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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Momento José Saramago

"Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir."

Momento Mahatma Gandhi

"Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível."

"Nunca país algum se elevou sem se ter purificado no fogo do sofrimento."

"A minha fé, nas densas trevas, resplandece mais viva."

"A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos."

"Só engrandecemos o nosso direito à vida cumprindo o nosso dever de cidadãos do mundo."

"Estou firmemente convencido que só se perde a liberdade por culpa da própria fraqueza."

"O amor nunca faz reclamações; dá sempre. O amor tolera; jamais se irrita e nunca exerce vingança."

"Algemas de ouro são muito piores que algemas de ferro."

domingo, 30 de maio de 2010

Momento Eça de Queirós

"É que o amor é essencialmente perecível e na hora que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há entao um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois!...Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?"

"Quando não se tem aquilo que se gosta é necessario gostar-se daquilo que se tem."

"A todo viver corresponde um sofrer."

"... Nem a ciência, nem as artes, nem mesmo o dinheiro, nem o amor, poderiam ja dar um gosto interno e real as nossas almas saciadas. Todo o prazer que extraía de criar, estava esgotado. Só restava, agora, o divino prazer de destruir."

"A curiosidade leva por um lado a escutar às portas e por outro a descobrir a América."

"O maior espetáculo para o homem será sempre o próprio homem."

sábado, 29 de maio de 2010

Dose

Se antes o copo era quase vazio, ontem o copo transbordava. Nos dois casos a dose não foi a ideal. Primeiro era insuficiente, depois era exagero. Hoje não tem dose, tem apenas uma ressaca.

Amanhã a quantidade já será acertada, talvez ainda seja um pouco mais ou um pouco menos do que o necessário. O importante é que será melhor dosada. Servida sem faltas nem excessos. Mas por favor, não deixem meu copo secar.

Barão Vermelho - Por que a gente é assim?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Canções Amigas

Ai, ai.. Rafa é mais uma daquelas criaturas especiais que a vida me deu de presente. Tantos lances que vivemos na faculdade, na pós, na vida e no fim estávamos contando com o outro pra rir e dar aquela força.

Loira, ruiva, morena, não importa como esteja é sempre a mesma menina-mulher de sempre. Minha parceira de "lombras", de shows, de Cruzex, de confissões, de conselhos, de atenção, de palhaçadas, de trabalho e da vida. Eita Anápolis, bons tempos aqueles hein Rafa?

Enfim, essa moça tá muito bem guardada entre as melhores. Ainda espero meu bolo de "ervas finas" no meu aniversário, viu? Só a galera, o reggae, a chapada e o bolo. kkkkkkkkkk

Natiruts - Naticongo

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Momento Cora Coralina

Oração do milho
(Cora Coralina)

Senhor, nada valho.
Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso,
nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e haste, e se me ajudardes, Senhor,
mesmo planta de acaso, solitária,
dou espigas e devolvo em muitos grãos
o grão perdido inicial, salvo por milagre,
que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo
e de mim não se faz o pão alvo universal.
O Justo não me consagrou Pão de Vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que
trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre,
alimento de rústicos e animais de jugo.
Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,
coroados de rosas e de espigas,
quando os hebreus iam em longas caravanas
buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,
quando Rute respigava cantando nas searas de Booz
e Jesus abençoava os trigais maduros,
eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste um de carga.
O que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor,
que me fizeste necessário e humilde.
Sou o milho.

Núpcias

O dia ia mal, mesmo tendo começado há pouco. Por que se levantar? Queria apenas manter-se deitada e esperar que o dia seguinte chegasse logo. Sem vestido, sem véu, sem noivo... definitivamente aquele não seria o dia de seu casamento.

A cabeça pensava em tudo ao mesmo tempo, enquanto não esquecia dos planos feitos há um ano. Tudo acabou, se lamentava aos prantos enquanto os pés procuravam a sandália embaixo da cama. Até o banheiro havia uma longa e difícil caminhada cheia de lembranças, lágrimas e mágoas a serem ultrapassadas.

Quis não pensar em todo o resto, mas a mão logo foi ao ventre e buscou pelos filhos que não estavam mais ali. Abortaram-se os seus sonhos todos de uma só vez, de uma cruel e única vez. Onde ele estaria agora? Com quem ele poderia estar deitado a fazer novos planos? A prometer uma ilusória vida "feliz para sempre"?

O rosto lavado não se reconhecia no espelho. O pensamento confuso e sofrido tomava conta de todo o tempo e espaço. O dia seria longo, seriam longas as horas até que tudo isso acabasse. E teria fim?, se perguntou antes de voltar para a cama. Sentou-se e ficou olhando para a janela sem enxergar o belo dia que havia lá fora.

Depois de alguns minutos a mente voltou a si. Levantou, se arrumou e foi viver outro dia. Não iria ao altar, não seria amada na alegria e na tristeza, não seria o dia que lhe haviam prometido. Não, essa seria a palavra do dia.

Maria Gadú - Linda Rosa

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Momento Confúcio

"O mestre disse: Pode-se induzir o povo a seguir uma causa, mas não a compreendê-la."

"Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos."

"Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade."

"Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?"

"Da força à injustiça há só um passo."

"Não fales bem de ti aos outros, pois não os convencerás. Não fales mal, pois te julgarão muito pior do que és."

"O sábio envergonha-se dos seus defeitos, mas não se envergonha de os corrigir."

Clássico é clássico!

