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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Preto Consciente

Ter raízes mineiras, goianas, matogrossenses e potiguares me pluralizou. Mesclou e abrasileirou minha cara lerda, meu nariz semi-largo, meu cabelo cacheado, minha barba fechada, minha falta de tamanho, ou mesmo meu sangue grosso.

Mas ainda com tanta mistura me declaro negro. Sim, minhas raízes são negras. Também possuo brancas e indígenas, mas a influência afro pesou na mistura. Uns me definem como moreno, mas sei bem o que vejo além do reflexo no espelho e por vezes nos olhares mais temerosos.

Que um dia esse feriado seja abolido. Não numa assinatura mal-feita, como foi com a escravidão. Mas em definitivo, sem rastros de sangue, intolerância e discriminação. Que todos possam se olhar no espelho e  perceber a cota negra em suas veias.

Sinto-me consciente de quem sou. Um preto consciente da sua história familiar, social e cultural. Mas a grande verdade é que enquanto precisarmos nos definir em tudo, nada se resolverá.

Enquanto houver as separações haverá essa diferença boçal de gente que se acha ser superior. Aliás, esse discurso já promoveu e ainda promove guerras.

Hoje eu queria apenas lembrar que numa sociedade tão mista e ao mesmo tempo tão intolerante e preconceituosa quanto a nossa sempre é dia para se ter consciência, negros, índios, pardos, amarelos, vermelhos e brancos!

Criolo - Sucrilhos 

domingo, 9 de novembro de 2014

A Extinção do Mal

Era cinco e pouco da manhã quando acordei assustado com a claridade. Desacostumei com esse dia que começa cedo demais longe do planalto central.

Uma conferida no relógio fez tudo se acalmar. Mas com o sono perdido a solução foi ler meu livro de mensagens psicografadas por Chico Xavier. Na publicação apenas mensagens atribuídas à Bezerra de Menezes e Meimei.

O texto, escolhido aleatoriamente, trouxe a forte e bela mensagem de Bezerra e a reflexão para vários momentos da vida. Reforçando e apoiando a conduta de evitar o embate, certos desgastes e o exercício da paciência e da tolerância (nem sempre fácil e nem sempre conseguido).

Mas, não por acaso, a mensagem chega em momento oportuno para todos nós que  almejamos um mundo melhor. Seja no universo ao nosso redor, ou naquele pequeno infinito que existe dentro de cada um.


Extinção do mal

Na didática de Deus, o mal não é recebido com a ênfase que caracteriza muita gente na Terra, quando se propõe a combatê-lo.

Por isso, a condenação não entra em linha de conta nas manifestações da Misericórdia Divina.
Nada de anátemas, gritos, baldões ou pragas.

A Lei de Deus determina, em qualquer parte, seja o mal destruído não pela violência, mas pela força pacífica e edificante do bem.

A propósito, meditemos.
O Senhor corrige:
a ignorância: com a instrução;
o ódio: com o amor;
a necessidade: com o socorro;
o desequilíbrio: com o reajuste;
a ferida: com o bálsamo;
a dor: com o sedativo;
a doença: com o remédio;
a sombra: com a luz;
a fome: com o alimento;
o fogo: com a água;
a ofensa: com o perdão;
o desânimo: com a esperança;
a maldição: com a benção.

Somente nós, as criaturas humanas, por vezes, acreditamos que um golpe seja capaz de sanar outro golpe.
Simples ilusão.

O mal não suprime o mal.

Em razão disso, Jesus nos recomenda amar os inimigos e nos adverte de que a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem.

Bezerra de Menezes, psicografado por Chico Xavier

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Eu, você e a paz

Há tempos não ia ao congresso. Hoje "madruguei" (exagerando quanto a isso) pra participar da homenagem da câmara dos deputados ao iluminado Divaldo Franco e seu Movimento Você e a Paz.

Com uma vida inteira de ajuda e doação ao próximo, Divaldo é um dos nossos grandes exemplos dentro do cristianismo. Antes de ser um espírita, ele é um grande espírito cristão que praticou e pratica a ajuda aos mais necessitados, seguindo o exemplo do Cristo.

Assim como Chico Xavier, um homem do nosso tempo que não se cansa de ajudar e levar palavras de conforto, amor e paz aonde vai. Trabalho virtuoso, reconhecido e premiado pela ONU.

