O jovem cantor sertanejo comoveu milhões com sua morte prematura, causada por um acidente de carro. Mas hoje relato a perda de uma jovem que, simplesmente, "adormeceu" no último fim de semana.
É sempre estranho ver gente jovem demais, alegre demais, boa demais morrer. Como se a morte precisasse de desculpas ou critérios para fazer valer.
Por que não nos acostumamos com isso?
Taí uma coisa pra qual nem sempre somos preparados. Morrer, diferente do nascer, não tem gestação. Diferente da vida, ela não precisa de nada para acontecer.
Enquanto não sabemos lidar, aceitar ou entender que a morte faz parte da vida, que possamos ao menos ser reconfortados pela lembrança e os bons momentos.
Surpreende ver vidas que se vão no auge, no ápice. Mas talvez seja melhor despedir-se estando pleno. "Morrer estando vivo!", como li certa vez.
Amor: afeição profunda; objeto dessa afeição; conjunto de fenômenos cerebrais e afetivos que constituem o instinto sexual; afeto a pessoas ou coisas; paixão; entusiasmo.
Estava angustiado e andando de um lado para o outro. Enquanto minha avó disfarçava o choro, meu avô estava sentado, olhando para o horizonte e com a cabeça distante. Até que as outras duas cachorras latiram, avisando que minha tia havia chegado. Era hora de buscar nossa cachorra para enterrá-la.
Eu e minha tia fomos, relativamente bem. Conversamos um pouco e logo chegamos até a clínica. Subimos a longa escadaria e lá em cima um funcionário magro, alto e de expressão fechada nos recebeu. Assim que soube o que procurávamos se mostrou sereno e compreensivo com a nossa perda. A feição já era outra.
De lá de dentro ele surgiu com a Husky nos braços. Foi difícil ver, por mais que soubesse. Meus olhos logo se encheram de lágrima e me adiantei aos dois e fui descendo as escadas. Pensei em colocá-la no porta-malas, mas minha tia logo se adiantou e disse, "ela vai lá dentro, no banco". Entendi como seria respeitoso e carinhoso esse ato. Abri o carro, colocamos alguns papelões no banco de trás e a forramos com o lençol, o mesmo que usamos para carregá-la até o carro para trazê-la até o veterinário.
Lúcia (minha tia) foi até a recepção para pagar as despesas do tratamento enquanto fiquei no carro com a cachorra. Não deu pra segurar por muito tempo. Chorei, chorei e novamente a acariciei como fiz durante sua agonia. Mas dessa vez ela não respirava, não olhava para o nada, ou mesmo para mim. A língua, já roxa, estava com a ponta para fora da boca no lado esquerdo. Não podia duvidar que ela estiva morta.
Peguei o telefone e liguei para a minha avó, pedi que ela avisasse ao meu avô que a "cova" estava pequena e que ele aumentasse o espaço. Um dos motivos da minha preocupação era que o corpo da cachorra começava a ficar rígido. As patas dianteiras não podiam mais ser dobradas e as traseiras possuíam um mínimo de flexibilidade. Ao fazer o pedido minha voz engasgou, mas respirei e terminei a conversa.
Tentei me recompor, mas meus olhos já estavam tão vermelhos que era impossível negar o choro. Chorei mais um pouco e enxuguei meu rosto. Cobri o quanto pude o corpo branco e peludo. Mesmo sem vida ela ainda era uma cachorra linda, talvez a mais bonita que eu já tenha visto. Lúcia voltou e parou por alguns segundos a olhando. Entrou, ligou o carro e fomos embora. Calados, ouvia apenas o choro quase silencioso da minha tia. Enquanto uma mão segurava o volante, outra se ocupava em secar lágrimas que escorriam pelo rosto. Quieto, apenas mantive o silêncio.
Perto de casa, minha tia achava estar errando o caminho. Um pouco desnorteada com o que estava acontecendo, mas a avisei de que estávamos no caminho certo. Entramos pela área verde, onde a "cova" estava aberta, mas meu avô tentava aumentá-la. A dificuldade se dava pelo enorme coqueiro de dendê, a cerca de dois a três metros, com suas raízes dificultando a escavação. Peguei a enchada e fui ajudá-lo, enquanto isso minha vó vinha para olhar pela última vez sua cachorra.
Enquanto ela e a Lúcia choravam eu tentava (apenas tentava) não pensar muito no que estava fazendo. Peguei a pá e retirei a terra de dentro do buraco. Muita terra pra um buraco relativamente pequeno. Logo minha vó me chama e linda e inocentemente me pergunta, "Meu filho, ela não está respirando? Acho que eu a vi respirando!". Sorri e com a mão em seu ombro expliquei que infelizmente a cachorra não respirava mais.