Uma nova série de postagens surge no nosso blog (agora retomando a frequência de posts de antigamente). Começamos por Ivete Sangalo em sua versão para o clássico do rei. Afinal, clássico é clássico!

Ivete Sangalo - Detalhes

Me faz tão bem

Minha barba, meu cabelo e meu jeito tudo isso te agrada mesmo? Você está criando um monstro, adverti pelo excesso de elogios que recebi. Você apenas riu e permaneceu ali me olhando. Seu sorriso encostando na minha boca me fez sorrir também. Me fez te beijar mais uma vez.

Quantos contrastes nos diferenciam, nos aproximam. Eu acho que nem mesmo eu esperava que você me faria tão bem. Me desculpe não é por você, mas por mim.

Lulu Santos - Tão Bem/Tudo Bem

terça-feira, 25 de maio de 2010

Momento Alice Ruiz

"Haja ou não um você aqui, agora estou só. Agora sim, o que sobrar de mim é meu."

"
Eu faço poesia porque ela quer que eu faça, porque ela manda em mim. E eu obedeço. Eu sou apenas um instrumento dela."

"
O sonho de todo verso mesmo o comprido ou falado, é ser canção ou silêncio."

"
Aqui, no reino do escuro e do silêncio minha saudade absurda e muda procura às cegas te trazer à luz."

"
Minha saudade saúda tua ida. Mesmo sabendo que uma vinda só é possível noutra vida."

"
Ainda me viro e me vejo pronta a te chamar a te contar que aprendi hoje coisas que você soube."


Finda vida

A cabeça encostada na parede e o corpo adormecido de mal jeito na pequena cadeira ao lado do leito não fazia daquelas noites as melhores. Na maca seu pai, doente, com sua saúde se agravando a cada dia. Não era fácil, não eram noites, nem dias fáceis. No meio de tanto sofrimento, um pequeno pensamento veio e foi logo repreendido.

Mas tinha razão, se o homem forte que ele conhecera como sendo seu pai morresse naquele instante, na velocidade em que seu pensamento funcionara, seria mais fácil. Não era egoísmo pensar nisso, afinal a "não-vida" seria um descanço (seja eterno ou não). Após tanto sofrimento, tantas noites em que se acreditara que havia chegado o momento, o homem resistia em sua luta. As mãos grandes e fortes deviam estar prendendo ele à vida.

O jovem precisava descansar um pouco. Devia ir pra casa e dormir para depois voltar ao seu turno no hospital. No caminho pensou no que havia pensado. Pensou em não pensar mais nisso. O que não conseguia deixar de pensar era no pai e em tudo que estava acontecendo. A namorada não se importava muito, achava bobagem, achava que era muito alarde em cima de pouca coisa. Justificável para quem nunca teve uma boa relação com o próprio pai, por que entenderia uma dor sentida para um pai? Pai é pai, fato! Ela concluiu com toda a razão que jamais tivera mas acreditava ter.

Em casa ele desabou na cama. Sonolento, não conseguia dormir graças à cabeça trabalhando o tempo inteiro. Tomou um banho e relaxou um pouco, mas ainda estava tenso o suficiente para pensar em tudo e tentava se distrair com a água escorrendo pelo seu corpo. Percebeu que sua vida também ficou reclusa naquele quarto de hospital nos últimos dias. Dias, semanas... não havia mais noção de tempo. Não havia fome, mal havia sono. A vida virou um filme, como muitos dizem, e foi projetado em sua cabeça. Tudo passou na velocidade suficiente para que nada fosse esquecido ou deixado de lado.

O telefone tocou como um despertador. Ele sabia bem o que viria após o "Alô". Um filho enterrar o pai, isso não é justo, falou algum velho. Alguém que ele não soube identificar ao certo quem seria. No cemitério ele teve vagas lembranças de tudo o que aconteceu. Não se lembra direito de voltar ao hospital, de ir ao enterro ou de qualquer outra coisa feita depois daquele telefonema. Só se lembrava da morte do pai. Só queria não ter visto o seu pensamento como a melhor opção para tudo aquilo.

Este ano não haveria queima de fogos, nem contagem regressiva de fim de ano. Estava exausto. A cabeça doía, se agitava de um jeito que nunca esteve. O telefonema agora era da namorada, comemorando algo em algum lugar, alguma festa qualquer, e pedindo que ele fosse buscá-la. Ela já havia se divertido o suficiente. Estava "morta", disse rindo a uma amiga enquanto esperava por ele.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Momento Mahatma Gandhi

"A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável."

"Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo."

"Olho por olho, e o mundo acabará cego."

"As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?"

"Os fracos nunca podem perdoar."

"A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível."

"Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome."

"O amor é a força mais sutil do mundo."

"O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não."

Momento Eça de Queirós

"Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as ações - mesmo as boas".

"A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação".

"(...) sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo conduzia a um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

"É o coração que faz o caráter".

"
O amor eterno é o amor impossível.
Os amores possíveis começam a morrer
no dia em que se concretizam."

"Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo."

Encontros Musicais 24/05

Os Paralamas do Sucesso em seu mais recente álbum, Brasil Afora, contaram com a participação especial de ninguém menos que Zé Ramalho na faixa Mormaço. Mistura brasileiríssima de um pop, rock e regionalismo que só o Brasil seria capaz de produzir.

Mormaço chegou às rádios há poucos dias e já conta com um super clipe. Uma das melhores e masi simples produções feitas nos últimos anos. Bela canção, belo vídeo. Confira!

