça-feira, 8 de maio de 2012

sexta-feira, 27 de abril de 2012

terça-feira, 17 de abril de 2012

Momento Fernando Pessoa

O vídeo abaixo é um trecho da novela O Clone, exibida pela rede Globo. O personagem, vivido pelo ator Osmar Prado, era um alcóolatra e durante uma discussão com o patrão, Reginaldo Faria, recita um poema de Fernando Pessoa.

Osmar Prado - Poema em Linha Reta (Fernando Pessoa)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Mea culpa

O que alimenta tanto o ódio e a vingança em cada um de nós? Por que acreditar que o mal ao outro aliviará o orgulho ferido e o sentimento ruim alimentado dentro de nós? Canceriano, as lembranças são personagens principais em minha vida. Coincidência ou não, vivo a remoer mágoas e suspirar nostálgico.

De tudo isso nada me acrescentou. Em especial, no caso do auto-envenenamento de mágoas. Coração acelerado, imunidade baixa, enxaqueca, falta de apetite e dores estomacais fracas, mas incômodas. Resultado? Um adoecimento leve e a certeza de que me fiz muito mal com tudo o que aconteceu. O mal apenas se alimenta e se torna um tumor maligno que me mata aos poucos.

E se eu tivesse coragem o suficiente para me levantar, ir até quem me magoou (e também magoei) e pedir perdão? Exatamente, me falta coragem. O nobre e valoroso sentimento só nos explode no peito, muitas vezes, quando é para ofendermos alguém. Só somos corajosos para xingarmos em voz alta, humilharmos, ofendermos, agredirmos e rirmos.

Covarde, seguimos nos dando desculpas quaisquer para não fazermos o correto. Mesmo reconhecendo o que fazer, ainda não sou capaz de fazê-lo. Escrever tudo isso talvez não baste para me mobilizar a agir a favor do bem. Um bem que é muito mais para mim do que para outra pessoa.

Tendo assim um motivo mais do que suficiente para me redimir, mas não consigo, não me permito. Provavelmente seja, assim como é pra muitos, errado eu me mobilizar quando fui eu o ofendido. E ao me repetir isso a palavra orgulho se torna clara e ganha significado pleno. Percebemos o erro, reconhecemos, confirmamos a necessidade de fazer algo, mas negamos por vaidade.

Percebo então quanto sou vil, fútil e vulgar. Diferente da imagem de cara bom e correto, que meu egocentrismo sussurrou por tanto tempo ao pé do meu ouvido. Sussurrado, para que ninguém ouça e possa me alertar sobre a realidade. Tentando me fazer acreditar que eu seria um ser humano especial e iluminado.


Deixo aqui o relato de um homem fracassado e o pedido para que ao menos um leitor faça diferente, faça melhor, faça o certo. Mas acreditem, sigo tentando (ainda que timidamente) na esperança de que um dia possa fazer tudo isso que é o certo. O primeiro passo foi dado, reconhecer o quanto falho e errado posso ser.

Caetano Veloso e Jorge Mautner - Eu não peço desculpa

sexta-feira, 30 de março de 2012

terça-feira, 27 de março de 2012

Miseravelmente miseráveis

Quanto custa a bolsa de grife? O tênis de marca? O casaco importado? A bicicleta do vizinho? O carro vermelho italiano? O colar de diamantes? Os anéis de ouro? A calça da moda? O tablet de última geração? O celular sem teclado? A mansão na beira da praia?

Quantos dígitos são necessários para ter tudo isso?

Objeto de desejo de milhões, mundo a fora. Cada um dos poucos ítens citados acima trazem muito mais do que facilidade e utilidade. Eles carregam outros valores (além do financeiro) que fazem deles tão cobiçados, caros e especiais.

Quanto custa um copo d'água? Um prato de comida? Um par de chinelos? Uma camisa? Uma bermuda? Uma coberta? Uma cama? Uma casa de dois ou três cômodos? Uma escola? Um caderno? Um lápis? Um óculos? Uma cadeira de rodas? Um remédio?

O trivial, o ordinário, o comum, o rotineiro, precisa de quantas moedas para ser obtido?

