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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Adeus - I

Enquanto na TV homenagens eram prestadas a uma falecida apresentadora, cantora e atriz, eu já me encontrava triste sem saber ao menos o motivo. Coloquei minha mala sobre a cama e a fiz para voltar. Mesmo que ainda faltasse tanto tempo para retornar, quis (sem saber o motivo) deixar tudo pronto para minha volta.

Na rua, comprei a lembrança que faltava. Um quadro retratando a santa ceia, algo que minha mãe sonhara por tantos meses. Enfim, achei um que lhe agradaria. Peguei o celular para avisá-la, mas hesitei no último segundo. Que tal fazer uma surpresa? Desliguei e fui dar um passeio noturno à beira-mar, um último brinde e depois descansar. Ainda assim algo parecia estranho desde o sábado pela manhã.

O telefone toca, minha mãe!? Pelo adiantado da hora achei estranho, mas o que poderia ter acontecido? Com certeza ela me perguntaria sobre algo relativo à viagem e se alguém iria me buscar do aeroporto. Atendi brincando e perguntando o quê ela queria. Do outro lado meu irmão aos prantos me pergunta onde estou, me pede pra ser forte e avisa que nossa mãe havia desencarnado...

Não me lembro bem o que aconteceu depois disso. Com muita dificuldade e passado algum tempo cheguei ao hotel aos prantos, sentei na cama e rezei pela alma da minha mãe. Minutos depois enviei duas ou três mensagens e recebi dezenas de telefonemas e mensagens.

Outra vez minha memória falha e agora já estou a caminho do aeroporto. Perto da meia noite alguém me liga, mais choro, mais inércia, mais nada. Uma noite sentado, sob um ar condicionado me congelando e eu tremendo de medo. Não queria voltar, mas também sabia que fazia parte da vida enterrar meus mortos.

Já de volta à Brasília, meus primos me esperavam. Choramos, nos abraçamos e eu ainda parecia estar dormindo. Esperava acordar ou ver ao chegar sorrindo e me dizer que tudo não passou de uma brincadeira. Até agora estou esperando.

Em casa outra sessão de choros a cada novo abraço e desejo de me reconfortar. Me vi tentando reconfortar tantos, a começar pelos meus avós e pelo meu irmão deitado em minha cama, dopado pelos remédios de tarja preta e como se quisesse meu perdão, jurou ter feito de tudo para salvá-la.

A casa revirada e suja descrevia toda a tragédia ocorrida ali horas atrás. Talvez depois de tudo isso, meu pai tenha descreditado ainda mais que Deus possa existir. Não que ele precisasse de novos argumentos, isso ele têm de sobra, mas talvez agora ele tivesse motivos reais para descrer. Ao me ver, veio emocionado me abraçar. Não sei ao certo se foi eu quem o acalmou, ou se ele me deixou nervoso.

Não houveram despedidas, tudo repentino como ela queria que fosse sua partida. Mas tenho a certeza que nem mesmo ela queria que fosse tão doloroso para todos nós. Agora seríamos apenas nós dois (eu e meu pai) e toda falta que minha mãe deixou. Terceiro elemento que se faz muito mais presente e preenchedor de espaços dentro dos nossos dias daqui por diante.

Alcione e Maria Bethânia - Sem Mais Adeus

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