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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Consciência... negros, brancos, índios e mulatos!

Desde a semana passada vejo um certo burburinho a respeito das cotas para negros em concursos públicos. Uma maioria, esmagadora, se posicionando contrária a ideia de que a medida adotada por universidades em todo o país se estenda às repartições públicas.

Acho válido o objetivo das cotas. Acredito na defesa da medida como um "reparador" dos danos causados em mais de 500 anos de discriminação e abuso contra uma grande parcela do nosso país. Não precisa ser um profundo conhecedor da história para saber o que se passou com os milhões de homens, mulheres e crianças arrancados do continente africano e levados mundo a fora para servir aos senhores e senhoras religiosos e bondosos (que contribuíram muito bem com o reino e iam à igreja aos domingos).

Um colega de jornalismo, professor de uma conceituada universidade federal, esbravejou quando me posicionei a favor da medida, anos atrás. Logo ele respondeu que não tinha culpa nenhuma de nada e não poderia pagar "Eu não fiz nada contra os negros". Fiquei sem entender. Um jornalista, professor universitário, intelectual, cineasta, com um discurso tão inflamado e cheio de ódio. Por quê?

Não consegui achar motivo, no fundo dos olhos verdes e da pele rosada do colega. Mas talvez todo o contexto em que ele se encontrava podia dizer por si só. Não tenho a pele negra, mas me considero negro por saber bem do meu passado, do meu avô com seus quase 90 anos e do meu bisavô que morreu com mais de cem anos. Ou mesmo do meu pai, mais claro do que eu, mas com um dos cabelos black powers e grisalhos mais maneros que conheço. Assim como sei das minhas raízes indígenas (da bisavó pega a laço que todos temos) e europeias também (com meus avós, bisavós e tios-avós de olhos verdes, azuis e cor-de-mel).


Ellen Oléria - Zumbi


Meu bisavô nascido no início da década de 1880, viu um Brasil que nenhum de nós viu. Por pouco ele não nasceu escravo (salvo pelo "Ventre Livre"), mas sentiu o poder de uma discriminação de quase 400 anos sobre um povo que nunca teve direitos. Nasceu vendo pais analfabetos, morreu analfabeto e deixou uma dezena de filhos analfabetos. Com certeza virá alguém dizer que não estudaram porque não quiseram. Não, caras-pálidas! Não estudaram porque não puderam e o trabalho era fundamental para sua sobrevivência.

Trabalhar de domingo à domingo, sob Sol e chuva para garantir o mínimo do mínimo, recebendo muito pouco (ou quase nada). Ainda assim ultrapassou os cem, viu um século inteiro de pequenas melhorias, mas não o suficiente para que os filhos tivessem uma vida tão melhor quanto a dele. Alguns viveram e morreram na mesma casa minúscula, de teto baixo, quatro cômodos e que (muito tempo depois) ganhou o luxo de um banheiro dentro de casa.

Não quero, de maneira alguma, comover quem quer que seja com esses relatos, mas acho que as cotas reparam (ainda que tardiamente) um mal histórico. Os negros "recém-libertos" se viram escravos da miséria e ignorância numa escala ainda pior do que quando pertenciam aos seus senhores. O "favor" que a princesa lhes fez tinha, muito mais, uma pressão internacional por trás do que um bondoso gesto real. Os ex-escravos se viram livres, mas sem estudos e ninguém disposto a pagar por um serviço que antes eles faziam gratuitamente.

Quando os senhores se viam no direito de pagar por algo, a esmola era dada com a má vontade que dizem dar até dor de barriga em quem recebe. Sem estudos, moradia, emprego e logo sem saúde, o que fazer para não morrer de fome, nem ver seus filhos morrerem? A resposta se dá com milhares de negros presos por furtos e roubos, resultando numa triste relação de "amor" e ódio com a polícia e que todos sabemos o final.

Chico César - Respeitem meus cabelos brancos


A história do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, tem um importante capítulo a partir do momento em que recebeu milhares desses ex-escravos, dando origem à centenas de cortiços no centro da capital (com péssimas condições sanitárias) e, posteriormente, após uma política de "higienização social" criou-se as favelas cariocas. Quais oportunidades você acha que se criaram para os negros apenas nos cem anos que meu bisavô viveu? O que, magicamente, melhorou com a abolição?