A maioria, ou talvez todos nós, não sabemos o valor exato dessa segunda lista. Da primeira é bem provável que, se não soubermos tudo, tenhamos cerca de 95% dos preços gravados. Até mesmo acompanhando suas variações, por meses, na expectativa de que um dia caibam em nossos orçamentos.

Valores a parte, qual das duas listas é a mais importante? Qual é o fundamental e merece, de fato, ter um valor exorbitante agregado ao seu preço?

Para cada novo tablet vendido, milhões de crianças deixam de ir à escola todos os dias. Para cada bolsa cravejada de brilhantes, bordada com fios de ouro e recoberta com a seda da mais alta qualidade, centenas de milhares de famílias estão debaixos de viadutos, árvores, pontes ou jogadas em calçadas. Para cada prato refinado e exótico, temperado com ervas finas cultivadas em remotas regiões do planeta e preparado por um renomado chef, milhões morrem de fome e sede.

E daí? Todos sabemos disso, mas não nos damos conta quando estamos na fila com cada um dos ítens citados nas mãos, depois de meses, ou semanas, de economia.

O que nos difere dos miseráveis? Ambos queremos objetos valorosos, mas que não estão ao nosso alcance. Nós por luxo, eles por necessidade, desespero talvez. Somos igualmente miseráveis, mas em graus e escalas diferentes. Os mais debochados me dirão que a nossa miséria é evoluída, mas infelizmente ela é uma miséria mais miserável ainda. É quando o básico vira fútil e o dispensável se torna essencial.

Enquanto isso, vivemos como se nada acontecesse do lado de fora dos muros com cerca eletrificada e câmeras de vigilância. Mesmo vendo e sentindo a violência bater à nossa porta todos os dias.

Na verdade queremos ser as madames chiques do reality show da tv, que acham tudo uma loucura e brindam com suas taças de cristal às nove da manhã. Queremos ser os filhos do bilionário que têm um carro que ninguém mais no país tem e que vão a uma delegacia com cinco seguranças (dentro de outro carro importado) explicar que não tiveram culpa em atropelar e matar um ciclista.

O que nos sobra, nos faz falta, porque é essa "aparente sobra" que nos fará chegar lá em cima. Já para quem quer apenas sobreviver, o que nos sobra lhes faz tanta falta que muitas vezes eles morrem esperando que alguma ajuda venha.

Agora pergunto a todos, me incluíndo aí também: - Você mataria alguém para ter algum dos primeiros objetos citados lá em cima? Não!, todos responderemos (espero). Mas o quê temos feito para salvar essas vidas que se perdem a espera daquilo que nos sobra?

... , responderemos.

Engenheiros do Hawaii - Terra de Gigantes/Números


segunda-feira, 26 de março de 2012

Água Vida!

Das incertezas que a vida me trouxe, nunca havia pensado que tudo nessa vida é uma grande incerteza. Sem verdades plenas, certezas absolutas, repostas inquestionáveis ou soluções definitivas, vida é uma inconstante feito a maré.

Ah, como seria bom se tudo tivesse uma imutalidade, ou imobilidade eterna. Sem surpresas, sustos, ou imprevistos. Olhar para frente, para o futuro, e poder enxergar toda uma vida encaixada perfeitamente sabendo, do começo ao fim, tudo o que ela iria nos oferecer.

Ai, como isso seria um pé no saco também. Tudo quadradinho, sem friozinho na barriga, sem gargalhadas, sem lágrimas. Olhar para trás, para o passado, e perceber que se viveu conforme milhões de escolhas feitas a cada momento vivido, planejando a cada instante o "por vir".

Só que vida é água que corre por onde a natureza permite. Entra por frestas, escorre por entre os dedos e mostra a sutileza e a beleza de estar presente em todo lugar. Se adaptando à tudo, ela é flexível, ela apenas faz o que tem de fazer, flui.

Segue o fluxo, mas quando é oprimida pelas margens não cabe em si, transborda e busca sua rota. Quando já foi devastada ela derruba barrancos, invade lares, arrasta tudo o que a quiser conter para mostrar sua força contra a violência e a destruição.

Água é vida para quem morre de sede. Vida é água para quem morre cedo. Porque precisa ser como tiver de ser, no frio é quente, no calor é gelada. Antes gelo, que conforme esquenta derrete e liquidifica fazendo sua forma e ganhando vida. No final, assim como a morte, termina seu ciclo, evapora e some.