Hoje vi o plenário cheio, com todos atentos às homenagens, felizes pelo reconhecimento de Divaldo como um promotor da paz e apoiando o movimento ecumênico proposto por ele (principalmente em tempos de intolerância e tanta confusão gerada pelas eleições).

Como bem disse Divaldo, durante seu discurso no plenário, "O medo deu lugar a ira. Um resultado natural do ataque. A ira, fenômeno psicológico, que abre lugar ao ódio, rancor, insegurança, ciúmes... e o amor vem como solução. O amor é a alma da vida".

Com exceção de alguns, muitos, deputados que apenas confirmaram sua presença na sessão e saíram do plenário ignorando a homenagem ao simpático médium baiano. Mas para cada parlamentar que o ignorou havia uma dezena de pessoas que foram ali ouvir e também reforçar a importância dele que se intitulou como um ser humilde e que "o espiritismo seria o merecedor daqueldaquelas homenagens".

Também foram lembrados durante o evento o trabalho da Dra. Zilda Arns e de Chico Xavier. Dois importantes emissários da paz e do combate a desigualdade social. Uma bela e devida homenagem a essas três importantes personalidades da nossa história social/religiosa.

Que a paz seja um compromisso de todos. Cada um a promovendo como pode, mas sem deixar de contribuir para a melhora do nosso planeta. Que Zilda, Chico e Divaldo sejam nossos exemplos.


sábado, 4 de outubro de 2014

Intolerância Eleitoral



Desde o início do período eleitoral me mantive quieto quanto a intenção de voto ou a defesa desse, ou daquele candidato nas minhas redes sociais. Ainda me manterei sigiloso quanto ao meu voto, mas me manifesto contrário as declarações do presidenciável Levy Fidelix.

Democracia não dá o direito de ofender ou discriminar quem quer que seja. A democracia tem, entre outras premissas, a liberdade de expressão, sim! (entendendo que a liberdade de expressão não é ofensa e discriminação) Bem como a democracia preza pela igualdade nos direitos.

Um candidato à presidência não poderá, jamais, defender suas opiniões religiosas, acima da garantia igualitária de direitos para todos os cidadãos. Independente de opção/escolha afetiva e sexual, classe social e etnia.

Por isso é sempre importante lembrar que um pastor não pode impor os dogmas do cristianismo a um país, bem como um rabino, um babalorixá, um padre ou qualquer outro líder religioso não poderá impor suas crenças, caso sejam eleitos enquanto políticos.

O presidente deve ser o primeiro a garantir direitos iguais a todos. Assim sendo, ele não pode impedir a garantia do direito ao casamento por pessoas do mesmo sexo. Ele não deve ofender pessoas por terem uma opção ideológica/religiosa/cultural/musical/sexual... diferente da dele, especialmente por ser/querer o cargo máximo do Poder Executivo.

Os homoafetivos não são doentes para serem tratados "bem longe daqui" e a psicologia já afirmou que o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo não é uma doença, contrariando o presidenciável. A declaração de Levy ofende todos que lutam pela igualdade dos direitos, os homoafetivos, os simpatizantes e defensores da causa LGBT's e dissemina a intolerância e o ódio, ofendendo também quem luta por dias de mais amor, respeito e paz em nosso país.

Talvez ele não ofenda a 99,9% dos brasileiros como foi declarado, mas ofenda uma boa parte. A parte que busca por dias de mais respeito para com o próximo. A parcela que sabe que a igualdade dos direitos é o principal passo para um Brasil melhor.

Que essa eleição mostre a maturidade do eleitor brasileiro e que, principalmente, possamos afastar da liderança do nosso país aqueles que são intolerantes, preconceituosos, racistas e retrógrados que se valem da religião e da ignorância do eleitor para seu benefício político/financeiro.

Quando o "país do futuro" apresenta candidatos intolerantes e preconceituosos pode ser um sinal de que ainda estamos no passado.


Jorge Vercilo - Avesso

domingo, 17 de agosto de 2014

Os urubus logo sobrevoam a carniça

Pra muita gente é ridículo ver pessoas comovidas com a morte do candidato e ex-governador do Pernambuco, Eduardo Campos. Eu me abati. Eu me doí. Eu remoí meus fantasmas mais tenebrosos. A notícia me trouxe alguns nós, alguns entraves inexplicáveis e explicáveis.

