Aviso!

Proibida a reprodução ou uso dos textos do autor do blog sem a sua prévia autorização.

sexta-feira, 30 de março de 2012

terça-feira, 27 de março de 2012

Miseravelmente miseráveis

Quanto custa a bolsa de grife? O tênis de marca? O casaco importado? A bicicleta do vizinho? O carro vermelho italiano? O colar de diamantes? Os anéis de ouro? A calça da moda? O tablet de última geração? O celular sem teclado? A mansão na beira da praia?

Quantos dígitos são necessários para ter tudo isso?

Objeto de desejo de milhões, mundo a fora. Cada um dos poucos ítens citados acima trazem muito mais do que facilidade e utilidade. Eles carregam outros valores (além do financeiro) que fazem deles tão cobiçados, caros e especiais.

Quanto custa um copo d'água? Um prato de comida? Um par de chinelos? Uma camisa? Uma bermuda? Uma coberta? Uma cama? Uma casa de dois ou três cômodos? Uma escola? Um caderno? Um lápis? Um óculos? Uma cadeira de rodas? Um remédio?

O trivial, o ordinário, o comum, o rotineiro, precisa de quantas moedas para ser obtido?

A maioria, ou talvez todos nós, não sabemos o valor exato dessa segunda lista. Da primeira é bem provável que, se não soubermos tudo, tenhamos cerca de 95% dos preços gravados. Até mesmo acompanhando suas variações, por meses, na expectativa de que um dia caibam em nossos orçamentos.

Valores a parte, qual das duas listas é a mais importante? Qual é o fundamental e merece, de fato, ter um valor exorbitante agregado ao seu preço?

Para cada novo tablet vendido, milhões de crianças deixam de ir à escola todos os dias. Para cada bolsa cravejada de brilhantes, bordada com fios de ouro e recoberta com a seda da mais alta qualidade, centenas de milhares de famílias estão debaixos de viadutos, árvores, pontes ou jogadas em calçadas. Para cada prato refinado e exótico, temperado com ervas finas cultivadas em remotas regiões do planeta e preparado por um renomado chef, milhões morrem de fome e sede.

E daí? Todos sabemos disso, mas não nos damos conta quando estamos na fila com cada um dos ítens citados nas mãos, depois de meses, ou semanas, de economia.

O que nos difere dos miseráveis? Ambos queremos objetos valorosos, mas que não estão ao nosso alcance. Nós por luxo, eles por necessidade, desespero talvez. Somos igualmente miseráveis, mas em graus e escalas diferentes. Os mais debochados me dirão que a nossa miséria é evoluída, mas infelizmente ela é uma miséria mais miserável ainda. É quando o básico vira fútil e o dispensável se torna essencial.

Enquanto isso, vivemos como se nada acontecesse do lado de fora dos muros com cerca eletrificada e câmeras de vigilância. Mesmo vendo e sentindo a violência bater à nossa porta todos os dias.

Na verdade queremos ser as madames chiques do reality show da tv, que acham tudo uma loucura e brindam com suas taças de cristal às nove da manhã. Queremos ser os filhos do bilionário que têm um carro que ninguém mais no país tem e que vão a uma delegacia com cinco seguranças (dentro de outro carro importado) explicar que não tiveram culpa em atropelar e matar um ciclista.

O que nos sobra, nos faz falta, porque é essa "aparente sobra" que nos fará chegar lá em cima. Já para quem quer apenas sobreviver, o que nos sobra lhes faz tanta falta que muitas vezes eles morrem esperando que alguma ajuda venha.

Agora pergunto a todos, me incluíndo aí também: - Você mataria alguém para ter algum dos primeiros objetos citados lá em cima? Não!, todos responderemos (espero). Mas o quê temos feito para salvar essas vidas que se perdem a espera daquilo que nos sobra?

... , responderemos.

Engenheiros do Hawaii - Terra de Gigantes/Números


segunda-feira, 26 de março de 2012

Água Vida!

Das incertezas que a vida me trouxe, nunca havia pensado que tudo nessa vida é uma grande incerteza. Sem verdades plenas, certezas absolutas, repostas inquestionáveis ou soluções definitivas, vida é uma inconstante feito a maré.

