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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Descrença e Fé

Véspera de Natal e já não me sintia bem. Não apenas por mim, mas tenho a sensação que a cada ano o aniversário de Cristo fica menos empolgante para todos. Cada vez menos casas enfeitadas e pessoas mais desanimadas com a data.

Pra mim não era diferente, principalmente sem minha mãe e minha avó. Houve uma ceia, houveram presentes, mas os ausentes é que foram o tema desse ano. Fui cumprir a tradição consumista-natalina e levei meu presente para meu afilhado.

Um arremedo de rei-mago seguindo a estrela (pelo horário a única estrela no céu era o Sol, posicionado no rumo da casa dele) até o lar do pequeno filho de Deus (meu afilhado).

Presentes entregues, conversa feita e chego no horário de começar a oração familiar. Minha comadre com mãe, marido, filho, irmã e padrasto realizam o evangelho no lar, pequeno culto familiar tradicional do espiritismo que traz a leitura de trechos bíblicos, textos e orações para reflexão, discussão e análise da mensagem.

Grata surpresa para um coração aflito. A mensagem do dia falava da fé. Manifestada de centenas de formas, mas que independente disso levava a um mesmo objetivo. Durante as orações as ausências foram lembradas, mas quase que consoladas simultaneamente.

Como me aliviei. Como renovei minha simpatia pelo Natal. Claro que ainda foi foda e impossível sair ileso, mas foi menos dolorido (bem menos). Um dos meus irmãos viu seu primeiro Natal ao lado da filha, mas o segundo sem minha mãe. Voltar ao almoço de família no dia 25, na casa da nossa avó e não ter nenhuma das duas ali foi cruel demais pra todos, especialmente pra ele.

Como disse, não saímos ilesos, mas a fé me fez passar melhor por tudo isso. Acho que ainda vai levar muito tempo, ou talvez nunca seja como antes, para que o Natal recupere a alegria festiva de tempos idos. E é seguindo a doutrina que minha mãe adotou (especialmente após a perda do seu pai) que vou resistindo e seguindo, alimentando minha fé com migalhas de esperança.

Chico César - A Prosa Impúrpura de Caicó

domingo, 8 de dezembro de 2013

Brasil: O país do futuro (distante)

Nas últimas semanas duas pesquisas interessantes foram divulgadas a respeito do Brasil. Um pouco ofuscadas pela ansiedade dos torcedores brasileiros/mídia com o sorteio dos grupos da Copa 2014. Os dados classificam nosso país quanto à corrupção e a educação.

A primeira pesquisa aponta o Brasil em 72º lugar no ranking da corrupção. Uma ligeira "melhora" para nós que, no ano passado, estávamos em 69º. A classificação é feita com base em opiniões de especialistas, empresários, agências de risco, investidores e pesquisas de 13 entidades internacionais sobre a percepção que eles têm sobre a transparência do poder público dos países avaliados.

Já na educação o Brasil também vai mal. Dos 65 países classificados, ele está em 58º lugar. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, em inglêsavalia três áreas do conhecimento: matemática, leitura e ciências. As avaliações acontecem a cada três anos e em 2012 a matemática foi a área avaliada. Apesar de sermos o país que apresentou a maior melhora na pontuação, o índice ainda é preocupante.

Retomo ao primeiro parágrafo, onde falava sobre o entusiasmo e a euforia sobre o sorteio do campeonato mundial de futebol. Porque não fomos avaliados quanto ao desempenho em Copas do Mundo? Existe em todos nós um monstruoso conformismo quanto às questões avaliadas e citadas acima. Concordamos que somos um país corrupto e nossa educação a pior. Mas o que fazemos quanto a isso?

Buscamos a melhor escola particular que cabe no nosso orçamento e lá matriculamos nossa cria. E quanto a corrupção? "Isso aí não tem jeito", "É tudo igual, só muda a sigla do partido", argumentam alguns. Outros são bem claros, "voto em branco", ou então "voto no fulano, é tudo corrupto, mas ele é melhor pra mim". 

É isso companheiros, não estamos nem aí para as pesquisas, avaliações, índices e pontuações. Queremos a taça, a sexta estrela no peito. Nosso conformismo, enquanto não nos afeta diretamente, faz com que isso não seja nenhum problema direto. As manifestações que reivindicavam 6 milhões de coisas (tudo, ao mesmo tempo, agora) que ocorreram este ano, foram apenas um alvoroço (#ogiganteacordou), disperso com alguns tiros de borracha, sanções presidenciais meia-boca e misteriosos grupos de mascarados (que não eram ninjas, mas surgiram do nada) para desarticular estrategicamente o movimento.

E a cereja do bolo é que a mídia divulga essas pesquisas para cumprir seu papel social de levar a informação ao povo, mas principalmente para que as classes média e alta digam: "Eu quero é novidade!", enquanto leem a informação de seus smartphones, tablets, notebooks e afins, assistem em suas TVs de LED/LCD (já compradas para o mundial), ou escutam no rádio dos seus carros.

Legião Urbana - 1965 (Duas Tribos)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Consciência... negros, brancos, índios e mulatos!

Desde a semana passada vejo um certo burburinho a respeito das cotas para negros em concursos públicos. Uma maioria, esmagadora, se posicionando contrária a ideia de que a medida adotada por universidades em todo o país se estenda às repartições públicas.

Acho válido o objetivo das cotas. Acredito na defesa da medida como um "reparador" dos danos causados em mais de 500 anos de discriminação e abuso contra uma grande parcela do nosso país. Não precisa ser um profundo conhecedor da história para saber o que se passou com os milhões de homens, mulheres e crianças arrancados do continente africano e levados mundo a fora para servir aos senhores e senhoras religiosos e bondosos (que contribuíram muito bem com o reino e iam à igreja aos domingos).

Um colega de jornalismo, professor de uma conceituada universidade federal, esbravejou quando me posicionei a favor da medida, anos atrás. Logo ele respondeu que não tinha culpa nenhuma de nada e não poderia pagar "Eu não fiz nada contra os negros". Fiquei sem entender. Um jornalista, professor universitário, intelectual, cineasta, com um discurso tão inflamado e cheio de ódio. Por quê?