Os Paralamas do Sucesso e Zé Ramalho - Mormaço

Má companhia

Uma vez vieram me dizer que era melhor estar só do que mal acompanhado. Mas existe companhia pior do que a da solidão? Então por favor, não venha me amolar com essas frases feitas e ditos populares, por mais que eles sempre tenham razão.

Pensei, pensei e resolvi: Quero as más companhias. Mesmo que amanhã elas me abandonem. Quero as más companhias para, quem sabe um dia, me tornar uma má companhia para todas as minhas más companhias. Quem sabe eu me torne capaz de fazer alguém sofrer, ao invés de ser o sofredor. Inverter os papéis, retomar o controle da situação e conseguir dormir tranquilo e sem pesos na consciência.

Mas minha covardia e minha frouxidão não me habilitam para assumir tais personagens. Ser calhorda e sacana, no sentido não sexual da coisa, não se encaixam no meu perfil. Não sei se me sobram valores e caráter, ou me falta sagacidade e malandragem pra viver e dançar conforme a música. Mas ainda assim eu quero estar rodeado de más companhias. Tentar ser igual ao que já me causou tanto mal.

Ao menos por um dia quero saber qual é a sensação de roubar um coração e depois abandoná-lo num beco qualquer. Voltar pra casa plenamente satisfeito e entender o que se passa nessa mente indecente. Saber o que é não se preocupar com nada e estar livre de valores de certo e errado. Ser cruel só pra chamar a atenção de alguém e depois desaparecer com a sensação de dever cumprido.

Mas pensando bem, as más companhias são solitárias. Vivem envoltas em uma solidão tremenda, vivem à margem da descrença e da desconfiança alheia, pois jamais terão o afeto e a certeza de que não alimentaram mágoas em ninguém. Que se dane! Ao menos hoje, só hoje, eu quero ser uma má companhia. A pior, uma que ninguém foi capaz de ser na minha vida.

domingo, 23 de maio de 2010

Momento Raul Seixas

Tente outra vez
(Raul Seixas / Marcelo Motta / Paulo Coelho)

Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha em fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!...

Beba!
Pois a água viva
Ainda tá na fonte
(Tente outra vez!)
Você tem dois pés
Para cruzar a ponte
Nada acabou!
Não! Não! Não!...

Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não pense
Que a cabeça agüenta
Se você parar
Não! Não! Não!
Não! Não! Não!...

Há uma voz que canta
Uma voz que dança
Uma voz que gira
Bailando no ar

Queira!
Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez!

Tente!
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Tente outra vez!...

Shirley Carvalho - Tente outra vez

sábado, 22 de maio de 2010

Multidão solidão

Um brinquedo, um pássaro, um encanto qualquer que laçou os olhos do menino. Uma magia viva e colorida que prendera ali seus pés pequenos e largos. Distraída, entre o celular e a travessia, a mãe seguiu o caminho segurando a bolsa e apressando o passo. Ele ficou, fincou ali seu posto de observador da vida.

A manada humana, vinda dos lados de lá, marchava pra cima de si. O empurrava, o fazia se mover de volta à praça, longe do semáforo e de onde sua mãe poderia, talvez, olhar pra trás e vê-lo. Logo estava junto aos pombos famintos e em busca das migalhas jogadas e caídas pelo chão sujo. Também já estava ao lado dos brinquedos coloridos e barulhentos vendidos pelo camêlo magro e alto. Sorrindo o pequeno tentou capturar os pombos em uma rápida corrida, mas espantou-lhe a imagem do menino tão encardido quanto o chão.

Tentou correr de volta para a mãe, mas não pode ir muito longe. A manada ainda passava por ali, por aqui e por todo lado, para todos os rumos. Buzinas, passos, música e o grito desesperado do outro lado da rua era mais um. Era de uma mãe aflita e já não tão distraída quanto antes. Ninguém se mobilizou, não havia sensibilidade por mais um drama qualquer naquela metade do dia em pleno centro da cidade.

Ele chorou, se viu sozinho entre tanta gente estranha. Se percebeu frágil e desnorteado em um outro mundo, agora mais solitário e vazio. Buscou nos rostos, que não olhavam para baixo, uma ajuda ou algum conhecido. Mas seus olhos apenas buscavam sem enxergar nada direito. Tentavam encontrar algo que acalmasse o desespero. Chorou, e chorou alto, pra tentar responder o grito distante da mãe. Como o pequeno pássaro piando para que a genitora o ache.

Já de olhos fechados, com sua pequena platéia se formando, a mão firme e amiga lhe encontrou. Seus olhos olharam para o céu, viram a luz. Viram o sol e o anjo vindo dele para lhe abraçar e proteger. Sua mãe agora chorava e lhe prometia jamais se afastar dele.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Momento Nando Reis

Eles Sabem
(Nando Reis)

Os morangos vermelhos escolhidos
E o camelo lindo que enfeita o maço
Também o copo que você não encheu com líquido
E os caninos afiados daquele garfo

O ar que trouxe tarde pr'aqui dentro frio
E o guardanapo sujo que foi muito amassado
O som que encheu o quarto vindo do seu riso
E a água que deixou o seu rosto molhado

Eles sabem porqu'eu
Amo seus lábios
Lavam os meus
Se calam num beijo:

- eu te convido.

Só os morangos que estavam escondidos
E alguns camelos, que de fato, são dromedários
Os poucos copos que ainda sobraram vazios
Além dos pêssegos maduros não descascados.