O grande problema é que as cotas tornaram-se uma solução de médio prazo, hoje temos colhido bons resultados das medidas adotadas pelas universidades há cerca de dez anos. Mas que outras medidas, além das cotas, tem se buscado? (talvez elas existam, mas desconheço) Ainda se sofre muito com o preconceito no nosso país e as estatísticas comprovam onde é que "o bicho pega".

Uma pesquisa apresentada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) traz dados preocupantes sobre a questão da violência contra a população negra do país. De acordo com o instituto o adolescente negro brasileiro tem quatro vezes mais chances de ser assassinado do que um branco. Ainda de acordo com a pesquisa, na década de 1980 a média de idade de negros vítimas de homicídio era de 26 anos, hoje ela é de apenas 20 anos. Segundo Daniel Cerqueira, chefe da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado das Instituições e da Democracia (Diest)mais de 60 mil pessoas são assassinadas a cada ano no Brasil, e “há um forte viés de cor/raça nessas mortes”, pois “o negro é discriminado duas vezes: pela condição social e pela cor da pele”¹.

Para a pedagoga Jussara de Barros "O dia da consciência negra é uma forma de lembrar o sofrimento dos negros ao longo da história, desde a época da colonização do Brasil, tentando garantir seus direitos sociais. (...) marcado pela luta contra o preconceito racial, contra a inferioridade da classe perante a sociedade. Além desses assuntos, enfatizam sobre o respeito enquanto pessoas humanas, além de discutir e trabalhar para conscientizar as pessoas da importância da raça negra e de sua cultura na formação do povo brasileiro e da cultura do nosso país"². 

Natiruts - Palmares 1999


A data é comemorada em 20 de novembro, em homenagem à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares e um dos maiores combatentes da escravidão (ainda que alguns historiadores afirmem que até mesmo Zumbi teve seus escravos). Mas não vim aqui polemizar, nem desmerecer, ou supervalorizar ninguém. Afinal, o que define pessoas boas e ruins está mais fundo do que a derme ou a epiderme. 

Este post é uma provocação à refletirmos sobre problemas históricos em nosso país. A história dos negros é sofrida, humilhante e cruel. As religiões de origem africana, os costumes, os estilos musicais e tudo referente à cultura negra sempre foram as que mais sofreram/sofrem preconceitos dentro de nossa sociedade.

Ninguém precisa concordar com meus argumentos, mas que a gente consiga refletir a respeito. Apóio as cotas universitárias para alunos de escolas públicas. Acho que isso atende tanto aos negros, pardos, mulatos e a muitos brancos que vivem uma situação de privação de dificuldades financeiras. Mas as cotas para negros transcende a questão de renda. Ela toca no âmbito do preconceito, que associada à baixa renda é muito mais cruel e desumana. As cotas buscam restabelecer um laço social de inclusão do negro e da sua cultura dentro da nossa sociedade.

Apenas acho que ninguém pode desmerecer, ou ridicularizar o sistema de cotas sem antes apresentar um bom argumento, uma outra opção para reparar os danos, ou uma solução para o fim do preconceito dentro da nossa sociedade. Para mim quem apenas critica, sem ao menos conseguir dialogar sobre o assunto, me parece um menino mimado e birrento que não teve seu pedido atendido de imediato e ao ver o irmão receber um presente qualquer se sente no direito de receber algo melhor.


Zeca Baleiro - Alma não tem cor


¹fonte:http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-10-17/ipea-jovem-negro-corre-37-vezes-mais-risco-de-assassinato-do-que-branco 
²fonte: http://www.brasilescola.com/datas-comemorativas/dia-nacional-da-consciencia-negra.htm


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Menor Idade Penal?


Dias atrás me questionava e conversava a respeito da redução da maioridade penal, relembrando e vendo alguns casos de menores infratores na TV. Difícil opinar, mas com certeza o que precisamos não é a redução. Antes que me preguem na cruz, quero deixar claro que sou a favor de adolescentes responderem por seus atos.