Não consegui achar motivo, no fundo dos olhos verdes e da pele rosada do colega. Mas talvez todo o contexto em que ele se encontrava podia dizer por si só. Não tenho a pele negra, mas me considero negro por saber bem do meu passado, do meu avô com seus quase 90 anos e do meu bisavô que morreu com mais de cem anos. Ou mesmo do meu pai, mais claro do que eu, mas com um dos cabelos black powers e grisalhos mais maneros que conheço. Assim como sei das minhas raízes indígenas (da bisavó pega a laço que todos temos) e europeias também (com meus avós, bisavós e tios-avós de olhos verdes, azuis e cor-de-mel).


Ellen Oléria - Zumbi


Meu bisavô nascido no início da década de 1880, viu um Brasil que nenhum de nós viu. Por pouco ele não nasceu escravo (salvo pelo "Ventre Livre"), mas sentiu o poder de uma discriminação de quase 400 anos sobre um povo que nunca teve direitos. Nasceu vendo pais analfabetos, morreu analfabeto e deixou uma dezena de filhos analfabetos. Com certeza virá alguém dizer que não estudaram porque não quiseram. Não, caras-pálidas! Não estudaram porque não puderam e o trabalho era fundamental para sua sobrevivência.

Trabalhar de domingo à domingo, sob Sol e chuva para garantir o mínimo do mínimo, recebendo muito pouco (ou quase nada). Ainda assim ultrapassou os cem, viu um século inteiro de pequenas melhorias, mas não o suficiente para que os filhos tivessem uma vida tão melhor quanto a dele. Alguns viveram e morreram na mesma casa minúscula, de teto baixo, quatro cômodos e que (muito tempo depois) ganhou o luxo de um banheiro dentro de casa.

Não quero, de maneira alguma, comover quem quer que seja com esses relatos, mas acho que as cotas reparam (ainda que tardiamente) um mal histórico. Os negros "recém-libertos" se viram escravos da miséria e ignorância numa escala ainda pior do que quando pertenciam aos seus senhores. O "favor" que a princesa lhes fez tinha, muito mais, uma pressão internacional por trás do que um bondoso gesto real. Os ex-escravos se viram livres, mas sem estudos e ninguém disposto a pagar por um serviço que antes eles faziam gratuitamente.

Quando os senhores se viam no direito de pagar por algo, a esmola era dada com a má vontade que dizem dar até dor de barriga em quem recebe. Sem estudos, moradia, emprego e logo sem saúde, o que fazer para não morrer de fome, nem ver seus filhos morrerem? A resposta se dá com milhares de negros presos por furtos e roubos, resultando numa triste relação de "amor" e ódio com a polícia e que todos sabemos o final.

Chico César - Respeitem meus cabelos brancos


A história do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, tem um importante capítulo a partir do momento em que recebeu milhares desses ex-escravos, dando origem à centenas de cortiços no centro da capital (com péssimas condições sanitárias) e, posteriormente, após uma política de "higienização social" criou-se as favelas cariocas. Quais oportunidades você acha que se criaram para os negros apenas nos cem anos que meu bisavô viveu? O que, magicamente, melhorou com a abolição?

O grande problema é que as cotas tornaram-se uma solução de médio prazo, hoje temos colhido bons resultados das medidas adotadas pelas universidades há cerca de dez anos. Mas que outras medidas, além das cotas, tem se buscado? (talvez elas existam, mas desconheço) Ainda se sofre muito com o preconceito no nosso país e as estatísticas comprovam onde é que "o bicho pega".

Uma pesquisa apresentada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) traz dados preocupantes sobre a questão da violência contra a população negra do país. De acordo com o instituto o adolescente negro brasileiro tem quatro vezes mais chances de ser assassinado do que um branco. Ainda de acordo com a pesquisa, na década de 1980 a média de idade de negros vítimas de homicídio era de 26 anos, hoje ela é de apenas 20 anos. Segundo Daniel Cerqueira, chefe da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado das Instituições e da Democracia (Diest)mais de 60 mil pessoas são assassinadas a cada ano no Brasil, e “há um forte viés de cor/raça nessas mortes”, pois “o negro é discriminado duas vezes: pela condição social e pela cor da pele”¹.

Para a pedagoga Jussara de Barros "O dia da consciência negra é uma forma de lembrar o sofrimento dos negros ao longo da história, desde a época da colonização do Brasil, tentando garantir seus direitos sociais. (...) marcado pela luta contra o preconceito racial, contra a inferioridade da classe perante a sociedade. Além desses assuntos, enfatizam sobre o respeito enquanto pessoas humanas, além de discutir e trabalhar para conscientizar as pessoas da importância da raça negra e de sua cultura na formação do povo brasileiro e da cultura do nosso país"². 

Natiruts - Palmares 1999


A data é comemorada em 20 de novembro, em homenagem à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares e um dos maiores combatentes da escravidão (ainda que alguns historiadores afirmem que até mesmo Zumbi teve seus escravos). Mas não vim aqui polemizar, nem desmerecer, ou supervalorizar ninguém. Afinal, o que define pessoas boas e ruins está mais fundo do que a derme ou a epiderme. 

Este post é uma provocação à refletirmos sobre problemas históricos em nosso país. A história dos negros é sofrida, humilhante e cruel. As religiões de origem africana, os costumes, os estilos musicais e tudo referente à cultura negra sempre foram as que mais sofreram/sofrem preconceitos dentro de nossa sociedade.

Ninguém precisa concordar com meus argumentos, mas que a gente consiga refletir a respeito. Apóio as cotas universitárias para alunos de escolas públicas. Acho que isso atende tanto aos negros, pardos, mulatos e a muitos brancos que vivem uma situação de privação de dificuldades financeiras. Mas as cotas para negros transcende a questão de renda. Ela toca no âmbito do preconceito, que associada à baixa renda é muito mais cruel e desumana. As cotas buscam restabelecer um laço social de inclusão do negro e da sua cultura dentro da nossa sociedade.

Apenas acho que ninguém pode desmerecer, ou ridicularizar o sistema de cotas sem antes apresentar um bom argumento, uma outra opção para reparar os danos, ou uma solução para o fim do preconceito dentro da nossa sociedade. Para mim quem apenas critica, sem ao menos conseguir dialogar sobre o assunto, me parece um menino mimado e birrento que não teve seu pedido atendido de imediato e ao ver o irmão receber um presente qualquer se sente no direito de receber algo melhor.


Zeca Baleiro - Alma não tem cor


¹fonte:http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-10-17/ipea-jovem-negro-corre-37-vezes-mais-risco-de-assassinato-do-que-branco 
²fonte: http://www.brasilescola.com/datas-comemorativas/dia-nacional-da-consciencia-negra.htm


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Menor Idade Penal?