O ar que não entrou quando fechei o vidro
E a toalha que restou na colcha, impecável
As palavras que faltaram aos meus ouvidos
E o calor que não suou o seu corpo intacto

Não sabem como eu
Amo seus lábios
Lavam os meus
Se calam num beijo bem-vindo.

Nando Reis - Eles sabem

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Momento Albert Einstein

"A imaginação é mais importante que o conhecimento."

"O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade."

"O ser humano vivencia a si mesmo, seus pensamentos, como algo separado do resto do universo - numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior."

"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original."

"Os ideais que iluminaram o meu caminho são a bondade, a beleza e a verdade."

Momento Vinícius de Moraes

Eu não existo sem você

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cartilha sobre o dia da minha morte

Quando eu morrer não quero seu choro, seu pranto, ou seu remorso. Me dê um sorriso e lembre-se de tudo de bom que vivemos. Ainda que tenha sido pouco ou que tenha sido louco da minha parte. Eu também me diverti contigo, pode acreditar.

Quando eu partir dessa pra melhor não esquente a cabeça. Não mande fazer camisetas, nem santinhos com meu rosto e frases de saudade. Talvez você não saiba escolher a melhor foto, talvez aquele não seja o meu melhor ângulo.

Quando eu estiver do lado de lá não me chame. Deixa eu me acomodar e conhecer o pessoal. Depois, quando eu tiver tempo, volto pra contar como são as coisas por lá. Volto pra saber como estão as coisas por aqui. Mas por favor: não me chame a todo instante!

Quando eu for apenas um corpo sem vida não se preocupe mais. Nada me aflige ou me atormenta. O que vai me importar é bem pouco e já não precisarei me importar com nada disso. Não estou sendo cruel, estou apenas sendo realista.

Quando eu não estiver vivo lembre bem de mim. Reze, ore, medite no templo que frequentares, mas não se esqueça: lembre-se de mim. Só peço uma prece, esse é o meu preço. No mais façam do meu corpo o que for mais barato. Não quero, mesmo morto, te dar mais uma despesa.

Quando eu for embora pode relaxar. Conte meus podres, revele meus segredos. Não quero ser santo, mas também não exagere detalhando tudo. Entre o bom e mau me deixe ficar no meio termo para que todos saibam que eu também errei e fui humano como todo mundo.

Quando eu não estiver mais por perto se acalme. Em silêncio, apenas feche seus olhos e veja que permaneço vivo em cada recordação. Tudo bem, eu sei que não estarei aqui ao seu alcance, mas não estarei distante. Aquilo que eu sou pra você permanecerá vivo, enquanto você quiser.

Enquanto isso não se esqueça de mim e aproveite, porque ainda estou vivo.

Momento José Saramago

"Pouco se pode esperar de alguém que só se esforça quando tem a certeza de vir a ser recompensado."

"
Muitos homens, como as crianças, querem uma coisa, mas não as suas consequências."

"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo."

"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."

"À igreja não importa nada as almas."

"A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada."

"Não tenhas medo, a escuridão em que estás metido aqui não é maior do que a que existe dentro do teu corpo; são duas escuridões separadas por uma pele, aposto que nunca tinhas pensado nisto. Transportas todo o tempo de um lado para outro uma escuridão, e isso não te assusta..."

terça-feira, 18 de maio de 2010

Momento Kant

"É por isso que se mandam as crianças à escola: não tanto para que aprendam alguma coisa, mas para que se habituem a estar calmas e sentadas e a cumprir escrupulosamente o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que têm de pôr em prática as suas ideias."

"Quanto mais amor temos, tanto mais fácil fazemos a nossa passagem pelo mundo."

"Não há garantias. Do ponto de vista do medo, ninguém é forte o suficiente. Do ponto de vista do amor, ninguém é necessário."

"Podemos julgar o coração de um homem pela forma como ele trata os animais."

"Duas coisas povoam a mente com uma admiração e respeito sempre novos e crescentes... o céu estrelado por cima e a lei moral dentro de nós."

Momento Rubem Braga

Despedida (Rubem Braga)

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.


segunda-feira, 17 de maio de 2010

Momento Cecília Meireles

"Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre."

"Se você errou, peça desculpas...
É difícil perdoar?
Mas quem disse que é fácil se arrepender?

Se você sente algo diga...
É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar?

Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você?

Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?

Nem tudo é fácil na vida...
Mas, com certeza, nada é impossível..."

domingo, 16 de maio de 2010

Antiga canção, nova versão

Enquanto dirigia, no caminho da sua casa, pensei em como a vida é feita de uma trama complexa e maravilhosamente bela. Há algum tempo chorava um amor perdido, hoje estou sorrindo por uma nova paixão. Não... ainda não é amor, mas posso dizer que tem sido bem mais que uma paixão.

Te busquei e entre beijos e carinhos fomos até o aniversário. Lá chegando conversamos um pouco no carro, nos beijamos e meio sem jeito eu te pedi pra ficarmos juntos. Com o rosto de lado, colado no meu peito, você concordou. Meu Deus, a sensação de adolescente bobo surgiu. Nem eu me aguentei e comecei a rir.