Decepcionada ela se afastou do carro, ainda enxugando o rosto e repetindo, "coitada, ela sofreu tanto...". E de fato, sofreu muito. Seus uivos de dor e desespero ainda ecoavam na minha cabeça, mas de alguma forma a morte dela me soava mais como um alívio do que como uma perda. Talvez por isso eu tenha chorado pouco. Minha tia colocou o carro próximo ao local onde enterraríamos a cachorra. Eu e meu avô tiramos o corpo do banco do carro com a ajuda do lençol e a colocamos na cova. Quando a terra começou a cair sobre seu corpo minha vó logo nos deu as costas e apressou o passo para dentro de casa.
Respirei fundo e não olhei para dentro do buraco quando puxei a terra que cobriria seu rosto. Terminei, peguei o carro e coloquei na garagem. Minha vó abriu o portão para mim, enquanto tentava não mostrar o rosto lavado com tanto choro. As outras cachorras me cheiravam e pareciam entender tudo o que se passava. A minha cachorra (Labrador) ficou quieta, apenas me acompanhando. Lavei minhas mãos e me abaixei para "falar" com ela. Seus olhos estavam me olhando com uma certa dose de tristeza e estranhamente ela não fez o alarde de sempre. Não pulou em cima de mim, não me lambeu, não mordeu minha mão, apenas sentou-se e balançou o rabo enquanto eu a acariciava.
Pensei no dia que ela morrer, mas logo mudei o pensamento para não sofrer por antecipação. Tudo no seu tempo, sem antecipar ou precipitar nada. Acho que a lição dos últimos meses tem sido essa. E os mortos dentro de mim? Estavam momentaneamente enterrados.
Uma pessoa muito especial me faz lembrar dessa música. Uma canção triste que fala de despedidas. A lembrança que me vem não tem nenhuma relação com a despedida que nós vivemos, mas com a que essa pessoa viveu com a morte de seu pai há poucos anos, próximo ao reveillon.
Sempre me dizia que esta música trazia em sua memória a perda do pai. Infelizmente a vida fez com que nós também nos perdêssemos, mas muito antes fez com que perdesse o pai. Ainda não posso imaginar o tamanho dessa perda, mas pelos seus olhos eu pude sentir o quanto apertava dentro do seu peito.
Cuide-se e seja feliz, mesmo sem seu pai por perto.
A morte é com certeza inevitável, mas algumas pessoas tornaram-se eternas pelo seu trabalho e pela sua história de vida. Por isso, hoje é o dia dos nossos eternos artistas que já não estão mais conosco.
Cássia Eller - Meu mundo ficaria completo (com você)
O nordeste do nosso país ainda é uma das regiões mais pobres e de maior desigualdade social. A falta de chuva no sertão, a exploração sexual infantil no litoral, que movimenta milhões com o turismo, ou mesmo o carnaval milionário de Salvador que exclui a população local e "abre alas" à classe média e alta de todo o país, são algumas das feridas mais expostas.
Natiruts - Palmares 1999
Nordeste de Zumbi. Nordeste de Palmares. Nordeste de séculos de escravidão e tirania.
Ellen Oléria - Zumbi
Nordeste de contrastes, enquanto a miséria acontece ali ao lado, um cenário paradisíaco se forma à frente. Uma população sem estudos e oportunidades que abandona tudo e se arrisca nas vorazes capitais em outras regiões do país. Movimento migratório surgido desde a época da "abolição da escravatura", no fim do século XIX e no início do século XX. Em busca de uma vida melhor, os imigrantes pobres e negros, encontraram nas metrópoles muito trabalho, pouco dinheiro e a violência de sobra (gratuita e sem limites).
Zé Ramalho - Admirável gado novo
Nordeste de fé e sofrimento. Nordeste que cria seus próprios santos. Nordeste de crença e esperança na ajuda divina.
Tim Maia - Padre Cícero
E mesmo com tantas mazelas, esse povo ainda ri, ainda sabe como ser feliz. Salve o dia do nordestino, salve!
Adriana Calcanhoto sutilmente envolve nossos ouvidos com sua voz serena. Mesmo quando dedica um álbum inteiro as crianças ela consegue ser pop e conquistar a todos. Admirada mundo à fora, em especial em Portugal, Calcanhoto é uma das mais talentosas compositoras da atualidade.
Adriana Calcanhoto - Metade
João Rubinato, ou como era realmente conhecido: Adoniran Barbosa, foi a prova concreta de que o samba podia ser feito na selva de pedra. Figura única de nossa música, irreverente, de voz rouca, o paulistano Adoniran fez samba para que todos pudessem admirar. Cantando o português de forma errada, se aproximou e conquistou o grande público.
Adoniran Barbosa - As mariposa
Tim Maia é outra daquelas figuras folclóricas de nossa música. Seja o sacana e bem-humorado ou o resmungão pedindo mais retorno, Tim deixa muitas saudades em seus fãs. Talentoso, de voz potente e bela, sua carreira de sucessos se confunde com o abuso de drogas. Talvez o defeito que mais tenha desagradado seus fãs, era o fato de que nem sempre ele aparecia nos seus shows e apresentações nas tvs.