Dos inexplicáveis, não posso falar muito. Daquilo que posso dizer, está a dor de reviver perdas inesperadas. O desequilíbrio, a falta de rumo, de prumo, de chão. A espera por uma notícia que desminta a tragédia. Achar que na manhã seguinte, quando se consegue dormir, se perceberá que tudo não passou de um pesadelo.

Esse atordoamento de ver gente jovem demais, feliz demais, boa demais ir cedo é, ironicamente, demais. Não que ele tivesse todas essas virtudes (talvez não tivesse nenhuma ou até mais, não sei), mas me aperta ver tanta gente indo embora com essa impressão de que não era a hora. 

Volto ao meu caso, minha vivência pessoal, para logo me colocar no lugar do outro. A família que perde seu eixo, seu prumo, sua sustentação e não sabe bem por onde recomeçar a juntar seus pedaços. Nesse caso, uma analogia aos destroços do avião, espalhados por dezenas de casas. Leva tempo pra se situar e tomar conhecimento do estrago.

Vi durante esses dias inúmeras piadas prontas sobre causas da morte relacionadas com possíveis atentados e mandandes. Mas isso é apenas a constatação de que tão logo a desgraça seja anunciada os urubus já sobrevoam. É esperado de gente medíocre o tripudio sob a dor alheia com a justificativa política, ou mesmo de que o brasileiro é "criativo". Uma pena tanta criatividade em prol da dor que nos é distante, mas que cedo ou tarde bate à porta de todos.

Quem já recebeu essa ingrata visita se comove. Comigo não foi diferente. Desde quarta uma sensação ruim, lembranças e mais lembranças. Na sexta eu senti, logo cedo, a presença forte da minha mãe e isso me fez não esperar muito do dia. Os detalhes da cozinha, a lembrança de segurar sua mão, alguma frase sempre repetida, o rádio, o som da rua, o relógio, o tempo... faz tempo, mas sempre parece que foi ontem. Acho que foi (outra vez) na quarta. 

Legião Urbana - Love In The Afternoon

domingo, 27 de julho de 2014

Remorsos

Desde a morte da minha mãe eu teimo em pensar que cada vez que escrevo/falo sobre o assunto já me basta para esgotá-lo. Tenho sempre a mesma impressão de que esvaziarei o que tanto me sufoca. O tema não se esgota. É recorrente nos textos e diariamente nas milhares de lembranças de sons, gostos, objetos, lembranças, piadas e, principalmente, naquilo que ela não está vivenciando.

De todos os parentes e amigos, eu acredito ser o que menos soube lidar com o fato. Nunca chorei tudo o que acredito ser o necessário para exorcizar muitos dos problemas surgidos com essa perda. Não bastando achar que foram poucas lágrimas, me questiono quanto minha atitude ser um demonstrativo de afeição. Minha cabeça quer medir amor conforme o sofrimento.

Vi  todos ao meu redor em prantos, mas eu não. Isso ainda me assusta, me corrói. Por quê e pra quê tanta coisa acumulada? Alguns me classificaram, na ocasião, como sendo muito forte. Só que esse "excesso de força", ainda hoje constante, têm causado cansaços, também constantes.

Não me privo de choros. Tenho até uma visão poética sobre eles, acho que são necessários quando os sentimentos estão excessivos. A válvula de escape. Só não sei "ativar" essa fonte. Buscar lembranças, cavá-las, para conseguir alguns tímidos choros têm sido o máximo alcançado.

Não bastando tudo o que já embola e bagunça a cabeça, sofro da síndrome de-uma-eterna-não-despedida. Em nosso último contato visual, saí me despedindo às pressas, correndo com minhas malas, voltei e nunca mais a vi. Fica sempre a pergunta de, por quê não me despedi como se fosse a última vez que nos veríamos? Porque antes das perdas sofremos de outra síndrome, a de-que-todos-que-amamos-não-morrem-de-repente. Uma ingênua descrença de que tudo pode acontecer, a qualquer momento, pro bem ou pro mal.

Sinto remorso, por uma não despedida. Por uma sensação de situação mal-resolvida. Penso em tantas coisas que poderiam ter sido ditas ou feitas. Penso que poderia ter havido um beijo, um abraço demorado, um gesto qualquer que selasse e marcasse como um adeus.

De tudo ficou o remorso eterno. A sensação de que, algumas vezes, voltarei pra casa e tudo estará como deixado. Existe uma descrença na situação, talvez por essa não-despedida. Mas qual preço pagaria por ter essa despedida? O mesmo que meu pai, irmão, tias pagaram ao vê-la morrer e tentarem desesperados "ressuscitá-la"?