Dias atrás me questionava e conversava a respeito da redução da maioridade penal, relembrando e vendo alguns casos de menores infratores na TV. Difícil opinar, mas com certeza o que precisamos não é a redução. Antes que me preguem na cruz, quero deixar claro que sou a favor de adolescentes responderem por seus atos.

Mas o que acontecerá depois que reduzirem (caso isso aconteça)? Teremos jovens de 16 dentro de celas que já não cabem mais nem os marmanjos com mais de 18? Será, então, uma questão de tempo até que se peça a redução para 14, 12, 10...

Redução, infelizmente não é solução para o Brasil (pelo menos até os dias de hoje). Nem sei se tem sido solução em outros países onde isso já é uma realidade. Talvez a solução esteja na maior oferta de trabalho, creches, escolas e vários outros pontos que os contrários à redução sempre defendem.

Só que, mesmo não concordando com a redução, para curto prazo é difícil ver outras possibilidades . A juventude está perdida entre drogas e violência. Todos os dias adolescentes (e cada vez mais crianças) protagonizam atos de violência. Matam, roubam, sequestram e aterrorizam o dia-a-dia dentro das cidades.

Não sei se por culpa do "sistema capitalista"; se por culpa dos "pais" que largaram as "mães" sozinhas e não criaram nem assumiram sua responsabilidade com seus filhos; se por conta das mães de família que precisam trabalhar de domingo à domingo e não têm com quem deixar os filhos e (muitas vezes) os netos; se pelas crianças abandonas ao descaso nas ruas ou se por 200 outros motivos que cada um pode listar.

Não vejo luz no fim desse túnel. Pelo menos para amanhã, ou depois, não sei o que poderíamos fazer. Mas algo deve ser feito com urgência. A redução é um paliativo, que trará ainda mais problemas para nosso país com um sistema prisional tão desumano e cruel. O investimento em educação leva tempo, um tempo que muitos de nós não teremos até que ele se conclua.

Enquanto a pobreza, a criminalidade e a ignorância forem moedas de troca a cada quatro anos e nós eleitores/cidadãos nos submetermos a isso, é impossível esperar soluções eficazes. Até porque todos esses problemas movimentam questões financeiras muito maiores.

O tráfico e o crime organizado recrutam milhares de jovens soldados a cada novo dia, oferecendo o "status" que nossa TV vende a todo instante. O sexo e as drogas em excesso tornaram-se "culturais" dentro da sociedade. Enquanto a violência, enlatada e vendida pela América do Norte estimula um milionário e grandioso mercado de armas (fabricadas lá, por sinal).

A família não é mais um referencial (por favor não venham me dizer que o apoio ao casamento homoafetivo destruiu a família, pois muitas crianças abandonas por "héteros" têm garantido seus lares nessas famílias) e as religiões correm atrás do prejuízo, mas não conseguem salvar muit@s tanto quanto gostaria e deveria. Até porque a fé está em desuso e fora de moda no modelo sociocultural moderno, que precisamos nos enquadrar. Além disso, muitas religiões pregam tanto preconceito e intolerância (religiões que estão mais perto do que muitos imaginam) que fica difícil imaginar as coisas melhores.

E enquanto não se resolve tudo isso o que fazer?

Até lá, cabe a cada um cuidar dos seus, mas pensando e respeitando o outro. Caridade, respeito, compaixão, perdão... o cultivo do bem continua sendo a melhor saída e a melhor proteção (ainda que a crueldade e o interesse não respeitem nada disso) enquanto todos não aprendermos a lutar pela igualdade de direitos.

Legião Urbana - Mais do Mesmo


sábado, 2 de novembro de 2013

Curto esse Curta!

A morte é sempre motivo para frustração, angústia, apreensão, medos e lembranças dolorosas para todos que perderam pessoas próximas. Ninguém a espera, pelo menos a grande maioria de nós não. Hoje, Dia de Finados, mais do que lamentar e sentir as ausências é um dia para se pensar nesta hora derradeira.

E você, tem se preparado para a sua morte? Tem se preparado para a morte dos seus? Polêmico, elogiado, "sombrio" e engraçado, o curta metragem abaixo traz muita discussão e reflexão sobre o tema. Afinal morrer nunca foi o grande problema, viver sim.

A produção nacional traz Laura Cardoso e Paulo José no elenco.

Morte - com Laura Cardoso e Paulo José

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Ele voltou!

Aliás... voltamos! Retomando as postagens e a atualização dos blogs. Tanto do Candango Calango, quanto do Brasil Musicado. Pouco mais de um ano após a perda da minha mãe, seguida pela da minha vó, retomo as postagens, com bem mais frequência, por aqui e por lá.

Por falar em Brasil Musicado, espia lá! Tem texto novo, muito bem acompanhado por Tom Jobim, Vanessa da Mata, Itamar Assumpção, Zélia Duncan, Martinho da Vila e Ney Matogrosso. Vale conferir e ouvir.

Brasil Musicado: brasilmusicado.blogspot.com



quinta-feira, 27 de junho de 2013

Presente Ausente

Véspera de aniversário e muitas coisas ficaram na minha cabeça nas últimas semanas. Numa conversa sobre presentes que gostaria de receber, não fiz uma lista grande. Acho que sempre foi assim, nunca fiz grandes pedidos, nunca quis muita coisa, ou desejei muito.

Talvez por isso a vida sempre tenha sido generosa comigo e acho que seria muito da minha parte exigir ainda mais dela. Tudo que sempre precisei recebi nas medidas e momentos certos. Algumas vezes tive a impressão de que tive muito mais que o merecido.

Só que esse ano quero pedir um presente, algo que não poderei ter. Meu maior presente, hoje é ausente. É o desejo de acordar amanhã e sentir o abraço da minha mãe, ouvir seus votos de felicidade e sentindo seu cheiro saber que tudo permanece igual.

Não sei dizer como estou me sentindo nesse primeiro aniversário sem ela. Nas últimas semanas tenho estado mais recluso, extremamente impaciente, irritado e agoniado. Não quero comemorar, acho que uma parte em mim acredita nem mesmo ter o quê comemorar.

