Aviso!

Proibida a reprodução ou uso dos textos do autor do blog sem a sua prévia autorização.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Noites de Agosto

O vento forte correu por toda casa, bateu portas, abriu janelas, levantou a poeira e acordou a criança que chorou, mas ninguém quis niná-la. Assustado, correu para ver o que havia acontecido.

Logo o choro se foi e a pequena alma adormeceu, acarinhada por seu anjo da guarda (talvez). Observou da porta a criança se acalmando com o som das folhas da mangueira que corriam na calçada, embaixo da janela. No quarto ao lado, os outros nem se moviam. No chão a garrafa de cachaça indicava o motivo deles não terem acordado.

Lá fora o tempo revolto era ainda mais calmo que dentro de seu peito.

Como um vigia dos sonos juvenis, andava entre os lixos e os jovens deitados pelo piso sujo. Enquanto as camas vazias serviam de guarda-roupas para as vestes encardidas, a juventude estava jogada e embriagada.

Tudo estava fora do lugar. Copos descartáveis espalhados pelo chão, roupas arremessadas para fora do varal e o coração se apertava, na tentativa da fazer correr uma lágrima qualquer. Seguia a passos lentos com sua ronda, enquanto o vento continuava a correr.

A noite foi fria, longa e seca dentro e fora do coração acelerado. Pronto!, os olhos úmidos aliviavam o tempo seco e tudo lá dentro ficou um pouco mais desacelerado. Chorou, dormiu, sonhou e pela manhã conseguiu até cantar uma canção triste.

O Sol não nasceu, só o vento chegou trazendo as nuvens, na tentativa de estender a noite dia-a-fora. Fechando o casaco protegeu a garganta e ao longe uma luz avermelhada se esforçava para romper o horizonte e ultrapassar a parede espessa nublada.

Tudo era estranho. Nada fazia sentido. Em casa, dormiu de verdade e sonhou com o fim do mundo. Tomou alguns remédios, viu histórias tristes na tv e abriu a cortina para saber se o mundo ainda estava inteiro.

Adriana Calcanhoto - Metade

Nenhum comentário:

Postar um comentário