O Teatro Mágico - Camarada D'água

terça-feira, 20 de março de 2012

Amor, por toda a vida

Elegante, educada, com gestos sutis e um olhar que, ao mesmo tempo, estava atento a todos ao seu redor e também estava distante. Seus cabelos grisalhos, curtos e bem penteados deixavam à mostra os pequenos brincos. Com seus quase 70, ela chegou sem muito alarde, mas todos no bar a olharam. Parecia ser um absurdo ver uma senhora ali, aquela hora.

Sentou, sorriu para a garçonete e quase que sussurando fez seu pedido, seguido por alguma explicação. Pouco tempo depois sua bebida veio, seguindo suas exigências. Ao longo das duas horas em que permaneceu ali sentada e quieta bebeu mais dois outros daquele.

O cantor continuava com seu repertório e o restante dos clientes parecia já não mais se espantar com a presença da senhora. Ao seu redor as outras mesas voltavam ao normal, as amigas solteiras de meia idade que flertavam com o cinquentão sentado no canto, os dois casais discutindo sobre a vida a dois e as lembranças da adolescência e um grupo de jovens sentados próximos à senhora.

Pegou sua bolsa na cadeira ao lado, colocou na mesa e pacientemente procurou por algo. Não retirou nada de lá de dentro, parecia apenas empurar os pertences para um lado e para o outro enquanto buscava o que tanto queria. Retirou um batom e um espelho pequeno para retocar a maquiagem. Pintou os lábios e guardou tudo dentro da bolsa. Revirou mais um pouco e retirou uma espécie de porta moedas lá de dentro, onde estava uma aliança. Colocou em sua mão esquerda, como se precisasse lembrar, ou avisar para alguém de que era casada.

Chamou a garçonete e, mais uma vez, fez um pedido. A moça foi então até o palco, onde o cantor havia feito uma pausa e procurava por canções em suas pasta. Conversaram e sorrindo ele olhou para a senhora e a chamou com as mãos. Levantou-se e segurou-a pelas mãos para ajudá-la a subir o pequeno degrau.

Sentou-se ajeitando o vestido, enquanto o cantor ajustava o microfone. Ela perguntou se poderia segurá-lo e ele a entregou. De olhos baixos, parecia olhar para a aliança reluzente, como se tivesse acabado de sair de alguma vitrine. Levantou o rosto e começou a cantar.

No final, chorando, levantou-se sob os aplausos de todos ali. Agradeceu com um aceno e um sorriso, sentou, pagou sua bebida e foi embora levando os mesmos olhares que antes a culpavam, e agora pareciam admirá-la.

Tom Jobim e Gal Costa - Eu sei que vou te amar


sexta-feira, 16 de março de 2012

sexta-feira, 2 de março de 2012

Curto esse Curta!

A short love store

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Momento Guimarães Rosa

"O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita."

"Saudade é ser, depois de ter."

"O amor é sede depois de se ter bem bebido."

"Esperar é reconhecer-se incompleto."

"Infelicidade é questão de prefixo."

"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muitos vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens."

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Dias Passados

Chovia tanto que a entrada do seu prédio estava inundada. O porteiro brigava contra a água, tendo apenas um velho rodo de madeira (escuro, talvez podre) como "arma". De botas, sobretudo e com o guarda-chuva nas mãos, ela atravessou o hall sem nem perceber o que acontecia.

Sorria para os vizinhos, mas para o porteiro é que mostrou um sorriso de verdade. Segurou a porta com o pé direito, enquanto abria o guarda-chuva. Seguiu pela rua sem se dar conta do temporal. Parecia desfilar, parecia querer mostrar ao mundo que estava de volta.

Percorreu caminhos que há tempos não ousava ir. Não por medo da violência nas grandes cidades, nem por insegurança ou qualquer motivo banal. Para preservar seu bem-estar, ela se poupou de possíveis ataques que suas lembranças lhe pudessem fazer. Em cada esquina havia um bom motivo para se sentir mal.

Evitar foi, antes de tudo, se preservar. Precisou de um tempo, de uma clausura, até que pudesse enfrentar tudo lá fora. Não que isso mudasse tudo que estava dentro, mas foi melhor assim. Ela caminhava mais segura, mais forte. Ainda abalada, mas seguia.