Mas o que acontecerá depois que reduzirem (caso isso aconteça)? Teremos jovens de 16 dentro de celas que já não cabem mais nem os marmanjos com mais de 18? Será, então, uma questão de tempo até que se peça a redução para 14, 12, 10...

Redução, infelizmente não é solução para o Brasil (pelo menos até os dias de hoje). Nem sei se tem sido solução em outros países onde isso já é uma realidade. Talvez a solução esteja na maior oferta de trabalho, creches, escolas e vários outros pontos que os contrários à redução sempre defendem.

Só que, mesmo não concordando com a redução, para curto prazo é difícil ver outras possibilidades . A juventude está perdida entre drogas e violência. Todos os dias adolescentes (e cada vez mais crianças) protagonizam atos de violência. Matam, roubam, sequestram e aterrorizam o dia-a-dia dentro das cidades.

Não sei se por culpa do "sistema capitalista"; se por culpa dos "pais" que largaram as "mães" sozinhas e não criaram nem assumiram sua responsabilidade com seus filhos; se por conta das mães de família que precisam trabalhar de domingo à domingo e não têm com quem deixar os filhos e (muitas vezes) os netos; se pelas crianças abandonas ao descaso nas ruas ou se por 200 outros motivos que cada um pode listar.

Não vejo luz no fim desse túnel. Pelo menos para amanhã, ou depois, não sei o que poderíamos fazer. Mas algo deve ser feito com urgência. A redução é um paliativo, que trará ainda mais problemas para nosso país com um sistema prisional tão desumano e cruel. O investimento em educação leva tempo, um tempo que muitos de nós não teremos até que ele se conclua.

Enquanto a pobreza, a criminalidade e a ignorância forem moedas de troca a cada quatro anos e nós eleitores/cidadãos nos submetermos a isso, é impossível esperar soluções eficazes. Até porque todos esses problemas movimentam questões financeiras muito maiores.

O tráfico e o crime organizado recrutam milhares de jovens soldados a cada novo dia, oferecendo o "status" que nossa TV vende a todo instante. O sexo e as drogas em excesso tornaram-se "culturais" dentro da sociedade. Enquanto a violência, enlatada e vendida pela América do Norte estimula um milionário e grandioso mercado de armas (fabricadas lá, por sinal).

A família não é mais um referencial (por favor não venham me dizer que o apoio ao casamento homoafetivo destruiu a família, pois muitas crianças abandonas por "héteros" têm garantido seus lares nessas famílias) e as religiões correm atrás do prejuízo, mas não conseguem salvar muit@s tanto quanto gostaria e deveria. Até porque a fé está em desuso e fora de moda no modelo sociocultural moderno, que precisamos nos enquadrar. Além disso, muitas religiões pregam tanto preconceito e intolerância (religiões que estão mais perto do que muitos imaginam) que fica difícil imaginar as coisas melhores.

E enquanto não se resolve tudo isso o que fazer?

Até lá, cabe a cada um cuidar dos seus, mas pensando e respeitando o outro. Caridade, respeito, compaixão, perdão... o cultivo do bem continua sendo a melhor saída e a melhor proteção (ainda que a crueldade e o interesse não respeitem nada disso) enquanto todos não aprendermos a lutar pela igualdade de direitos.

Legião Urbana - Mais do Mesmo


sábado, 2 de novembro de 2013

Curto esse Curta!

A morte é sempre motivo para frustração, angústia, apreensão, medos e lembranças dolorosas para todos que perderam pessoas próximas. Ninguém a espera, pelo menos a grande maioria de nós não. Hoje, Dia de Finados, mais do que lamentar e sentir as ausências é um dia para se pensar nesta hora derradeira.

E você, tem se preparado para a sua morte? Tem se preparado para a morte dos seus? Polêmico, elogiado, "sombrio" e engraçado, o curta metragem abaixo traz muita discussão e reflexão sobre o tema. Afinal morrer nunca foi o grande problema, viver sim.

A produção nacional traz Laura Cardoso e Paulo José no elenco.

Morte - com Laura Cardoso e Paulo José