Remorso, dúvida, incertezas... tudo se escrotizando, a cada dia, mais e mais aqui dentro. Mais uma semana começando, remoendo, revirando.

Simone e Zélia Duncan - Jura Secreta

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Sobre beijos e intolerância

Engraçado como um beijo causa tanto incômodo. Enquanto isso, cenas de violência, nudez e sexo passaram desapercebidas pela crítica do espectador de Em Família.

Desde sua estreia eu já vi: 
- uma personagem ser estuprada; 
- outro, espancado e (quase) enterrado vivo pelo galã da trama; 
- uma outra que humilha o pai, incentiva a filha a cair na putaria e passa o dia com um copo na mão;
- e por último, uma personagem que é suspeita de matar a empregada para ficar com a filha e agora descobriu que a criança é fruto de uma pulada de cerca do ex-marido (que ela largou pra ficar com o então pai da menina).

Com tantas polêmicas que me pareceram mais incômodas e absurdas, por quê o casamento (que igual a todos têm um beijo) é a cena mais "desnecessária" para ser exibida em horário nobre?

Há, nesse burburinho inconformado, que precisa de postagens irritadas nas redes sociais, justificativas cristãs por parte de alguns e argumentos intolerantes e exagerados de outros, todas as formas de preconceito possíveis.

Alguns comentários vêm até precedidos de um "não tenho nada contra...", ou "tenho até amigos que são..." para tentar amenizar, disfarçar, mas apenas escancarando e evidenciando, sem querer querendo, o preconceito em se assumir um preconceito.

Não tragam os trechos bíblicos como explicação, porque isso não serve de base para nenhum debate, ou de argumento para se justificar algo. Mas mesmo se insistirem em tornar a conversa mais religiosa, lembrem-se dos trechos do livro sagrado em que se fala do não-julgamento ao próximo, do amor e do respeito ao outro e que Deus será quem irá julgar a cada um conforme seus atos.

Não digam, os mais puritanos, que todo esse alarde é em defesa das crianças. Assim como aconteceu com a nossa geração em relação a anterior, nossos filhos, sobrinhos, netos e afilhados saberão entender e lidar muito melhor com as diferenças. E não será porque a rede Globo desvirtua e destrói a família, mas sim porque eles terão uma capacidade superior de entendimento do mundo.

Para essa geração será imprescindível perceber que há outras formas de amar, constituir uma família e, principalmente, respeitar o outro. 


Marisa Monte - Beija Eu

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Precisa-se de paz

Só espero que este ano se inicie um novo ciclo pra mim, que se acabe a minha fase ruim, meu tempo fechado, meus dias de chuva... porque tudo parece estar fadado a um desgraçado fracasso, a um desmantelamento ao meu menor toque.
A mão de Midas às avessas que, no lugar do ouro, parece deixar os objetos tocados sem nenhum valor. Apodrece a carne, murcham as flores, trincam os vidros e afasta tudo. 

Num eterno medo de ter medo, temendo tudo que não cabe dentro das minhas angústias e imediatismos. O que não é pra agora não serve, não presta, inutiliza-se...

Sem frases de auto-ajuda, versículos bíblicos, trechos de canções ou ditos populares. Só quero saber para quando chega aquela encomendada paz?

Pedro Altério e Bruno Piazza - Paz Interior



sábado, 14 de junho de 2014

Sonhos e Sons

Num trânsito dos menos agradáveis, na volta pra casa, o som do carro tocava aleatoriamente as músicas do pendrive. De repente a escolha traz a música mais bonita (e mais triste, na minha opinião) do rock nacional.

De imediato pude ouvir minha mãe, como se estivesse sentada ao meu lado, dizendo: Essa música é linda! Com certeza ela cantaria toda, alto e rindo dos outros nos carros ao lado se assustando com suas gargalhadas. E como sempre, essas lembranças vêm trazer à tona tudo, o mundo, o tempo, as histórias...

A cabeça voltou alguns anos e de repente foi atrás, na noite anterior. Me encontrei com minha mãe nas ruas. Ela tão feliz, me segurando pelas mãos e levando pelas quadras, praças. Parecíamos estar na nossa cidade, mas ao mesmo tempo não conseguia reconhecer alguns dos espaços por onde andamos.