Eu ainda não consigo imaginar como será meu dia amanhã, só penso nas coisas que não terei. Mesmo sabendo que não receberei essa presença da minha mãe, sei que ela já me foi dada por 27 anos. Onde estiver, meu maior presente, só desejo que esteja comigo.

Marcelo Jeneci e Laura Laviere - Longe

sábado, 13 de abril de 2013

Esvaziando o pote...

Acendi um incenso, logo o cheiro me lembrou minha mãe. Daí então, outras lembranças começaram a se listar, como se tivesse feito uma busca na internet e milhões de coisas tivessem aparecido como resposta. Lembrei-me que hoje ela estaria feliz preparando-se pro aniversário da minha tia. Fazendo alguma coisa pra levar pro almoço, me chamando pra comprarmos algum presente e fazendo mil ligações pra minhas outras tias, meus primos e minha vó (que partiu há exato um mês).

A música no computador, me fez lembrar da nossa última conversa, por telefone. Para saber o quê comprar pra essa mesma tia que faz aniversário. Sentei na cama pra recuperar o fôlego e tentar achar uma resposta, um sussurro divino que me diga até quando vai doer tanto assim? Até agora só me vieram lágrimas.

Sei o quanto esses lamentos cansam os olhos de quem se dá ao trabalho de parar pra ler minhas postagens, mas algumas vezes é só escrevendo que consigo esvaziar o pote que se enche aqui dentro. Sei que nem todos entendem isso, e espero que tão cedo não saibam o que é essa dor. 

Mesmo crendo que exista algo além dessa vida, mesmo acreditando que ela permanece viva em algum bom lugar, isso ainda não é o suficiente para acalmar o coração. Mesmo comungando do pensamento de que o meu sofrimento também a traz sofrimentos, não consigo deixar de sofrer, acho que sofro em dobro.

Saudade é ignorante, desconhece crenças, datas e horários. Saudade não consegue entender o tempo. saudade é quando a pessoa ausente se torna extremamente presente e isso não é reconfortante. Apenas nos incomoda, nos atormenta, lembrando que essa pessoa só chegará aqui (quando muito) arrastada pelas lembranças que não preenchem.

Não há mais o contato físico do tato, do abraço apertado, da mão que virá procurar a sua pra segurar enquanto atravessa a rua e dos cabelos pra brincar de descabelar. Não dá mais pra ouvir a boca sempre pintada soltar aquelas gargalhadas, ou contar as piadas, dizer besterias, conselhos, broncas, pedidos, ou simplesmente cantarolar todas as músicas que você já ouviu desde seus primeiros anos de vida até hoje. 

Talvez ainda se sinta alguns cheiros, mas o cheiro bom, aquele que era dela... perdeu-se pra sempre. Jamais haverá outra comida que cheire, que traga os gostos temperados com música e sorrisos. E os olhos apenas se enganam com algum vídeo, ou mesmo foto sem sentimento algum. Apenas uma repetição de imagens artificiais que jamais deixarão de ser passado. Nenhum daqueles lugares terá sua presença novamente. E eu preciso do presente, do imediatismo. Me transformo em criança mimada que exige o agora.

E é só por isso que eu venho aqui desabafar e alugar os "olhos" de cada um que se dá ao trabalho de ler isso. Apenas porque tudo o que conheço da vida é com ela ao meu lado. Não escrevo esperando "curtidas", comentários com declarações, ou mesmo dó e indiferença, só quero realmente esvaziar o peito e desentupir o canal lacrimal compartilhando com cada um o que nem eu sei explicar.

Hoje não quero que venham me dizer que não devo chorar, ou que ela permanece viva dentro de mim (já fui tolo o suficiente de repetir isso para alguns amigos acreditando que resolveria o problema). Quero mais é que se foda toda essa ladainha, eu a quero aqui comigo e sei que isso não vai acontecer e se ninguém poder me dar isso, não me digam mais nada, nem mesmo o que devo ou não fazer.  Rezem, meditem, me mandem bons pensamentos, mas por favor não digam que eu não posso sentir falta de 27 anos repletos de tudo isso.

Só quem esteve ao seu lado, por pelo menos um dia, entende o silêncio e o vazio que ficou.

(E todas as perdas que vieram de lá pra cá também fazem questão de estar por aqui. Minha mãe, minha vó e até mesmo eu, que me perdi de mim...)


Leandro Léo - Poema

quarta-feira, 20 de março de 2013

Lembranças de Setenta Agostos

Brasília, 31 de Agosto de 2012

Ontem, em uma rápida viagem com minha mãe e minha vó, vivi um daqueles momentos que a vida nos proporciona para que jamais nos esqueçamos. Apesar de fragilizada e acreditar estar debilitada, pude curar os problemas de minha vó apenas com uma alta dose de atenção e longas conversas. 
  
Sem tantas dores, tremores nas mãos, reclamações ou qualquer uma das queixas tão comuns nos últimos tempos, a vi como não via há anos. Seus olhos estavam tão vivos e reluzentes que lembrei-me da mulher que conheci anos atrás. Lembrou-se de toda a sua vida, da infância, dos irmãos, dos sobrinhos espalhados por todos os cantos do Brasil e de outras histórias familiares.
  
A partir de um retrato, lembrou-se do dia em que conheceu meu avô em um baile, ainda que ele não dançasse. Por um instante as mágoas sumiram e detalhou a beleza e juventude do meu velho. Mas ela reforçou também seus atributos em seu belo corpo e a vaidade de uma jovem adolescente. As histórias foram sendo contadas pouco a pouco e quando menos vimos haviam se passado sete décadas.
  
No caminho, imaginou-se dona de uma bela fazenda à beira da estrada com um lago rodeado por palmeiras. Entrando na brincadeira, pedi que ela me desse já que além de neto sou seu afilhado. Sorrindo, ela concordou em me dar o imóvel que possuía em seus sonhos. Como era bom ver que ela tinha retomado os sonhos. Pensou na vida, caso tudo tivesse sido diferente. Pensou também no quanto poderia ter deixado mais para os seus, mas no fim contentou-se com tudo o que pôde fazer.
  
Sorriu, gargalhou, se divertiu, se irritou com os caminhões nos fechando na estrada e também reclamou um pouco. Se emocionou com suas roseiras no jardim, todas floridas como se estivessem competindo com os hibiscos. Lançou beijos para as flores e as tocou com delicadeza, retribuindo carinhosamente por enfeitarem seu quintal. Havia mais vida naquelas flores, naquela estrada, naquele dia, naquela alma.