Se aproximando do semáforo, o tempo foi se abrindo. O dia lhe brindava com um sol radiante. Enquanto abaixava e fechava o guarda-chuva viu o fantasma que tanto lhe assustava do outro lado da rua. Sorrindente, acompanhado por alguns amigos, foi só na metade da faixa que ele percebeu que ela estava ali.

Ela ficou imóvel, sem entender o encontro que o destino lhe providenciava. Sem jeito, ele cogitou conversar e até cumprimentá-la, mas não ousou fazê-lo. Passou acompanhando-a com o olhar. O suficiente para ver a lágrima que escorria no canto do olho esquerdo. De longe ele ainda a observava, talvez também tenha chorado por remorso de tudo o que fez e deixou de fazer.

Tentou seguir, mas a busina a alertou para o sinal já fechado para os pedestres. Ela abaixou o rosto, enxugou as lágrimas e quando pôde atravessou e seguiu seu caminho sem olhar para o passado. Cumpriu mais uma etapa em sua vida, ou não.

Nando Reis - Ainda não passou


domingo, 26 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Lembranças de uma vida inteira

Parado em frente ao espelho, olhou seu rosto pela última vez. Tentava lembrar como era há 50 anos. Não foi capaz. Não sabia se por causa das rugas, ou por causa da memória que não ajudava, só sabia que não conseguia lembrar da juventude.

Lembrou-se das histórisa, mas não se enxergava jovem. A cicatriz, próxima da sombrancelha direita, foi feita quando uma telha caiu sobre seu rosto enquanto ajudava a companheira. De olhos fechados, com a ponta dos dedos tocou a marca e recordou do dia em que seu grande amor morreu.

Lavando o rosto tentou encobrir as lágrimas que escaparam rapidamente. Secou a testa, olhos, bochechas, boca, queixo... esquecera porque estava chorando. Refletido no espelho, no corredor paralelo à porta do banheiro, viu uma dezena de fotos.

Seus avós jovens, seus sobrinhos, irmãos, primos e a foto da sua cachorra (da época da sua adolescência) ao seu lado. Surgiu então um sorriso. Ele se reconheceu, reavivou a memória tão traidora e frágil. Apoiando-se nas paredes parou em frente ao seu passado. Todos estavam ali, sorridentes, convidando-o para reviver toda a sua vida.

Em passos lentos, chegou até a janela e se debruçou sobre as lembranças. A paisagem não era a mesma de quando foi fotografado. Apenas o morro permanecia ali, também marcado pelo tempo. Dois senhores do tempo se enfrentando. Cada um com suas marcas, suas dores, suas histórias escritas em algum lugar.

Deitou em sua cama e lembrou do avô que também morreu deitado, nos braços de sua tia. Mas não havia braços, nem colo para ele. Os parentes que ainda possuía eram jovens demais para se preocupar com ele. Aqueles que o amavam já tinha partido muito antes de sua memória se esvaziar.

E todos esses, os que o amavam, foram surgindo ao seu redor. Sorriu por ver que a memória estava viva, outra vez. Ouviu então a voz de todos, o cheiro da comida de sua mãe, os latidos da cachorra, os risos da infância, os gritos do pai o chamando, as orações da avó, o sorriso do avô, a tia cantando ao longe, os carinhos da esposa, as brigas com os irmãos e o rádio ligado na varanda.

Viu que havia um jovem segurando sua mão, era ele com seus vinte e poucos anos: cabelos longos e sorridente. Retribuiu o sorriso para sua juventude, para sua vida cheia de sorrisos. Os olhos então fecharam-se involuntariamente. Como se estivessem pesados pelo sono, descansaram. O rosto ficou sereno, algumas rugas desapareceram e aos poucos foi rejuvenescendo. Não tinha dor, não tinha medo, não tinha mais nada com o quê se preocupar.


Rita Lee - Minha Vida

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cinzas de uma quarta-feria

O dia amanheceu cinza. Não sei em qual porcentagem, em qual escala, mas era cinza como deveria ser. Enquanto eu queria o mais rápido possível voltar para casa, contraditório, diminuía a velocidade do carro. Havia desânimo não apenas lá fora, mas também aqui dentro.

