Aviso!

Proibida a reprodução ou uso dos textos do autor do blog sem a sua prévia autorização.

domingo, 17 de agosto de 2014

Os urubus logo sobrevoam a carniça

Pra muita gente é ridículo ver pessoas comovidas com a morte do candidato e ex-governador do Pernambuco, Eduardo Campos. Eu me abati. Eu me doí. Eu remoí meus fantasmas mais tenebrosos. A notícia me trouxe alguns nós, alguns entraves inexplicáveis e explicáveis.

Dos inexplicáveis, não posso falar muito. Daquilo que posso dizer, está a dor de reviver perdas inesperadas. O desequilíbrio, a falta de rumo, de prumo, de chão. A espera por uma notícia que desminta a tragédia. Achar que na manhã seguinte, quando se consegue dormir, se perceberá que tudo não passou de um pesadelo.

Esse atordoamento de ver gente jovem demais, feliz demais, boa demais ir cedo é, ironicamente, demais. Não que ele tivesse todas essas virtudes (talvez não tivesse nenhuma ou até mais, não sei), mas me aperta ver tanta gente indo embora com essa impressão de que não era a hora. 

Volto ao meu caso, minha vivência pessoal, para logo me colocar no lugar do outro. A família que perde seu eixo, seu prumo, sua sustentação e não sabe bem por onde recomeçar a juntar seus pedaços. Nesse caso, uma analogia aos destroços do avião, espalhados por dezenas de casas. Leva tempo pra se situar e tomar conhecimento do estrago.

Vi durante esses dias inúmeras piadas prontas sobre causas da morte relacionadas com possíveis atentados e mandandes. Mas isso é apenas a constatação de que tão logo a desgraça seja anunciada os urubus já sobrevoam. É esperado de gente medíocre o tripudio sob a dor alheia com a justificativa política, ou mesmo de que o brasileiro é "criativo". Uma pena tanta criatividade em prol da dor que nos é distante, mas que cedo ou tarde bate à porta de todos.

Quem já recebeu essa ingrata visita se comove. Comigo não foi diferente. Desde quarta uma sensação ruim, lembranças e mais lembranças. Na sexta eu senti, logo cedo, a presença forte da minha mãe e isso me fez não esperar muito do dia. Os detalhes da cozinha, a lembrança de segurar sua mão, alguma frase sempre repetida, o rádio, o som da rua, o relógio, o tempo... faz tempo, mas sempre parece que foi ontem. Acho que foi (outra vez) na quarta. 

Legião Urbana - Love In The Afternoon

Nenhum comentário:

Postar um comentário