Eu não disse nada, não conseguia falar por conta do choro. Queria avisá-la, mas sabia que aquilo nos afastaria outra vez. Só chorava, enquanto ela fingia não ligar/ver a minha reação. Ah, que saudade daquele sorriso, daquelas gargalhadas. Haja choro!

Enquanto isso, o trânsito seguia se arrastando numa média de 10 km/h. Cada frase cantada remetia a cada lágrima sonhada. Mas as choradas agora eram reais, quentes, úmidas e salgadas. Tentava acompanhar o Renato, mas volta e meia engasgava em uma estrofe, ou no refrão.

Repeti a canção até chegar em casa, onde minha tia me trouxe outra lembrança (por conta dessa canção) numa praia perto de Salvador (BA), outro momento onde minha mãe também estava. De tarde, querendo descansar, chegando até a praia e vendo se o vento ainda estava forte...

Legião Urbana - Vento no Litoral

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Feliz dia aos namorados!

Dia dos namorados, flores, declarações, pedidos de casamento, lágrimas dos solteiros, saudades dos viúvos... a data é marcada por lembranças. Todos têm alguma história para contar no dia de hoje.

Trago um clássico da literatura e da música popular brasileira. Vinicius de Moraes, o poetinha, que fez da nossa música uma das mais apaixonadas do mundo. Um dos que mais falou/cantou sobre o amor. Eterno apaixonado.


Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude

Nana Caymmi - Eu Não Existo Sem Você/Soneto do Amor Total

domingo, 20 de abril de 2014

Quase Choros

Ao lado da minha cama, ela repousa numa foto. Congelada no tempo, permanece ali do meu lado. Meus olhos decoram cada detalhe, cada ponto dentro da moldura. Enquanto me lembro saudoso como eram os dias ao seu lado. Desesperançoso com aqueles que ainda virão.

O choro fica por um eterno instante, esperando. À mercê da última gota. E esse quase chorar se intercala entre uma prece e uma tristeza. Como aquelas certezas que o tempo se encarrega de trazer, mesmo sabendo que ele nunca levou qualquer ausência pra longe daqui.

Queria poder chorar, mas choro não se vulgariza, não se banaliza. Esse choro entalado, me corrói. Se prende e vai encharcando a alma. Pesando, inchando e prendendo tudo por dentro. Talvez por isso os lamentos sejam tão repetitivos e rotineiros.

Choro não sai, lágrima não cai, grito não sobressai e me fica e dúvida se talvez seja por isso que a mãe não volte.

Vanessa da Mata - Por Causa de Você

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Telefonema aos Mortos

Semanas atrás, no meio da tarde, o telefone tocou e por um segundo pensei em não atender. Antes não tivesse. Do outro lado o homem perguntou pela minha mãe...

Não sei o que aconteceu. Gaguejei antes de avisá-lo, extremamente enfurecido, que ela havia falecido. Não sei se a informação foi indiferente a ele, ou se eu estava abalado demais e não me lembro se ele ao menos se desculpou. Continuou a conversa querendo saber se havia algum pensionista, fiquei ainda mais puto, encerrei a conversa e logo desliguei.

Nunca, desde sua partida, me senti tão desnorteado com essa situação. Não soube o que fazer, mesmo que alguns amigos sempre me digam que fui forte e reagi bem à perda dela, não soube o que fazer.

A sensação estranha foi como se a vida me tivesse ligado para me lembrar da morte. Uma "pegadinha" sem-graça rolou nesse dia. Abriu-se um novo corte, profundo. Acho que a coisa mais sutil e doce que consegui chamá-lo foi de FDP, daqueles ditos de boca cheia.

Não houve choro, de imediato. Revolta, talvez. Como alguém que recobra a consciência e se lembra de TUDO o que se perdeu "apenas" com a morte de uma pessoa. Como se as mágoas e tristezas, dos quase dois anos, ficassem entalados na garganta e de repente saíssem. Mas o choro, esse está por um triz, por uma saudade qualquer.

Engenheiros do Hawaii - Perfeita Simetria

terça-feira, 11 de março de 2014

Pequenas Histórias Reais - Homem Comum

Era uma vez um homem comum que vivia, como quase todos os homens comuns, a eterna busca pela felicidade. Almejando sempre o que não tinha.

Cada vez que conquistava algo, queria outra coisa que não estava ao seu alcance porque achava que aquilo o faria feliz.