Ah, como seria bom se tudo tivesse uma imutalidade, ou imobilidade eterna. Sem surpresas, sustos, ou imprevistos. Olhar para frente, para o futuro, e poder enxergar toda uma vida encaixada perfeitamente sabendo, do começo ao fim, tudo o que ela iria nos oferecer.

Ai, como isso seria um pé no saco também. Tudo quadradinho, sem friozinho na barriga, sem gargalhadas, sem lágrimas. Olhar para trás, para o passado, e perceber que se viveu conforme milhões de escolhas feitas a cada momento vivido, planejando a cada instante o "por vir".

Só que vida é água que corre por onde a natureza permite. Entra por frestas, escorre por entre os dedos e mostra a sutileza e a beleza de estar presente em todo lugar. Se adaptando à tudo, ela é flexível, ela apenas faz o que tem de fazer, flui.

Segue o fluxo, mas quando é oprimida pelas margens não cabe em si, transborda e busca sua rota. Quando já foi devastada ela derruba barrancos, invade lares, arrasta tudo o que a quiser conter para mostrar sua força contra a violência e a destruição.

Água é vida para quem morre de sede. Vida é água para quem morre cedo. Porque precisa ser como tiver de ser, no frio é quente, no calor é gelada. Antes gelo, que conforme esquenta derrete e liquidifica fazendo sua forma e ganhando vida. No final, assim como a morte, termina seu ciclo, evapora e some.

O Teatro Mágico - Camarada D'água

terça-feira, 20 de março de 2012

Amor, por toda a vida

Elegante, educada, com gestos sutis e um olhar que, ao mesmo tempo, estava atento a todos ao seu redor e também estava distante. Seus cabelos grisalhos, curtos e bem penteados deixavam à mostra os pequenos brincos. Com seus quase 70, ela chegou sem muito alarde, mas todos no bar a olharam. Parecia ser um absurdo ver uma senhora ali, aquela hora.

Sentou, sorriu para a garçonete e quase que sussurando fez seu pedido, seguido por alguma explicação. Pouco tempo depois sua bebida veio, seguindo suas exigências. Ao longo das duas horas em que permaneceu ali sentada e quieta bebeu mais dois outros daquele.

O cantor continuava com seu repertório e o restante dos clientes parecia já não mais se espantar com a presença da senhora. Ao seu redor as outras mesas voltavam ao normal, as amigas solteiras de meia idade que flertavam com o cinquentão sentado no canto, os dois casais discutindo sobre a vida a dois e as lembranças da adolescência e um grupo de jovens sentados próximos à senhora.

Pegou sua bolsa na cadeira ao lado, colocou na mesa e pacientemente procurou por algo. Não retirou nada de lá de dentro, parecia apenas empurar os pertences para um lado e para o outro enquanto buscava o que tanto queria. Retirou um batom e um espelho pequeno para retocar a maquiagem. Pintou os lábios e guardou tudo dentro da bolsa. Revirou mais um pouco e retirou uma espécie de porta moedas lá de dentro, onde estava uma aliança. Colocou em sua mão esquerda, como se precisasse lembrar, ou avisar para alguém de que era casada.

Chamou a garçonete e, mais uma vez, fez um pedido. A moça foi então até o palco, onde o cantor havia feito uma pausa e procurava por canções em suas pasta. Conversaram e sorrindo ele olhou para a senhora e a chamou com as mãos. Levantou-se e segurou-a pelas mãos para ajudá-la a subir o pequeno degrau.

Sentou-se ajeitando o vestido, enquanto o cantor ajustava o microfone. Ela perguntou se poderia segurá-lo e ele a entregou. De olhos baixos, parecia olhar para a aliança reluzente, como se tivesse acabado de sair de alguma vitrine. Levantou o rosto e começou a cantar.

No final, chorando, levantou-se sob os aplausos de todos ali. Agradeceu com um aceno e um sorriso, sentou, pagou sua bebida e foi embora levando os mesmos olhares que antes a culpavam, e agora pareciam admirá-la.

Tom Jobim e Gal Costa - Eu sei que vou te amar


sexta-feira, 16 de março de 2012

sexta-feira, 2 de março de 2012

Curto esse Curta!

A short love store