Sem meus óculos de sol, encarei a manhã de cara limpa. Desmotivado pela sua pobre coloração, olhei o dia sem filtrar a luz que acinzentava ainda mais o universo ao meu redor. Cinza lá fora, a alegria do carnaval também se descoloria dentro do meu carro, preto. Minha roupa, variando apenas entre o branco e preto se fez um uniforme ideal para a quarta-feira.

As senhoras, fiéis, caminhavam rumo ao templo. Cumpriam suas obrigações, deixavam Deus feliz com sua silenciosa caminhada de fé. Eu, talvez infiel demais, queria apenas o escuro do meu quarto. Passava descrente por aquela procissão. Indo no sentido contrário, compartilhava com elas do silêncio.

Minha vó, talvez a mais disposta e feliz das fiéis, (quase que intencionalmente) escolheu o vestuário mais cinza de seu armário. Ela também entrou na caminhada e me convidou para seguir rumo ao altar. Dispensei a demonstração de fé, sacramentada com uma cruz na testa, feita com as cinzas do que sobrou da alegria do carnaval.

Sem som, sem tom, a quarta amanheceu para quem acreditasse, ou não, que ela poderia ser boa.

Elis Regina - Marcha da Quarta-Feira de Cinzas

Momento Fabrício Carpinejar

RETRATO FALADO DO MENTIROSO

Como sabemos que o homem está mentindo?

- O mentiroso é detalhista, responde aquilo que não foi perguntado, está tentando se convencer da história, perde-se em pormenores e curvas desnecessárias.
- O mentiroso fica romântico fora de hora, generoso de repente.
- O mentiroso baixa os olhos de vergonha e fala para os lados.
- O mentiroso somente desmente uma história quando há uma mentira maior para esconder.
- O mentiroso pede desculpa fácil (não se importa mesmo com aquilo que diz).
- O mentiroso ri de nervoso, ri antes da piada.
- O mentiroso é ambicioso: deseja uma mentira maior do que a anterior. Ele tropeça em seu próprio sucesso.

- O mentiroso nunca é evasivo, sempre tem certezas.
- O mentiroso se julga melhor do que os outros. Pensa que sairá impune, que ninguém é capaz de descobrir suas artimanhas.
- O mentiroso inventa tudo (que é um erro, o certo é contar algo falso a partir de algo verdadeiro).

- O mentiroso, tão preocupado consigo, não conversa. É um monólogo.
- O mentiroso sempre está se favorecendo com a trama, ou é a vítima ou é o azarado. Não há mentira que prejudique seu autor.
- O mentiroso acredita que escutar é acreditar e vai falando sem questionar nada.
- O mentiroso põe a culpa pelos atrasos nos amigos. Mas esquece de avisar os amigos.

E a mulher? O que ela faz?

Quando a mulher mente, conta a verdade. Como se fosse uma brincadeira.

Fonte: http://carpinejar.blogspot.com

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Pensamentos para a morte

Uma notícia sobre a morte de dois jovens em minha cidade me deixou preocupado. Não os conhecia, talvez um deles eu saiba quem seja, mas apenas de vista. Se for de fato quem penso que seja, já o vi uma dúzia de vezes em festas, ou pelas ruas da cidade. Mas acredito que minha preocupação tenha a ver com a forma como eles morreram, ou até mesmo por serem jovens.

Pensei em mim, jovem ainda e motorista, que também faz o mesmo trajeto e que, volta e meia, acelera para chegar logo em casa. Me aliviei por não ser dependente das drogas para ter uma noite divertida, o que quase sempre é um agravante em acidentes de trânsito. Diria até mais, é um fator decisivo em acidentes de trânsito, de madrugada, nos fins de semana.

Na mesma noite Whitney Houston também morreu. Afogada, devido os calmantes, ou pela mistura dos remédios com o álcool? Ficam as perguntas a serem respondidas daqui semanas. Independente das coincidências e diferenças que possam haver entre os dois casos, sei que são acontecimentos assim que nos alertam para a vida. Quanto a colocamos em risco? Quanto a desperdiçamos, a desafiamos, ou mesmo a desprezamos?