E foi assim com tudo em sua vida. As conquistas lhe tiravam o interesse. Importava-se apenas com os caminhos, não com os destinos.

Sem ninguém para amar, sem nada nas mãos, sem ter vivido plenamente cada dia, esperando que o amanhã fosse melhor, morreu só. Fim.

Os Paralamas do Sucesso - Um Pequeno Imprevisto
)



domingo, 2 de março de 2014

(in)Sonia

A grande piada da noite chama-se insônia. A falta de sono, sim. Ela mesma, ou a falta dela. Aliás, chamar não chamei, mas tem quem vem sem nem ser bem quisto.

Mas minha mãe também faz falta, e não sei que nome dou pra isso. Seria também inSonia? A falta da Sonia. Quanto a esta, não adianta chamar, chorar, rezar ou procurar... Ficou só a essência diluída em lágrimas... foi-se.

E sempre me dizem que tem de ser assim. Têm coisas que se vão, são tão não mesmo quando precisamos do sim.

Sobram faltas nessa madrugada longa que vem por aí. Quer dizer, agora ela está bem mais curta. E não tô curtindo isso. Só me restam 2h e pouco de sono (ou quase isso) antes de me ajeitar pro rala...

Bora lá universo, conspira a meu favor. Apaga minha cabeça, minhas tristezas, meus cansaços, minhas ausências, minhas carências, minhas descrenças, minhas noias, minhas lombras, minhas lembranças, minhas mortes, meus cortes, minhas cicatrizes, meus desesperos, meus apelos, meus vazios, meus outros eus.

Amém. Agora posso tentar seguir.

Jota Quest - Só Hoje

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Dor, mente

Tudo veio ao mesmo tempo. Toda a vida tentando ser lembrada em um único momento. Saudosismo, arrependimento, saudade, tristeza, alegria... os sentimentos também vieram de uma vez. O peito acelerava, disparava como quem vê um fantasma do passado ali na frente. Mãos trêmulas, palidez...  a cabeça doeu, não sabia se por um efeito colateral ou como uma auto-defesa.


Liah Soares - Tempo Perdido




Enquanto sentia a dor, a cabeça tentava refazer a vida. Voltava no tempo e tentava mudar muitas coisas, coisas grandes demais para serem mudadas, coisas antigas demais, mas que transformaram os dias atuais. Quem ficou pra trás? Quem permaneceu ao seu lado? Quem encontrará amanhã? Quem reencontrará o caminho pra sua vida? Só se esquecera não pode fazer nada, nem mesmo mudar aquilo que foi feito, ou desfeito, lá atrás.

Não bastava fechar os olhos e reinventar seu mundo, cedo ou tarde é preciso encarar a realidade. Abrir os olhos e perceber o quanto uma escolha pode trilhar caminhos. Continua!, ouviu alguém gritar lá dentro. Olhou o horizonte e seguiu, tendo de fazer mais escolhas (talvez mais acertadas).

Maneva - Saudades do Tempo



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ensaio sobre discursos inflamados, marginais, postes, vingadores e jornalistas juízes

"O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente que invés de prestar queixa contra seus agressores ele preferiu fugir, antes que ele mesmo acabasse preso. É que a ficha do sujeito está mais suja do que pau-de-galinheiro. 

No país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, que arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível. O Estado é omisso! A polícia desmoralizada! A justiça falha! O quê que resta ao cidadão de bem, que ainda por cima foi desarmado? Se defender, claro!

O contra-ataque ao bandidos é o que eu chamo de legítima-defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite.E aos defensores dos direito-humanos que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha: Faça um favor ao Brasil, Adote um bandido!". Assim foi o discurso inflamado da jornalista do SBT, Rachel Sheherazade.

Quem deu o direito à jornalista de classificar o menor como "marginalzinho" e aos agressores de "vingadores"? O grande problema nisso tudo é alguém que está na frente das câmeras para milhões de pessoas (tem uma força e influência imensa) apoiar a violência, pregando o tal "olho por olho" como medida. Quem está na mídia precisa ser cauteloso ao falar. Mas sabemos que este não foi o primeiro, nem será o último discurso polêmico dela.


Engenheiros do Hawaii - Muros e Grades


Ainda q
ue se justifique pelo cansaço da impunidade e do abrandamento das leis para menores, o julgamento de qualquer ser-humano não deve ser feito nas ruas a revelia. Se assim for estaremos a um passo do caos e sem diferenciar pessoas do bem e os bandidos.


Para além de todo esse meu discurso no melhor estilo "defensor dos direitos-humanos", vemos inúmeros culpados nesse "conto de fadas". O menor "marginalzinho" que a colega não sabe e nem quer saber porque tornou-se um infrator e ela apenas sabe que tem um extensa ficha criminal, os "vingadores" que resolvem ir às ruas agredir quem transgride a lei, a jornalista que apoia a justiça feita com as próprias mãos, incentiva a posse de arma pelo cidadão e debocha da defesa aso direitos-humanos.

Trabalho há 3 anos com a população de rua. Sofri ameaças e agressões diversas, mas aprendi que, na maioria dos casos (especialmente de crianças e adolescentes), foram violentados e agredidos dentro de casa, sofreram as maiores violências possíveis por aqueles mais próximos e "confiáveis" e viram como refúgio as ruas e a marginalidade. E digo mais, nenhum quis estar num abrigo (principalmente público). Justifica a busca pelo crime, drogas e a violência? Não! tanto que conheço casos de pessoas que apesar de tudo mudaram sua história.


Criolo - Ainda há tempo


Talvez nenhum de nós tenha entendido plenamente o que a Rachel disse, mas garanto que alguns milhões ouviram a opinião dela como um apoio e incentivo à vingança, ao porte de arma, crítica ao governo, à justiça, à polícia e a falta de punição aos menores infratores (e no fim das contas acabou sendo tudo isso mesmo).

Como jornalista, digo que ela está eticamente errada. Como cidadão, entendo e apoio ela estar tão indignada com tanta impunidade, mas ainda assim não cabe a ela julgar quem quer que seja, aplaudir e incentivar o errado.


É preciso sempre estar bem atento àquilo que a TV/Rádio/Internet/Jornais nos vendem todos os dias. Há interesses, há muito mais do que nos levar notícias por trás do discurso inflamado de Rachel. No fim das contas foi-se a censura dos anos da ditadura e veio uma outra, pior. Velada, que nos traz a falsa sensação de ter acesso a tudo. E isso é mentira, recebemos as notícias maquiada de acordo com os interesses de quem a está noticiando e todos sabem disso.


Titãs e Rita Lee - A Televisão


Quando se fala uma coisa e interpretarem duas ou três existe um sério problema nisso. Quem tá exposto na mídia tem um poderio imenso perante o telespectador. Influencia muito na opinião e no pensamento de gente de pouca instrução (e até de quem tem acesso a muita informação, mas é alienado) e isso me assusta. Uma mensagem errada tem consequências trágicas. A história da comunicação traz vários casos. 

Rachel não está de todo errado, quando se coloca como uma cidadã indignada com os rumos da violência em nosso país, mas diferente do que seu discurso nos trouxe, o combate à violência nunca foi um problema exclusivo da justiça, polícia, governo e defensores de direitos humanos. Ela também tem seu papel/responsabilidade nisso. Bem como eu, você e qualquer outra pessoa, até mesmo o marginalzinho amarrado ao poste. Ninguém pode, nem deve ser um conformado com a impunidade e a violência extrema em que vivemos. O cidadão de bem não quer, não precisa, nem cogita ter uma arma em casa como solução à violência.

Estamos todos saturados de tanta violência, impunidade, escândalos e tragédias. Por isso, por todo esse clima tenso em que vivemos, qualquer faísca pode explodir. Precisamos nos indignar, reivindicar direitos, cumprir com deveres, mas (mais do que nunca) buscar a paz e a boa convivência. Precisamos de gente disposta a nos trazer novos caminhos, novas soluções para os velhos problemas e a melhor forma de se amenizar a violência. São certos discursos e pensamentos que incitam pessoas a acender rojões e lançá-los no meio da multidão, matando um cinegrafista, acreditando que isso é uma forma legítima de protesto à violência. Ou quem sabe, dizer que adolescentes negros e pobres circulando por um shopping oferecem perigo à classe média e aos ricos. Prudência, acho que foi isso que faltou à colega jornalista. 

Gabriel o Pensador - Até Quando?

domingo, 12 de janeiro de 2014

O Vencedor

Hoje meu avô completa 90 anos. Acho que ele deve olhar pra trás e se sentir o homem mais feliz do mundo pela trajetória de conquistas que fez em quase um século. 

Fugindo da falta de oportunidades do nordeste, conseguiu construir sua vida nas centenas de obras espalhadas pela futura capital do país. Ergueu seu pequeno castelo e foi soberano, seu feudo com todos ao seu redor. Sem estudos, com a vontade de conseguir algo melhor, fez sua história longe dos irmãos, pais, amigos...

Vindo num pau-de-arara em busca de sonhos, deixando pra trás o quintal de areia, repleto de mangueiras, coqueiros, araçás, cajueiros, jaqueiras, abacateiros e as ervas (para as mulheres da sua família benzerem a vizinhança e também a mim quando foi preciso), para conhecer o Cerrado de árvores tortas, como suas pernas. 

Conquistou o que muitos outros conterrâneos não conseguiram. E não falo em riquezas e luxo, conseguiu uma casa, estudo e trabalho para seus filhos, lhes deu o suficiente para viverem dignamente e feliz.

Família, filhos, netos, bisnetos... 90 anos para ver e saber muito, mesmo estudando tão pouco (ou quase nada). Noventa com corpinho de setenta, disse uma amiga minha. Noventa com a disposição e o humor de vinte, digo eu. E posso afirmar que nos últimos 28 anos não conheci ninguém tão feliz e sábio.

Quantos de nós não teremos essa maravilhosa chance de viver quase um século, de ter uma saúde forte, uma família próspera e feliz, um casamento de quase 60 anos? Claro que houveram tristezas e perdas no meio do caminho, mas nada que não fizesse parte da vida de todo mundo.

Um João, um Silva, um negro, um nordestino, um semi-analfabeto, um sábio, um comediante, um filho, um irmão, um tio, um esposo, um pai, um avô, um bisavô, um vencedor por 90 anos consecutivos.

Sim, viver em um país de tantas desigualdades, preconceitos, violência e dificuldades não é nada menos do que uma vitória, uma dádiva, um prêmio dado só a quem for merecedor. E para quem acha isso muito se preparem, o pai dele passou os 100 e pelo jeito meu avô tá com disposição de passar também.

Hoje ele se encontra no hospital, recuperando-se de uma pneumonia/bronquite, mas tão tranquilo e engraçado como só ele sabe ser, conquistando fisioterapeutas, equipe de limpeza, enfermeir@s, médic@s e técnic@s de enfermagem.

Meu avô, o grande campeão de hoje!

Los Hermanos - O Vencedor

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Um 2014 feliz pra caralho!

Passados os festejos de fim de ano, deixando 2013 para trás, parece que os efeitos psicológicos-energéticos-místicos da mudança de ano fizeram efeito por aqui. Mesmo desanimado com tanta coisa, por uma série de situações e momentos ruins, a contagem regressiva no dia 31 de dezembro revigorou minhas forças.

Uma esperança tomou conta de mim e logo planos vieram a mente. Lógico que tirá-los da cachola e colocá-los em prática é uma outra história, mas estar entusiasmado com isso e planejá-los também faz parte do processo de realização.

Não sei se foi o tal do 13 que azarou tudo, se o problema é o aquecimento global, o fim dos tempos, ou porque "o gigante acordo". Se foi um ano de sorte não foi pelas bandas de cá, a sorte deve ter aparecido só se foi pro ex-técnico e jogador Zagalo (que tem o número treze como "amuleto") ou para os ganhadores da Mega da Virada. 

Mas ainda assim foi um ano de momentos felizes. Nascimentos, casamentos, realizações... 2013 foi generoso ao permitir sorrisos também. Agora é a vez de 2014. Esperanças renovadas. Como se diz há mil anos: Ano novo, vida nova!

Tô meio que empolgado com esse ano novinho que vem aí, mas sem tentar demonstrar muito. Tô me segurando pra não sair falando por aí que sinto que este ano vai ser bom pra caralho! Meu medo é ser decepcionado e perceber que o tal ano da Copa, Eleições e tudo mais foi uma merda. 

Mas não tem estresse, lembrei que quem faz minha sorte sou eu. Lembrei que sou eu quem tem que correr atrás das paradas maneiras na minha vida. O tempo pra ser feliz é o agora. Aquele futuro maravilhoso que a gente almeja começa hoje. Então no fim das contas acho que tô certo, 2014 vai ser foda!

Titãs - Daqui pra lá