Por quê mesmo eu estava chorando? Por favor, não me entandam como alguém orgulhoso, se "achando", cheio de si, prepotente, egocêntrico ou sei lá o que se pode pensar. Isso foi uma constatação pura e verdadeira daquele bom e velho remédio, receitado desde os tempos em que mamãe sofria suas desilusões. Só um novo amor cura um coração ferido. Meus olhos se voltaram, outra vez, para o futuro e meus ouvidos se taparam para os lamentos do passado.

Pode ser pra toda vida, pode ser breve, pode ser e será como tem de ser. O que eu sei é que por enquanto tem sido muito bom e isso já me basta. Já tem sido o suficiente pra ser o que é: intenso, imenso e eterno.

Como diz Caetano Veloso, "É engraçado a força que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer".

Nando Reis e Ana Cañas - Pra você guardei o amor

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Momento Manuel Bandeira

A Morte Absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome."

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Mudanças

Acordei assustado e o despertador ainda não havia tocado. É quase sempre assim, o relógio biológico se adianta e fica tudo resolvido. Esperei a casa se acalmar e ter o banheiro desocupado, só pra mim. Tim Maia e eu cantando alto e a água quentinha me acordando. A voz potente do Tim é muito foda. Ninguém o barra e gosto de tentar acompanhá-lo, me divirto muito. O banheiro parecia uma sauna com a janela e o espelho embaçados e o vapor criando ali dentro uma neblina.

Uma boa história e a boa companhia da Michelona fizeram o tempo passar correndo até chegarmos na casa da Michelle. Logo nós três, e todos os outros amigos que estavam ali, carregavam caixas e ajudavam na mudança da minha amiga-irmã que agora iria, de fato, construir seu lar e sua família. Novos desafios, novas alegrias e abandonar uma antiga vida. Enfim, casar é bem mais complexo do que uma simples mudança de móveis e objetos pessoais.

Quando eu menos esperava você me ligou e veio nos ajudar também. Fiquei feliz, acabei te vendo e passamos todo o dia juntos. Lavar o banheiro? Como nossas mentes são maquiavélicas, hein? Se o Lula estivesse ali diria: Nunca, na história desse país, uma lavagem de banheiro foi tão boa como essa.

Assim como os móveis que estávamos mudando e ajeitando em seu novo lar, acho que em nossa vida tem sido igual. Arrumamos coisas que antes estavam em outro lugar, bagunçadas. Sentimentos que estavam ali e hoje se encontram aqui, com a gente. Os lances que te aconteceram de ontem pra hoje e todo o mais, enfim as nossas mudanças internas.

Minha cabeça pensa muitas coisas e não consegue entender como recebi você de presente. Talvez o meu medo seja de lhe causar algum mal. Você é uma joia que deve estar protegida e ao mesmo tempo no pescoço, onde todos possam admirar. Exuberante, reluzente e em harmonia com o restante. Você tem me mudado, tem mudado minha vida de uma forma brusca e sutil, ao mesmo tempo.

Já que você me elogia tanto, deixa eu retribuir também. Deixa eu te beijar logo que a gente tem que abrir esse banheiro e terminar de ajeitar as coisas lá fora, porque aqui dentro já está tudo certo.

Legião Urbana - O mundo anda tão complicado

Bobo e apaixonado

Obrigado! Agradeci como se todo aquele carinho me tivesse sido dado como um favor. Não foi, mas me serviu como um remédio que há muito precisava. Tem me feito bem, tão bem que acho que a cada nova vez que estamos juntos me reapaixono.

A música, a paisagem, o pôr-do-sol, você e quase me esqueci que ao nosso redor tinha um universo inteiro. A cena era linda, vai? Digna de filme com aqueles morros, o horizonte e todas as cores de um fim de dia em Brasília. Quem já viu entende a beleza.

Estava pensando como o destino já cruzava nossos caminhos há muito tempo. Você morou na minha rua, estudou no meu colégio, mas precisamos de tanto tempo pra nos "enxergarmos". Será que esse lance deveria ter rolado antes? Não... tudo no seu tempo.

Isso tá bobo, né? Então num tem jeito, to apaixonado mesmo. Putz...

Kleiton e Kledir - Paixão

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Nossa vez

No andar superior do aeroporto fiquei observando os aviões. Distraído perdi a hora e você me ligou pra saber onde eu estava. Você tão feliz, tão radiante que nem precisou me contar suas histórias pra que eu pudesse entender o quanto aquela viagem tinha lhe feito bem. Seu abraço e seu olhar já me disseram tudo.

Sua ansiedade em me contar tudo te deixava com um alto nível de bobagem. Mas totalmente compreensível por tudo que viveu nos útimos três dias. Sua mãe nos olhou na cozinha conversando, assustada por me ver ali aquela hora. Logo era eu e ela que conversávamos e ríamos, mas me despedi e a deixei dormir.

Foi tão bom olhar pra você e ouvir suas histórias por horas e horas. Quantos cigarros você fumou ontem? Acho que por tabela eu fumei uns quatro. Nossa! Fazia tanto tempo que a gente não sentava e falava da vida, ria, lembrava do passado e pensava no nosso futuro. Ontem eu percebi que a felicidade nos deixa mais belos quando observei seu rosto.

E agora, como viver com tanta felicidade? Agora é a nossa vez de ser feliz, você me disse (como que fazendo uma promessa) na porta da minha casa.

Adriana Calcanhoto - Mais feliz

Nas noites de sábado

O café, o cigarro e o sexo barato não duraram a noite toda. Antes do sono chegar ele ainda esperava por um telefonema, uma chance de amar outra vez. Deite-se! O amor está em falta, dizia algum espírito debochado que lhe perturbava nas noites de sábado.

