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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Momento Adélia Prado

Tão bom aqui

Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui para rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
Tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestionamos elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
O de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
Em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
Alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
Refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
Eu nada sei de mim.


Texto extraído do livro “A duração do dia”, Ed. Record, 2010 - Rio de Janeiro (RJ), pág. 09.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Noites de Agosto

O vento forte correu por toda casa, bateu portas, abriu janelas, levantou a poeira e acordou a criança que chorou, mas ninguém quis niná-la. Assustado, correu para ver o que havia acontecido.

Logo o choro se foi e a pequena alma adormeceu, acarinhada por seu anjo da guarda (talvez). Observou da porta a criança se acalmando com o som das folhas da mangueira que corriam na calçada, embaixo da janela. No quarto ao lado, os outros nem se moviam. No chão a garrafa de cachaça indicava o motivo deles não terem acordado.

Lá fora o tempo revolto era ainda mais calmo que dentro de seu peito.

Como um vigia dos sonos juvenis, andava entre os lixos e os jovens deitados pelo piso sujo. Enquanto as camas vazias serviam de guarda-roupas para as vestes encardidas, a juventude estava jogada e embriagada.

Tudo estava fora do lugar. Copos descartáveis espalhados pelo chão, roupas arremessadas para fora do varal e o coração se apertava, na tentativa da fazer correr uma lágrima qualquer. Seguia a passos lentos com sua ronda, enquanto o vento continuava a correr.

A noite foi fria, longa e seca dentro e fora do coração acelerado. Pronto!, os olhos úmidos aliviavam o tempo seco e tudo lá dentro ficou um pouco mais desacelerado. Chorou, dormiu, sonhou e pela manhã conseguiu até cantar uma canção triste.

O Sol não nasceu, só o vento chegou trazendo as nuvens, na tentativa de estender a noite dia-a-fora. Fechando o casaco protegeu a garganta e ao longe uma luz avermelhada se esforçava para romper o horizonte e ultrapassar a parede espessa nublada.

Tudo era estranho. Nada fazia sentido. Em casa, dormiu de verdade e sonhou com o fim do mundo. Tomou alguns remédios, viu histórias tristes na tv e abriu a cortina para saber se o mundo ainda estava inteiro.

Adriana Calcanhoto - Metade

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Curto esse Curta!

Romeu e Julieta (Rómeó és Júlia)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Amanhã, talvez

Um corpo cansado que se levanta em meio a um temporal. Foi apenas um susto, era um sonho. Pesadelo, talvez. As mãos procuram pelos olhos pesados de sono e os esfregam para que o coração se acalme e possa crer que tudo não passou de uma divagação noturna.Os pés tateiam o chão buscando as sandálias gastas, mas o corpo teima em permanecer imóvel.


Em uma manhã fria onde nem mesmo os cachorros queriam latir e permaneciam encolhidos nos tapetes, nas entradas de suas residências, esperando sobras do café da manhã ou um afago qualquer. Não haviam motivações, nem razões, que o fizessem acreditar que sair dali fosse o melhor naquele dia.

A água gelada repelia ainda mais o despertar. Assim que seu rosto se molhou pareceu retomar a consciência. Reconheceu-se diante do espelho e notou as marcas do cansaço e das noites mal dormidas há quase um ano. Todos se despediam, saíam e a casa vazia era mais um motivo para que ele não entedesse por onde ia sua vida.

Lembrou-se do sonho. Salvou os seus, pensou que aquilo podia ser verdade. Que estivesse mesmo em meio ao caos em uma ilha qualquer. A tentativa era a de encontrar algo de interessante, mas o esforço da imaginação não superou a realidade dos seus dias enfadonhos.

A TV servia apenas para distrair os pensamentos, o rádio já não tocava nada que lhe agradasse e as pessoas, na tentativa de serem diferentes, se vestiam com as mesmas roupas e falavam das mesmas coisas.

O telefone toca e sua chefe tenta simpaticamente trazer explicações e uma falsa sensação de que "tudo foi resolvido". Ele apenas sorri, agradece e desliga o telefone sabendo que nada mudará. Sabendo que ninguém, além dele, realmente poderá mudar sua vida.

Queria gritar, mas não tinha o mínimo de vontade. Andou por toda a casa, olhou para a poeira sobre os móveis e o vento arrastando o lixo na rua, lá fora. Arastando os pés, voltou para o quarto e viu na cama o alento para aquele dia. Onde está o sentido das coisas? Se acomodou, virou-se, ajeitou a coberta e tentou retomar seus sonhos até que um dia melhor nascesse.

Lobão - Essa noite não