Pra piorar minha tensão, reparei que ultimamente há um certo tom de despedida em meu discurso. “Pronto, meu nome tá no topo da lista”, pensei deitado em minha cama. E se houver de fato uma premonição nisso tudo?, tratei logo de levantar e pegar o laptop pra rascunhar qualquer texto que se torne póstumo. Até mesmo uma ligeira pontada no coração que volta e meia acontece, resolveu dar as caras hoje.

Logo me veio a pergunta: Como você quer morrer? A resposta óbvia é, “não quero morrer de jeito nenhum”. Mas entre tantas terríveis e possíveis maneiras que cabem à morte, acho que a escolha seria pela maneira menos dolorida e angustiante, como qualquer um escolheria se fosse possível.

Pronto, escolhida a maneira. Agora precisaria definir a data. Isso seria algo indefinido pra qualquer um. Nos momentos de raiva, ou tristeza já quis a morte, então essa data sofreria constantes mudanças só por isso. Uma escolha razoavelmente interessante seria da morte logo após o nascimento, para não ter raciocínio nem expectativas quaisquer sobre a vida. Mas como disse acima que não queria passar por este momento, optaria por nunca morrer. Enfim, tendo de definir prazos iria querer o mais distante possível.

Tentei pensar em mais coisas para me questionar e depois de muito tempo me veio a palavra, Onde. Nunca havia pensado em local para morrer. Deitado em minha cama? Talvez fosse melhor vendo o pôr-do-sol, na beira da praia, numa cachoeira, em um belo bosque, no jardim, na rede sob a sombra de uma árvore... comecei a imaginar tantos lugares que de repente me vi sorridente e criando expectativas sobre minha morte.

O que levaria comigo? Outro sorriso veio, seguido por uma gargalhada. Tantas histórias surgiram, tantas pessoas, tantos cheiros, gostos, cores..., mas levaria apenas as lembranças. E só de lembrar já me trazia uma felicidade imensa de ter vivido boas histórias em minha vida.

O trágico deu lugar ao lúdico. Tornar a morte bela foi só uma questão de pergunta. Me dei conta que mesmo a morte tem lá suas coisas boas. Se é que podemos ver dessa maneira. E para acabar com toda alegria me perguntei: Quem eu queria ver antes de morrer? O nó na garganta trouxe alguns nomes à cabeça, mas dizer um apenas seria injustiça. Preferi optar por Deus. Acho que vê-Lo seria, antes de mais nada, um bom sinal.

Legião Urbana - Música Ambiente

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A quem interessa a paz?

Nos últimos dias, jovens que tentaram evitar crimes foram vítimas da violência. Um espancado por defender um morador de rua, outro também espancado, mas até a morte, por tentar evitar o furto do veículo de um amigo. Quantas histórias violentas ainda serão escritas?

Nos dois casos, as vítimas foram covardemente agredidas por defenderem o certo. Contrariando preconceitos, antes que alguém diga algo sobre desigualdades sociais e coisas do tipo, os vilões foram jovens de classe média.

Gente que recebeu o mínimo de condições para ter o essencial. Na verdade preciso reformular a frase, gente que no mínimo teve de tudo, menos o essencial: educação e respeito. Mas para quem realmente interessa a paz?

Enquanto violência for o mais lucrativo dos negócios, não há motivos para diminuí-la ou extinguí-la. Há? A violência, apesar dos pesares, movimenta bilhões e se auto sustenta. Fabrica-se uma arma e para se defender dessa única arma é necessário outra, e mais outra, e mais outra, etc.

Afinal, quantas fardas, munições, coturnos, armamentos, carros, blindagens, alarmes, grades, cameras, aviões, muros, guaritas, granadas, condecorações, tanques, coletes, seguranças, policias, prisões, exércitos e delegacias são necessárias para a eficácia da paz?

Paz é um pouco mais do que faixas e passeatas.
Paz é, antes de mais nada, aquele mínimo que disse acima: educação e respeito.

Paulo Miklos - A paz é inútil para a nós

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fazeres

Já me disseram muitas coisas. Já me disseram o que fazer, como fazer e onde fazer. Já me disseram até o que não deveria ser feito, mas algumas vezes não justificaram os motivos para isso.
Ignorei e fiz, porque precisava fazer; porque nada me impedia de fazê-lo. Ainda não sei o que me virá como resultado, mas tenho certeza de que se eu não tivesse feito nada, nada aconteceria.