A companheira acordou assustada e pediu que apagasse a luz. Resmungou algo e logo dormiu outra vez. Ele levantou, atendeu ao pedido e saiu do quarto. Precisava de outro cigarro, outra dose de céu estrelado antes de chorar em silêncio.

O café forte era o sustento do homem fraco. O telefone permaneceu quieto, não o chamou, não lhe trouxe o que tanto esperava, não ligou para o seu sofrimento. Talvez por isso ele o arremessou no meio da rua. No meio do escuro que se formava em frente aos seus olhos vermelhos.

Grita! Gritaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!, a voz sussurrou em seu ouvido. E ele gritou. Sua garganta arranhada parecia não se cansar daquilo. O mundo percebeu sua dor e logo todos acordaram, mas ninguém se levantou. Ajeitaram-se, viraram-se e dormiram outra vez. O choro agora era pranto, era tanto que seu corpo se apoiou na parede e desceu até que o chão pudesse ampará-lo.

Mais um cigarro, mais um trago. A porta se abria e, enquanto fumava, a mulher apenas gritava e o xingava, ela também partiu. Melhor assim, pensou: Agora só preciso suportar a mim. Tragou todo o maço. A solidão fizera-se presente de todas as maneiras possíveis. Nem os cachorros da vizinhança quiseram latir ou demonstrar que estavam ali naquela noite.

Descalço, de bermuda e vestindo o seu casaco saiu até o supermercado para buscar seu vício. Lembrou de quando saía pela noite, andando, beijando-a. Pensou em bater na porta da casa dela, pular o muro e se matar dentro do seu quintal, mas antes precisava fumar. O dinheiro amassado em sua mão esquerda era vitimado por todo o ódio que ele sentia.

Cigarro comprado, desejo tragado, era hora de dormir. Se fosse pra morrer ou cometer suas loucuras que as fizesse amanhã. Sempre havia deixado tudo para o dia seguinte, hoje não seria diferente.

Frejat - Homem não chora

domingo, 9 de maio de 2010

Amor de mãe, amor pra mãe

De todo o amor do mundo, acho que o de mãe foi o que gerou todos os outros. Todo mundo que ama deve ter um pouco de mãe em si. E eu, repleto de amor, tenho duas mães em casa para nunca me faltar todo esse amor.

Minha vó, nos seus 80 e tantos anos. Minha mãe, nos seus 50 e poucos. Duas mulheres diferentes, mas o mesmo amor por mim. A primeira repete sempre que possível que eu e meu irmão não somos seus netos, somos seus filhos. Quase sempre quando ela diz isso seus olhos brilham e por vezes choram. Aliás, chorar é uma rotina pra ela. Acho que viver tanto e ter visto sua família crescer bem é motivo para muitas emoções.

A segunda, mãe biológica. Gerou e amou, como toda mãe deveria fazer. Preocupada, sem saber direito oferecer um carinho, um afeto, mas ainda assim afetuosa. Chorona também, em especial nos últimos meses quando fiz meus planos. Mas combina mais com essa a gargalhada, o deboche e a felicidade (não quero dizer que minha vó é triste ou deprimida).

Para minha mãe a vida passou a ter um sabor especial depois que ela teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral), e pra todos nós também. Quando minha mãe passou por isso uma música havia sido lançada e me marcou muito. Coincidência ou não, minha mãe também diz que essa música é sua.

Como diz a canção: Eu não sei parar de te olhar. E foi isso, não conseguia deixar de olha-la. Vigiar, querer decorar cada mínimo detalhe do seu rosto para jamais esquecê-la. Pensei no pior, como todos pensam quando algo ruim acontece. Mas o pior ficou só no pensamento, ainda bem.

Ana Carolina e Seu Jorge - É isso aí

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Momento Saint-Exupéry

"Ainda que seus passos pareçam inúteis; vá abrindo caminhos como a água que desce cantando da montanha. Outros te seguirão"

"Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos."

"O Homem distingui-se dos homens. Nada se diz de essencial acerca da catedral se apenas falarmos das pedras. Nada se diz de essencial a respeito do Homem se procurarmos defini-lo pelas qualidades humanas."

"Cada um é responsável por todos. Cada um é o único responsável. Cada um é o único responsável por todos."

Bom dia!

O nascer do sol de hoje foi lindo. Muitas cores, muitos tons e as flores que enfeitavam a grama e adornavam a árvore. Cenário de filme ou uma tela pintada por um artista? Não sei dizer, mas você estava ali comigo. De alguma maneira todos estavam ali comigo.

Sem camisa e com minha calça larga (pra ficar a vontade) não senti o friozinho da manhã. Estava mais preocupado com a paisagem. Fiquei ali parado enquanto o sol surgia e o dia já se apressava em correr. As promessas para hoje talvez tenham feito todo esse lance mais especial ainda.

Na cozinha o café pronto, antes do dia começar, completava tudo. Minha mãe com seu bom humor matinal já falava alguma besteira e gargalhava, enquanto eu apenas ria e tomava meu capuccino (dessa vez acertei na mão). Minha cachorra me chamava, querendo a parte do café da manhã que lhe cabia.

Logo me veio na cabeça o seu telefonema, ontem, se desculpando com aquela cara lavada pelo nosso (des)encontro. E no celular as mensagens, as surpresas, as coisas boas que me estavam guardadas. O dia nasceu contagiante. Ria sozinho, na varanda, acompanhando o sol já vencendo o morro e ganhando o céu.

Na cabeça o pensamento bobo, "Será que você sonhou comigo?". A minha vontade naquele instante era de cantar e dançar, como Caetano:

Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara
Minha cara, minha cuca ficar odara
Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara
Pra ficar tudo jóia rara
Qualquer coisa que se sonhara
Canto e danço que dara

Rappin' Hood e Caetano Veloso - Rap du bom (parte II)


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Canções Amigas

Deus, o destino, a espiritualidade ou as histórias, o que cruzou nossos caminhos? Icógnitas que não precisamos responder nem decifrar (muito menos entender). Vamos agradecer por este encontro. Vamos rir e quando o dia for foda, quando bater aquela saudade, a gente se encontra e segue por aí. Desce para o Parque dos Jequitibás pra que eu te conte minhas histórias monstruosas, aquelas que só acontecem comigo. E você me lembre sempre o quanto sou lindinho e sou ridículo.

Se isso não resolver, a gente vai pro centro tomar uns passes e tirar a uruca de cima. Enquanto eu "arrumo confusão" e as figuras mais complicadas do mundo se interessam por mim. Na volta pra casa, já apaixonado, eu repito: "Caralho, por que me meto nessas confusões?". E você gargalha e me orienta pra sair dessas furadas antes que o bicho pegue.

A cada vez que você diz para os outros que ainda vou correr atrás de você e que vou implorar o seu amor, todos riem. Nem mesmo você leva isso a sério, como eu poderia? Tudo bem, você sabe o que impede esse "nosso amor", mas vamos falar disso depois. Michele (michelona), quem sabe na próxima vida a gente tire esse atraso e fique junto? Certeza mesmo é que ainda nessa vida ficaremos bem, rindo de todas essas "peças" que a vida nos pregou.

Armandinho - Outra vida

Momento Alice Ruiz

"Você deixou tudo a tua cara. Só pra deixar tudo com cara de saudade."

"
Lembra o tempo que você sentia.
E sentir era a forma mais sábia de saber e você nem sabia?"

"Amigos não são números.
Amizade é presença permitida.
Ausência necessária.
E sempre presente."


"
Se a obra é a soma das penas, pago. Mas quero meu troco em poemas."

"
O amor que dedico a um amigo é algo sem palavras. É sorrir por dentro. Chorar de emoção... Calar se preciso."

"Existir não se resume a esse momento nunca.
Nesse momento existir se resume."

"
Um incêndio basta pra consumar esse jogo.
Uma fogueira chega pra eu brincar de novo."

Cássia Eller - Socorro



quarta-feira, 5 de maio de 2010

Deus me esperava na esquina

Você sabe o que é planejar todo um dia e de repente as coisas não darem certo? Desencontros, telefonemas te chamando para novos compromissos e o único encontro que se concretiza é com Deus. Com Deus? Pois é, Ele mais uma vez veio bater um papo comigo. Encontrei Deus na minha esquina. Fazer o quê, Ele é quem manda.

Saí de casa na espectativa de tudo aquilo que estava pra acontecer. Já no meio do caminho recebi uma ligação de uma amiga querida, deveria ter voltado de imediato, mas como estava próximo ao meu destino agradeci o convite, me desculpei e fui até o local combinado com o pessoal. Tolice minha, Deus já havia esquematizado todo um plano para me levar até a igreja (na esquina da minha rua).

Pronto! Eu estava no local e horário combinados, ansioso e nada de aparecerem. Me ligam para dizer que não poderiam vir ao encontro, então entendo que tenho de voltar. Ir na igreja da minha esquina. Ligo para ver se ainda dava tempo, Aline (minha amiga) atende e diz que ainda está lá ajudando a pastora com a arrumação do templo. Hora de ter aquele encontro, que há semanas esperava.

Na entrada da igreja dois casais conversavam. Dois pastores, uma pastora e a esposa de um dos religiosos. Comprimentei a todos e entrei no templo, onde minha amiga estava acompanhada de outra fiel ajeitando o local. O lugar é uma loja pequena, simples e arrumada. Paredes brancas, piso de cerâmica clara e na frente, atrás do altar, um painel com uma paisagem de cachoeira. A abracei e começamos a conversar sobre um casal de amigos que estavam recém-casados.

No meio da conversa a pastora entra na igreja já falando diretamente pra mim. Uma mulher muito simples que jamais imaginaria que ela seria pastora (a visão estereotipada atacando mais uma vez). Ela chegou até mim revelando, como se diz, o que Deus tinha para me falar. Alguns podem duvidar, rir, ou acreditar fervorosamente, mas apenas leiam e no final concluam o que bem entenderem. Tive uma criação católica e envolvimento com grupos da igreja. Mas na fase adulta abri meus horizontes e busquei o conhecimento em outras religiões.

Sem seguir doutrinas eu apenas conheci o que as outras religiões pregavam. Me encantei pelos "conceitos" do Kardecismo e pelas vestimentas, a história e a música do Candomblé e da Umbanda, mas não aderi a nenhuma dessas religiões. Como está na moda dizer: apenas trabalho minha espiritualidade. Minha fé, minhas crenças profetizadas de dentro do meu quarto e do meu coração me valem muito.