(Descanse em paz vó, madrinha, amiga...)


Maria Gadú - Oração ao Tempo 

domingo, 3 de março de 2013

Momento Divaldo Franco

Reflexões sobre a calúnia

Ninguém passa pela jornada terrestre sem experimentar o cerco da ignorância e da imperfeição humana.
Considerado como planeta-escola, o mundo físico é abençoado reduto de aprendizagem, no qual são exercitados os valores que dignificam, em detrimento das heranças ancestrais que assinalam o passado de todas as criaturas, no seu penoso processo de aquisição da consciência.

Herdando as experiências transatas nos seus conteúdos bons e maus, por um largo período predominam aqueles de natureza primitiva, por estarem mais fixados nos painéis dos hábitos morais, mantendo os instintos agressivos-defensivos que se vão transformando em emoções, prioritamente egoicas, em contínuos conflitos com o Si-mesmo e com todos aqueles que fazem parte do grupo social onde se movimentam. Inevitalmente, as imposições inferiores são muito mais fortes do que aquelas que proporcionam a ascensão espiritual, liberando o orgulho, a inveja, o ressentimento, a agressividade, o despotismo, a perseguição, a mentira, a calúnia e outros perversos comportamentos que defluem do ego atormentado.

Toda vez, quando o indivíduo se sente ameaçado na sua fortaleza de egotismo pelos valores dignificantes do próximo, é dominado pela inveja e investe furibundo, atacando aquele que supõe seu adversário.

Porque ainda se compraz na situação deplorável em que se estorcega, não deseja permitir que outros rompam as barreiras que imobilizam as emoções dignas e os esforços de desenvolvimento espiritual, assacando calúnias contra o inimigo, gerando dificuldades ao seu trabalho, criando desentendimentos em sua volta, produzindo campanhas difamatórias, em mecanismos de preservação da própria inferioridade.

Recusando-se, consciente ou inconscientemente, a crescer e igualar-se àqueles que estão conquistando os tesouros do discernimento, da verdade, do bem, transforma-se, na ociosidade mental e moral em que permanece, em seu cruel perseguidor, não lhe dando trégua e retroalimentando-se com a própria insânia.

Torna-se revel e não aceita esclarecimento, não admitindo que outrem se encontre em melhor situação emocional do que ele, que se autovaloriza e se autopromove, comprazendo-se em persegui-lo e em malsiná-lo.

Ninguém consegue realizar algo de enobrecido e dignificante na Terra sem sofrer-lhe a sanha, liberando a inveja e o ciúme que experimenta quando confrontado com as pessoas ricas de amor e de bondade, de conhecimentos e de realizações edificantes.

A calúnia é a arma poderosa de que se utilizam esses enfermos da alma, que a esgrimem de maneira covarde para tisnar a reputação do seu próximo, a quem não conseguem equiparar-se, optando pelo seu rebaixamento, quando seria muito mais fácil a própria ascensão no rumo da felicidade.

A calúnia, desse modo, é instrumento perverso que a crueldade dissemina com um sorriso e certo ar de vitória, valendo-se das imperfeições de outros cômpares que a ampliam, sombreando a estrada dos conquistadores do futuro.

Nada obstante, a calúnia é também uma névoa que o sol da verdade dilui, não conseguindo ir além da sombra que dificulta a marcha e das acusações aleivosas que afligem a quem lhe ofereça consideração e perca tempo em contestá-la.

* * *

Nunca te permitas afligir, quando tomes conhecimento das acusações mentirosas que se divulgam a teu respeito, assim como de tudo quanto fazes.

Evita envenenar-te com os seus conteúdos doentios, não reservando espaço mental ou emocional para que se te fixem, levando-te a reflexões e análises que atormentam pela sua injustiça e maldade.

Se alguém tem algo contra ti, que se te acerque e exponha, caso seja honesto.

Se cometeste algum erro ou equívoco que te coloque em situação penosa e outrem o percebe, sendo uma pessoa digna, que se dirija diretamente a ti, solicitando esclarecimentos ou oferecendo ajuda, a fim de que demonstre a lisura do seu comportamento.

Se ages de maneira incorreta em relação a outrem e esse experimenta mal-estar e desagrado, tratando-se de alguém responsável, que te procure e mantenha um diálogo esclarecedor.

Quando, porém, surgem na imprensa ou nas correspondências, nas comunicações verbais ou nos veículos da mídia, acusações graves contra ti,sem que antes haja havido a possibilidade de um esclarecimento de tua parte, permanece tranquilo, porque esse adversário não deseja informações cabíveis, mas mantém o interesse subalterno de projetar a própria imagem, utilizando-se de ti...

Quando consultado pelos iracundos donos da verdade e policiais da conduta alheia com a arrogância com que se comportam, exigindo-te defesas e testemunhos, não lhes dês importância, porque o valor que se atribuem, somente eles mesmos se permitem...

Não vives a soldo de ninguém e o teu é o trabalho de iluminação de consciências, de desenvolvimento intelecto-moral, de fraternidade e de amor em nome de Jesus, não te encontrando sob o comando de quem quer que seja. Em razão disso, faculta-te a liberdade de agir e de pensar conforme te aprouver, sem solicitar licença ou permissão de outrem.

Desde que o teu labor não agride a sociedade, não fere a ninguém, antes, pelo contrário, é de socorro a todos quantos padecem carência, continua sem temor nem sofrimento na realização daquilo que consideras importante para a tua existência.

Desmente a calúnia mediante os atos de bondade e de perseverança no ideal superior do Bem.

Somente acreditam em maledicências, aqueles que se alimentam da fantasia e da mentira.

Alegra-te, de certo modo, porque te encontras sob a alça-de-mira dos contumazes inimigos do progresso.
Todos aqueles que edificaram a sociedade sob qualquer ângulo examinado, padeceram a crueza desses espíritos infelizes, invejosos e insensatos.

Criando leis absurdas para aplicarem-nas contra os outros, estabelecendo dogmas e sistemas de dominação, programando condutas arbitrárias e organizando tribunais perversos, esses instrumentos do mal, telementalizados pelas forças tiranizantes da erraticidade inferior, tornaram-se em todas as épocas inimigos do progresso, da fraternidade que odeiam, do amor contra o qual vivem armados...