Cássia Eller e Fábio Allman - Faça o quiser fazer

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Salmos

Salmo 13

1. Até quando te esquecerás de mim, SENHOR? Para sempre? Até quando esconderás de mim o teu rosto?

2. Até quando consultarei com a minha alma, tendo tristeza no meu coração cada dia? Até quando se exaltará sobre mim o meu inimigo?

3. Atende-me, ouve-me, ó SENHOR meu Deus; ilumina os meus olhos para que eu não adormeça na morte;

4. Para que o meu inimigo não diga: Prevaleci contra ele; e os meus adversários não se alegrem, vindo eu a vacilar.

5. Mas eu confio na tua benignidade; na tua salvação se alegrará o meu coração.

6. Cantarei ao SENHOR, porquanto me tem feito muito bem.

Curto esse curta!

A maior flor do mundo

domingo, 29 de janeiro de 2012

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Últimos capítulos sobre a história do amor

De repente o amor se perde. Resolve se esconder e leva aquele friozinho na barriga, aquela ânsia por um telefonema, pelo horário em que se vai encontrar a pessoa amada.

Parece loucura, mas um dia tudo some. Você se questiona, tenta, tenta, tenta e percebe que de fato aquelas reações todas já não existem.

No primeiro momento vem a culpa, a dúvida, o medo de sair da zona de conforto e voltar à estaca zero. Então você resolve fingir que tudo está igual como era antes.

No momento seguinte vem a impaciência. Os defeitos tornam-se incômodos, deixam de ter a ternura de antes e viram uma espécie de dor de cabeça chata e persistente.

No final, como um campo minado, qualquer movimento aciona o dispositivo e as explosões surgem sucessivamente. Multilando e matando tantas histórias.

Percebe-se que haviam mais ideais e ilusões do que realismo ao enxergar o que se viveu. Viver feliz para sempre torna-se, então, uma frase de contos de fada.

Será que um dia encontro quem me complete?, você volta a se fazer a velha pergunta de sempre.

Legião Urbana - Antes das seis

domingo, 22 de janeiro de 2012

Momento Mahatma Gandhi

"O que pensais, passais a ser."

"As enfermidades são os resultados não só dos nossos atos como também dos nossos pensamentos."

"Acreditar em algo e não o viver é desonesto."

"O erro não se torna verdade por se difundir e multiplicar facilmente. Do mesmo modo a verdade não se torna erro pelo f ato de ninguém a ver."

"O homem cava seu túmulo com o garfo diariamente."

"O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente, que há no mundo."

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Possessivos

Eu não te pertenço, não me pertenço, não percebo que não sou propietário, tão pouco produto de consumo. Será que a definição de humanidade, o que faz cada homem e mulher ser humano está nessa falsa ideia de posse alheia? No achar que corpos, olhares e sentimentos prendem-se ou dedicam-se exclusivamente a uma pessoa, vamos vivendo nossas dores que atropelam sentimentos e mais do que fraturas deixam mágoas e lamentos hemorrágicos.

Há na humanidade um certo "Uso Capião", ou direito de posse adquirido pelo tempo em que estamos em certas camas e corações. Ingênuo engano daqueles que, mesmo depois do fim, insistem em ver invisíveis possibilidades. Sem sacar que os lances nem sempre são laços eternos. Chega o momento em que afrouxam-se os nós e as pontas vão cada uma para o seu lado.

Só mesmo o espiritismo para explicar a possessão de um corpo por outra entidade, mas fora isso não conheço outra forma que não seja igual ao opressor e violento escravagismo. Nem sinhôs, nem sinhás, é apenas a sua vida que te pertence. É preciso repetir para si e para os outros esse pequeno lembrete, de não temos escravos que atendam à nossa demanda sentimental e afetiva.

Querer não é um contrato vitalício. Uns vão, outros vem e no meio dessas idas e vindas muitas vezes ficamos ali, parados, como pais que perderam seus filhos na multidão sem saber bem pra onde ir, esperando a volta das crianças. Inertes! Pertencentes ao reino animal, precisamos estar atentos ao fato de que apenas árvores permanecem paradas esperando as estações retornarem.

Frejat - N

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Momento Ferreira Gullar

Cantiga para não morrer
(Ferreira Gullar)

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento