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domingo, 20 de abril de 2014

Quase Choros

Ao lado da minha cama, ela repousa numa foto. Congelada no tempo, permanece ali do meu lado. Meus olhos decoram cada detalhe, cada ponto dentro da moldura. Enquanto me lembro saudoso como eram os dias ao seu lado. Desesperançoso com aqueles que ainda virão.

O choro fica por um eterno instante, esperando. À mercê da última gota. E esse quase chorar se intercala entre uma prece e uma tristeza. Como aquelas certezas que o tempo se encarrega de trazer, mesmo sabendo que ele nunca levou qualquer ausência pra longe daqui.

Queria poder chorar, mas choro não se vulgariza, não se banaliza. Esse choro entalado, me corrói. Se prende e vai encharcando a alma. Pesando, inchando e prendendo tudo por dentro. Talvez por isso os lamentos sejam tão repetitivos e rotineiros.

Choro não sai, lágrima não cai, grito não sobressai e me fica e dúvida se talvez seja por isso que a mãe não volte.

Vanessa da Mata - Por Causa de Você

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Telefonema aos Mortos

Semanas atrás, no meio da tarde, o telefone tocou e por um segundo pensei em não atender. Antes não tivesse. Do outro lado o homem perguntou pela minha mãe...

Não sei o que aconteceu. Gaguejei antes de avisá-lo, extremamente enfurecido, que ela havia falecido. Não sei se a informação foi indiferente a ele, ou se eu estava abalado demais e não me lembro se ele ao menos se desculpou. Continuou a conversa querendo saber se havia algum pensionista, fiquei ainda mais puto, encerrei a conversa e logo desliguei.

Nunca, desde sua partida, me senti tão desnorteado com essa situação. Não soube o que fazer, mesmo que alguns amigos sempre me digam que fui forte e reagi bem à perda dela, não soube o que fazer.

A sensação estranha foi como se a vida me tivesse ligado para me lembrar da morte. Uma "pegadinha" sem-graça rolou nesse dia. Abriu-se um novo corte, profundo. Acho que a coisa mais sutil e doce que consegui chamá-lo foi de FDP, daqueles ditos de boca cheia.

Não houve choro, de imediato. Revolta, talvez. Como alguém que recobra a consciência e se lembra de TUDO o que se perdeu "apenas" com a morte de uma pessoa. Como se as mágoas e tristezas, dos quase dois anos, ficassem entalados na garganta e de repente saíssem. Mas o choro, esse está por um triz, por uma saudade qualquer.

Engenheiros do Hawaii - Perfeita Simetria