Apiada-te, portanto, de todo aquele que se transforme em teu algoz, que te crie embaraços às realizações edificantes com Jesus, que gere ciúmes e cizânia em referência às tuas atividades, orando por eles e envolvendo-te na lã do Cordeiro de Deus, sedo compassivo e misericordioso, nunca revidando-lhes mal por mal, nem acusação por acusação...

A força do ideal que abraças, dar-te-á coragem e valor para o prosseguimento do serviço a que te dedicas, e quanto mais ferido, mais caluniado, certamente mais convicto da excelência dos teus propósitos, da tua vinculação com o Sumo Bem.

* * *

Como puderam, aqueles que conviveram com Jesus, recusar-Lhe o apoio, a misericórdia, a orientação? Após receberem ajuda para as mazelas que os martirizavam, como é possível compreender que, dentre dez leprosos, somente um voltou para agradecer-Lhe?

Como foi possível a Pedro, que era Seu amigo, que O recebia no seu lar, que convivia em intimidade com Ele, negá-lo, não uma vez, mas três vezes sucessivas?!

...E Judas, que O amava, vendê-lO e beijá-lO a fim de que fosse identificado pelos Seus inimigos naquela noite de horror?!

Sucede que o véu da carne obnubila o discernimento mesmo em alguns Espíritos nobres, e as injunções sociais, culturais, emocionais, neles produzem atitudes desconcertantes, em antagonismos terríveis às convicções mantidas na mente e no coração.

Todos os seres humanos são frágeis e podem tornar-se vítimas de situações penosas.

Assim, não julgues a ninguém, entregando-te em totalidade Àquele que nunca Se enganou, jamais tergiversou, e deu-Se em absoluta renúncia do ego, para demonstrar que é o Caminho da Verdade e da Vida.

(do espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Curto esse Curta!

Walt Disney - Paperman

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Momento Herbert Vianna

"Todas as formas de se controlar alguém
só trazem um amor vazio."

"Eu ainda lembro
Do dia em que eu te encontrei
Eu ainda lembro
Como era fácil viver ...
Ainda lembro."

"Eu quis querer o que o vento não leva
Prá que o vento só levasse o que eu não quero
Eu quis amar o que o tempo não muda
Prá que quem eu amo não mudasse nunca."


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O que falar para alguém que está prestes à morrer?

Há dias tive contato com o texto abaixo. Me deixou incomodado. Repensei tantas coisas, mas é óbvio que não me esqueci do que vivi há pouco tempo. O texto é uma reflexão sobre a vida, mesmo que fale de morte.   Espero que de alguma maneira ele possa tornar os dias que nos restam ainda melhores.

Não tenho muito, ou talvez tenha, mas não saiba, o que dizer sobre o diálogo entre o psicólogo Frederico e o paciente terminal R. Só peço a leitura, a reflexão será inevitável. Se alguém quiser compartilhar as sensações e sentimentos pós-leitura só colocar nos comentários.

=)


"O que falar para alguém que está prestes à morrer?" - Nota de Falecimento de R.

por Frederico Mattos




Meu nome é Frederico Mattos, tenho 31 anos, sou psicólogo e escrevo o http://www.sobreavida.com.br/, um blog sobre coisas da vida e relacionamentos. Um leitor me enviou esse email:


“Olá Fred,

Já que a Dona M. tomou coragem e confessou que nunca amou o marido de 30 anos eu tomei a liberdade de mandar esse e-mail.

Enviei logo cedo após receber meus remédios para que você pudesse ler logo que acordasse. Espero que não se importe.

Estou há uma semana internado num bom hospital e entre um mal-estar e outro tenho lido seu blog. Logo que me internei um amigo me disse: acho que agora é hora de pensar sobre a vida. Sou viciado em tecnologia, peguei meu iPad (foi a única coisa que pedi que os médicos não me tirassem) e digitei no Google “sobre a vida”. Surgiu seu blog e confesso que pensei “mais um blog de merda falando blábláblá”. Não dei confiança, mas depois de não achar nada muito interessante voltei ali.

Tenho 28 anos, minha barba cultivada com gosto para que eu aparente mais idade está caindo, isso me aborrece.
A questão que me intriga é que vou morrer e não sei o que fazer diante da morte. Vou morrer em breve, talvez eu não receba sua resposta. Claro que não estou pendente disso para morrer (isso está infelizmente fora de minhas mãos), mas filhadaputamente o padre que veio me visitar e não gostei do que ouvi. Sei que ele trouxe palavras bondosas, mas tão vazias de real sentido para mim que aproveitei que eu estava vomitando que nem um desgraçado para enxotar aquele velho de batina. Minha doença me consome rapidamente e não acredito em nada para além desta vida, nem preciso acreditar. Sou ateu (o máximo de fé que tenho é fazer figuinhas, pois mamãe me ensinou e lembro dela quando faço) e sinceramente não me culpo por isso.

Tive uma vida cheia de acontecimentos, aproveitei tudo mesmo, sem exageros ou excentricidades. Minha doença é um tipo de problema genético, raro e fatal. Os médicos não afirmam nada (eles sempre estão um pouco emburrados), mas já pesquisei na internet e realmente acho que vou bater as botas mais rápido do que eu queria.
Fiquei pensando o que você, como psicólogo, teria a dizer para alguém que tem algumas horas ou dias de vida ainda pela frente? Se eu não conseguir ler a resposta espero que ajude alguém nas mesmas condições ou que ajude qualquer um.

Abraço,
R.”


Caro R.

Acho que não estou em posição de aconselhar alguém que está em uma condição única e porque não dizer privilegiada como a sua. Sim, privilegiada. Estar diante do próprio fim e fazer a pergunta certa não é tão simples.

Já que você digitou no Google SOBRE A VIDA, vou falar algumas coisas que penso sobre a vida. Espero que sirvam.
Na vida eu finjo que não tenho medo da morte faz muito tempo. Eu tenho construído um castelo de certezas, de virtudes e de sentido para simplesmente negar o fato de que vou morrer, assim como você.

Na vida vi que todas as amizades que tenho são para me deixar menos sozinho comigo mesmo. Além disso evitar saber que tudo irá acabar de um momento para o outro. Mas elas dão um colorido diferente para o passar dos anos. Algumas valem a pena cultivar, outras são passageiras e deixam uma marca, algumas temos o dever moral de levar para a vida inteira.

Na vida não tenho certeza de nada e noto que a maior parte das pessoas não tem. Mas não perdemos a irresistível atração em fingir que sabemos de tudo. Antes eu ouvia os bons conselhos, agora duvido deles. Sempre me parecem demasiado polidos ou conservadores. Como aquelas tias velhas que tem medo de atravessar a rua e recomendam que você não faça o mesmo.

Com as críticas ainda tenho dificuldades, confesso que quando me dizem que sou metido a sabichão ainda fico meio doído. Acho que é pelo fato de que a pessoa ainda não me conheceu de verdade e me julga pelas minhas defesas. A prepotência que me resta é só um jeito falsamente forte que encontrei para que eu não seja inundado pelo mar de amor que sinto, mas me fragiliza.

Pelo visto você é uma pessoa que foi agraciada pelo bem estar financeiro. Isso é excelente, com o tempo aprendi que o dinheiro pode ser um grande amigo de boas realizações. Que ele é a chave mestra que reflete o fruto do meu trabalho e que me abre portas para conhecer coisas que eu nunca poderia sem ele. O dinheiro não é meu inimigo e nem meu amigo, apenas um cúmplice daquilo que quero ser. O meu dinheiro sou eu em forma de notas. O dinheiro de cada um reflete o que a pessoa é.

Também me parece que você é muito amado pelas pessoas. Essencialmente cercado de pessoas boas que te recomendam no momento mais difícil que pense sobre a vida. Isso parece que é a grande fórmula para viver e morrer feliz. Nos cercamos de muitas pessoas que nos fazem mal, nos colocam para baixo e subestimam nossa capacidade. Elas querem nos ajudar de um jeito que reforça nossa infantilidade e passividade na vida. Com o tempo procurei selecionar as pessoas do meu convívio. Conheci amigos maravilhosos, terminei relacionamentos que me faziam mal e cultivei bons hábitos como me encontrar sempre que possível com as pessoas que eu amo. Meus livros que eu tanto adorava ler com exclusividade absoluta agora estão um pouco de lado. Ainda os amo, mas livros sem pessoas são apenas folhas sem sentido. O verdadeiro livro que sempre quis escrever já está sendo escrito no longo dos meus dias. Acho que o seu livro não-publicado deve ter excelentes páginas e narrativas memoráveis. Deixe que isso te alegre, inclusive agora.

Com o tempo eu percebi que a cereja do bolo da minha vida não foi composta de grandes eventos ou celebrações. Mas foi no tecido invisível dos minutos discretos que ninguém reparava. Eu sempre soube que aqueles pequenos gestos de gentileza é que realmente fazem a diferença. Acordar um pouco mais cedo para dar a mão para uma pessoa. Levantar da cama antes e pegar o copo d’água. Consolar uma lágrima que não foi anunciada. Pequenas coisas pelas quais você não vai ganhar nenhum prêmio ou recompensa e ainda assim devem ser feitas.

Meu caro R. tenho medo, muito medo de tudo. Medo de falhar, fracassar, decepcionar, fraquejar, deprimir até parar com tudo e ficar maluco, as vezes enfrento dias difíceis (na minha cabeça) que penso que não vou aguentar. Mas administro esse medo da seguinte maneira, sei que são apenas medos, nada além disso. Um jeito meio menino de fantasiar as coisas maiores do que realmente são só para que depois eu brinque de super-homem. Afinal quanto maior meu obstáculo, mais eu acho que fui invencível na superação.

Hoje tenho rido muito mais de mim, sou um desastrado. Não sei cortar uma melancia sem sujar toda a pia e ela ficar parecida com um leque torto e feio. Me perco no transito, mesmo com GPS. Falo coisas fora de hora. Confesso meu amor antes do tempo. Tolero coisas intoleráveis por mais tempo que devia. Sou um bobo incorrigível. Mas, afinal, essa é a versão improvisada de mim mesmo, sei que com o tempo esse eu de hoje será uma lembrança pálida no eu de amanhã. Então rir de mim me ajudou a não me magoar tanto ou me levar tão à sério), afinal todos somos rascunhos da vida. Perdidos como ratos pelados.

Lidar com pessoas sempre foi um desafio para mim. Sou sensível ao extremo, um sorriso me levanta e um olhar de desaprovação me derruba. Comecei a entender, a duras penas que não posso ter controle do que os outros sentem por mim. Se você me odeia problema seu, se me ama também. Pode parecer uma visão radical ou uma fala grosseira. Mas se pudesse me ouvir agora dizendo isso seria com uma voz doce e com sorriso nos olhos. O ódio que sente por mim é responsabilidade sua, o amor que sente também. O máximo que posso fazer é dançar em volta do seu coração até que seu ódio se acalme e me veja humano (com o que tenho de bom incluído) e seu amor se consolide e me veja humano (com o que tenho de pior incluído).

Acho que o mais difícil de morrer deve ser imaginar que não veremos mais aqueles que amamos. Quando trabalhei com pessoas com câncer (doença nem sempre rápida e fatal) aprendi que a melhor despedida acontece com as relações que foram mais completas e sem falsidades. Se tivemos uma relação truncada, conflituosa e cheia de pendências o luto é mais difícil. Nesse momento tente diminuir as suas pendências e diga o que vem no fundo do seu coração para os outros. Não hesite, você não tem mais nada a perder. Literalmente.

Posso dizer que o amor e o trabalho sempre me guiaram. Mas sei que o amor é um enigma. Hoje me parece muito mais um grande campo em que muitos eventos acontecem por ali. Toda a vez que tentei cercar demais a pessoa amada ela se foi, deixar ela pra lá em demasia também não funcionou. A melhor garantia que posso oferecer hoje é que onde eu estiver estarei ali.

Já fique muito preso ao passado e tudo o que não funcionou ali. Também já fiquei afoito para que o futuro chegasse logo e ele nunca chegou quando eu queria. Então decidi colocar o rabo no meio das pernas e viver aquilo que eu consigo hoje. As vezes minha cabeça me engana e tenta me sequestrar para frente ou para trás. Então eu digo para minha mente “ei, dá uma olhadinha nesse momento entediante, podemos fazer algo com isso, que tal?” e numa fração de segundos a minha mente faceira corre para brincar comigo no presente de novo.

Sou tão jovem quanto você, então não encare como presunção tudo o que eu disse. Posso garantir que existem vidas muito mais interessantes que a minha para você tomar por exemplo. Minhas grandes vivências aconteceram mais no fundo do meu coração do que na vida concreta. No entanto, foi a vida que me coube viver e que me satisfez até agora. A sua vida é a melhor que você pode viver, olhe com compaixão por ela, nada acrescente nela e muito menos mutile. Tudo ali é do tamanho que devia ter. Até sua barba que se despediu de você.