A pastora, que nunca me viu e que não conhece meus anseios (minhas histórias, meus sonhos) me aliviou e me disse tudo aquilo que eu questionei durante minhas orações. Respostas que me impregnaram de uma felicidade que não se pode expressar em textos. Meu sorriso desde então ficou estampado e mais largo (quase bobo, como é quase sempre).

O encontro, o "lance", foi tão fantástico que os poucos pensamentos que tive, nos momentos em que não estive concentrado no que Deus (por intermédio da pastora) me dizia, foram respondidos. Sim, temos aqui duas opções: ou a pastora possui incríveis poderes mutantes, ou tudo foi real. E a sincronia perfeita me faz crer no real, mesmo que a fé não seja algo na qual se pode tocar, não é apalpável (sendo "irreal" para olhares ateus).

Quando ela tocou no meu peito e orou, o mal sumiu. Alguém abriu meu corpo e garimpou o que de pior se escondia lá dentro. Meu coração lapidado reluziu e o sorriso firmou-se de vez no rosto. Como posso duvidar se depois daquilo não consegui manter as tristezas de antes. Agradecia a Deus, agradecia a pastora e sorria, foram as poucas coisas que consegui fazer neste momento de fé.

No fim, ainda me questionei por quê do encontro e todo o mais não ter dado certo. De imediato, ela me disse: Deus manda dizer que nada é por acaso. Por isso não é por acaso que você está aqui hoje. Ele te trouxe aqui.

Jason Mraz - God rests in reason

Momento Martha Medeiros

A dor que dói mais (Martha Medeiros)

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Salve Hebert Vianna!

Poucos artistas tiveram uma história tão cheia de tramas e enredos como o nosso aniversariante de hoje. Entre as dificuldades Herbert Vianna renasceu e comprovou o status de grande ícone da música popular e do pop rock nacional.

Filho de militar, irmão do sociólogo Hermano Vianna, o vocalista dos Paralamas do Sucesso construiu ao longo dos seus 49 anos de vida, uma bem sucedida carreira. Fruto da geração do rock anos 80, Herbert é uma das figuras mais queridas no cenário musical.

Salve Herbert Vianna! Salve Os Paralamas! Salve a música brasileira!

Ira! e Os Paralamas do Sucesso - Envelheço na cidade


Herbert Vianna e Zélia Duncan - Partir, Andar


Herbert Vianna e Renato Russo - Nada por mim


Os Paralamas do Sucesso e Marisa Monte - O amor não sabe esperar


Leoni e Herbert Vianna - Por que não eu?


Fernanda Abreu e Herbert Vianna - Veneno da Lata


Gal Costa e Herbert Vianna - Lanterna dos Afogados


Daniela Mercury e Herbert Vianna - Só pra te mostrar


Titãs e Os Paralamas do Sucesso (part. Samuel Rosa) - O Beco


Herbert Vianna e Sandra de Sá - Vamos viver


Os Paralamas do Sucesso e Nando Reis - Pétalas


Herbert Vianna e Cássia Eller - Mr. Scarecrow


Os Paralamas do Sucesso e Frejat - Uns Dias

Momento Manoel de Barros

"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas."

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Canções Amigas

É engraçado como o tempo passa rápido, mas ainda insistimos em medí-lo e marcá-lo. Me lembro do dia 28 de julho de 2003 quando entrei pela primeira vez na sala da faculdade. Jamais imaginaria viver tudo o que viví ao lado de todas aqueles 49 colegas de classe e tantos professores e outros colegas e amigos de corredores e laboratórios. Amanda (ou mandinha) foi uma dessas gratas e grandes surpresas que a vida me reservou.

Quantas histórias, quantos planos e quantas boas risadas dadas juntos, hein? Confissões, choros, silêncios, fé e tantas outras coisas também preencheram estes sete anos. Que venham mais sete, mais setenta e quanto mais tempo tivermos pela frente. Espero poder estar por perto, espero poder ter você por perto também. É... você me faz bem.

Luiza Possi - Me faz bem

domingo, 2 de maio de 2010

Momento Santo Agostinho

"O dom da fala foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros."

"
Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser."

"O supérfluo dos ricos é propriedade dos pobres."

"O orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande mas não é sadio."

"O que mais Deus odeia depois do pecado é a tristeza, porque nos predispõe ao pecado."

"Com a corrupção morre o corpo, com a impiedade morre a alma."

"Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, a caridade."

"Creio para compreender, e compreendo para crer melhor."

"Pois o Deus Todo-Poderoso, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir nas suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal."

Momento Fausto Fawcet

Odalisca Andróide*

Eu estou sempre aqui, olhando pela janela. Não vejo arranhões no céu nem discos voadores.

Os céus estão explorados mas vazios. Existe um biombo de ossos perto daqui. Eu acho que estou meio sangrando. Eu já sei, não precisa me dizer. Eu sou um fragmento gótico. Eu sou um castelo projetado. Eu sou um slide no meio do deserto. Eu sempre quis ser isso mesmo. Uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica. Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos com pedaços de tudo, restos de filmes, gestos de rua, gravações de rádio, fragmentos de tv.

Mas eu sei que os meus lábios são transmutação de alguma coisa planetária. Quando eu beijo eu improviso mundos molhados. Aciono gametas guardados. Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. Uma notícia de saturno esquecida, uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, uma odalisca andróide que tinha uma grande dor, que improvisou com restos de cinema e com seu amor, um disco voador.

*fragmento do texto Disco Voador, de Fausto Fawcet

Maria Bethânia - Odalisca Andróide/ Tocando em frente