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quarta-feira, 16 de março de 2011

Hora de recomeçar

Desde o final da última semana assisto comovido ao drama japonês que tomou conta dos noticiários. Tanta destruição, tanto caos que me pergunto como deve estar os sonhos de um povo que não deve dormir há dias?

Cinco mulheres na tv foram personagens desse sofrimento. A primeira rodeava escombros e pilhas de carros, casas e todos os destroços levados pelo tsunami, ou derrubados pelo terremoto. A sua busca era por encontrar vivo o sobrinho. A aflição de uma tia, uma mulher que perdeu tudo, menos a esperança.

Depois vieram duas senhoras, a mais nova de cabelos quase todos negros era quem se destacava. Sua serenidade em falar e gesticular, talvez uma característica daquele povo, contrastava com seu olhar assustado. A outra senhora, mais velha, mais baixa e levemente mais robusta se apresentava mais agitada e falante. Mas foi a primeira quem disse que há dois dias elas estavam sem comer.

A quarta personagem era uma senhora sorrindo, parecia estar feliz com toda aquela destruição. Pelo menos seria essa a impressão de algum desavisado que ligasse a tv naquele instante. Sua alegria era que, após a tragédia, ela havia conseguido voltar à sua rua, nos destroços da sua casa e encontrar sua carteira com documentos e cartões de crédito. Agora ela podia comprar comida e água.

Por fim, duas jovens também caminhavam por seus escombros. Tão novas, tão cheias de vida e "perdidas" por entre montes de desilusão. Ali imaginei uma mente tentando achar um futuro quando tudo em volta está no chão. Estas duas faziam uma busca, mas não por entes levados pelas águas, nem soterrados por concreto, tampouco por documentos. Nas mãos luvas de borracha e uma sacola com alguns alimentos, reviravam os lixos buscando por comida, bebida... restos e migalhas capazes de saciar a fome.

O que pensar de tudo isso? Como sorrir? A quem culpar? Por onde andará Deus?, perguntarão alguns. Outros radicais dirão que Deus castigou a nação japonesa pela sua maioria não cristã. Mas então onde Buda estava para permitir tudo isso?

A pergunta certa seria o que temos de aprender com tudo isto. Qual lição receberemos nesse momento? Essa é uma boa chance de praticarmos a caridade. Estender a mão pra quem precisa de tanto, de tudo. Nós, do terceiro mundo ajudar a terceira maior economia mundial. Com tantas toneladas de grãos e alimentos que desperdiçamos todos anos será que ajudaríamos o Japão? Mataríamos a fome da África miserável e faminta? Saciaríamos o Haiti devastado também por um terremoto?

Com o passar dos anos e as tragédias tornando-se maiores e rotineiras é preciso enxergar o óbvio, o anormal. O caos, a tragédia e a devastação pode alcançar qualquer um, todos nós. Este é um tempo de transformações íntimas e profundas do ser humano. Talvez o apocalípse cristão, mas para que morramos na ignorância e mediocridade do homem velho para o nascimento de um ser melhor para si e para o próximo.

Ainda podemos melhorar. Há tempo para garantir o futuro àquelas jovens revirando lixo no Japão. Podemos saciar a fome das senhoras desabrigadas e rezar pela tia aflita em busca do sobrinho. Podemos muito e no final recomeçarmos, todos, e sorrir.

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