Quando olhamos uma vela temos a ilusão de que ela irá apagar quando a cera chegar ao fim. As vezes acaba antes, outras a luz continua depois. No seu caso, sua vela está te surpreendendo, em alguns minutos. A minha pode me surpreender, assim com todas as pessoas que amamos. Estamos no mesmo barco.

Minha curiosidade (mal que não quero tirar de mim) vai me dizer para que dê um retorno caso tenha conseguido ler. Sei que os leitores do blog vão pedir o mesmo. Então se puder, mande um sinal de fumaça. Sei que esse texto vai ajudar mais quem ficará vivo (ou finge que está vivo como eu) por um pouco mais de tempo que você. Mas se te ajudar em algo, já fico mais que satisfeito.

Ah, se eu pudesse falar uma última coisa seria morra o mais vivo que puder

Um abraço meu caro, longa vida enquanto ela existir!

_______

Hoje recebo esse recado:

Meu irmão pediu que eu enviasse esse e-mail para você assim que falecesse. Ele me mostrou o texto do seu blog emocionado e falou coisas muito bonitas sobre o amor que sentia por todos nós e se desculpava se nem sempre estava tão presente quanto gostaria. Acrescento que ele partiu essa madrugada de sexta-feira tranquilamente e sem dor, abraçado com papai e seu iPad (inseparável, aposto que vai procurar o Steve Jobs). Sentiremos muito a falta daquele menino que sempre tinha uma palavra carinhosa e um sorriso pronto nos lábios.

"Querido Fred


Fiquei comovido com a honestidade em revelar aspectos da sua vida de um jeito tão afetuoso, gentil e claro. Eu também não sei cortar melancia direito. Achei de extremo carinho você não tentar me convencer de nada como fez o padre.

Nas suas palavras vi que a maior expressão do espiritual é a própria vida e as pessoas à nossa volta: o amor que me une à minha família e os meus amigos. Pensando assim, o meu quarto estava absurdamente lotado de coisas espirituais agora à pouco e pedi que todos me deixassem à sós por minutos para poder escrever essa mensagem. Prefiro que ela seja entregue à você quando eu morrer. Agora posso falar sem peso sobre a morte, pois sei que deixarei meu legado com todos: minha memória.

Meus amigos trouxeram um violão e me cantaram  músicas que eu gosto (uma delas). 

Titãs - Epitáfio

Meu pai fez bolo de laranja com suco de cajú de dar lombriga. Minha irmã recitou um poema de Vinícius de Moraes que me emociona. Minha namorada só chora e me beija (energia feminina pura) - bem que eu podia durar mais uns dias ;). Meu primo trouxe um pendrive com imagens do meu cachorro latindo para a camera. Mamãe já falecida, me veio fortemente na memória. Não tenho a pretensão de reencontrá-la, pois no meu coração ela nunca partiu. Estou meio sensível hoje! heheheh

Obrigado pela rapidez e prontidão em me responder, nem esperava um post para mim (mentira) e senti o carinho dos seus leitores. Se puder crie uma nota de falecimento no Facebook e peça a eles que compartilhem seu texto com todo mundo (quero ser um morto virtual famoso rsrsr). As pessoas à sua volta tem sorte em tê-lo em suas vidas, pena não ter sido seu paciente ou amigo. Fucei na internet (sou stalker) e vi que fará 31 anos em breve, parabéns psicólogo! 

Após cremado, quando as cinzas forem atiradas ao mar digam: aqui nada um homem feliz! :)

Seguirei seu conselho: quero estar bem vivo quando eu morrer!
Um abraço e longa vida a você também...
Do amigo que parte, R."

Hoje meu amor fica sem palavras e como foi pedido por R. se quiser compartilhe essa nota de falecimento.

Momento Clarice Lispector

Das Vantagens de Ser Bobo
(Clarice Lispector)

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Felicidade...

Hoje apenas posso relatar que tudo caminha com dificuldades. Novos acontecimentos vem atormentando minha família e a minha paz nos últimos meses. E eu me perco no meio de todos os possíveis futuros traumas que ainda estão por vir. Sofro com o que vivo e me antecipo no que poderá vir.

Adiantamento de preocupações. Lógico!, ansioso e agoniado quero estar precavido para aquilo que desconheço. O problema é que sendo assim, parece que o golpe é ainda mais forte. Me pego em um diálogo longo e tenso com a solidão. Ela não me assusta tanto quanto antes. Hoje sei que ela não mata, apenas cria algumas fraturas e cortes profundos que cicatrizam e curam com repouso e os remédios certos.

Dói, mas toda vez que isso passa sempre chegam boas novas. Aprendi, com a perda física da minha mãe não existirá nenhuma outra dor que seja tão incômoda ou insuportável. Se sobrevivo ao martírio de dias de silêncio e tristeza sem sua presença, não existem dores que sejam maiores que essa. Pensando assim sigo vivendo um dia por vez, ou sobrevivendo a cada novo dia.

Mas do que posso me queixar?


A vida sempre me foi muito generosa. Me deu mais sonhos do que ilusões, mais afago do que dor. Não me fez melhor do que ninguém para que eu desconhecesse o gosto de uma lágrima. A vida apenas me fez um homem que foi e é muito amado. Sem privilégios, tive apenas oportunidades e ferramentas para o trabalho e todas as conquistas que tive.

Frustração também me veio, acompanhada de doses duplas de esperança. Mas não foi por isso que eu não me desesperei. Algumas fraquezas sempre me acompanharam, mas algo inexplicável a todo momento recompôs meu ânimo. Talvez porque no fundo soubesse que todas as descidas impulsionaram as subidas. Fé em Deus... pé na tábua.

Os céus me protegeram e protegem em cada novo amanhecer.
Meu anjo guardião vela cada noite de sono (além daquelas em que passo desperto). Meu tempo é vivido em cada segundo. Pelo que tenho, tive, mas principalmente pelo que terei.

Foram 27 anos de tantos bons corações ao meu redor, uma hora precisaria ser triste, para que a felicidade visitasse outros lares. Só não demora felicidade, pois meu coração sente muito a sua falta.


Paulinho Moska - Felicidade