Tim Maia - Do Leme ao Pontal
Dos grandes sambistas que você conhece atualmente, boa parte tem Beth Carvalho como madrinha. A cantora vem de uma época em que muitas mulheres estavam se destacando nas rodas de samba. Entre elas: Alcione, Clara Nunes, Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus. Beth Carvalho - As rosas não falam
O Rappa foi uma das boas surpresas da década de 1990. Com as críticas socias impregnadas em suas letras a banda carioca, sem um estilo definido, se definiu muito bem em cada protesto que cantou. Hoje, sem Marcelo Yuka, principal letrista, a banda perdeu o brilho de antes, mas ainda tem um público fiel onde quer que vá.
O Rappa - Minha Alma (a Paz que Eu Não Quero)
Alagoano de talento indiscutível, Djavan é unanimidade entre jovens e adultos. O compositor e cantor nordestino sabe muito bem levar o romantismo em suas canções. Na estrada há tanto tempo ainda se mantêm criativo e com talento de sobra.
Djavan - Te devoro
Dorival Caymmi compôs para nossos maiores intérpretes. O samba do baiano atravessou o mundo e está entre nossas músicas mais conhecidas internacionalmente. Entre suas principais intérpretes está Carmem Miranda. Caymmi deixou, além de uma bela obra, uma musical e talentosa família que continua levando seu nome e a tradicional música baiana adiante.
Dorival Caymmi e Gal Costa - Só louco
O rock da década de 1980 foi criativo e debochado com o fim da ditadura. Dentre as inúmeras bandas da época, os Titãs foram os que mais reuniram talentos em um só lugar. Mesmo com a saída de Arnaldo Antunes, Nando Reis e a morte de Marcelo Frommer, os paulistanos continuam emplacando hits ainda hoje. Os roqueiros sabem como se manter no voraz mecado e se renovar agradando e conquistando novos públicos.
Titãs - Porque eu sei que é amor
Acredito que o sonho de toda intérprete seja cantar como Maria Bethânia. A baiana talvez seja, atualmente, a nossa maior intérprete. Bethânia construiu sua carreira com seu canto e seu repertório, sem viver às margens do talento do irmão, Caetano Veloso. Assim como Clara, a cantora sempre trouxe em seu repertório canções que falassem dos orixás e dos elementos das religiões afrobrasileiras, mas também soube falar do amor.
Maria Bethânia - Olhos nos olhos
Se engana quem pensa que o Maranhão é lugar de pouca inspiração musical. Zeca Baleiro é um dos novos e geniais nomes da nossa música. O talentoso compositor é de uma nova geração que ainda tem muito para contribuir à nossa música.
Zeca Baleiro - Lenha
Se espanta quem ouve pela primeira vez, Clementina de Jesus. Com uma voz única a grande sambista é quase desconhecida atualmente. Uma de nossas grandes figuras musicais, ela está entre as maiores vozes negras de nosso país. Pena que pouca gente (re)conheça e admire seu trabalho.
Clementina de Jesus - Ensaboa
Brasília também contribuiu musicalmente para nossa música popular. O Natiruts deixou o Lago Paranoá e surfou em outras ondas por todo o país. A banda representa o mais bem sucedido caso de reggae dentro da nossa música, atualmente. Frutos da geração pós-Cidade Negra, os brasilienses sabem como levar seu público ao delírio.
Natiruts - Reggae power
A Legião Urbana foi, com certeza, a maior banda de rock do Brasil. Quem conseguiu compor e entender tão bem o que se passava com seus fãs como fez Renato Russo? Quem conseguiria fazer uma canção de quase dez minutos de duração se tornar um clássico e ser tocada em rádios? A Além desses e de tantos outros feitos, a Legião conseguiu vender milhões de cópias fazendo pouquíssimos shows. Em cada apresentação milhares de fãs se apertavam em estádios e ginásios para ver de perto as históricas apresentações da banda brasiliense.
O síndico volta às nossas animações musicadas. O vídeo também faz parte do relançamento do seu álbum, Racional, pela gravadora Trama, em 2006.
Tim Maia - Imunização Racional (Que beleza!)
Recentemente a galera do Rappa regravou Gonzagão com uma nova roupagem. O clipe é uma animação que reconta a guerra de Canudos na famosa versão "Rappa". Uma mistura que merece ser vista.
O Rappa - Súplica Cearense
Destacamos também Adriana Calcanhoto, na onda de clipes de animação. A cantora e compositora "animou" a música dos Mc's Claudinho e Bochecha. A faixa faz parte do álbum Adriana Partimpim, com canções voltadas ao público infantil.
Adriana Calcanhoto - Fico assim sem você
O vídeo abaixo talvez tenha sido o primeiro clip/animação que me lembro de ter visto. Titãs, ainda com Nando Reis no contrabaixo e vocais, e a música do especial acústico Mtv. O álbum, lançado em 1997 foi sucesso de crítica e vendas e deu início a uma fase acústica da banda que se desdobrou em outros cds.
Nem só de rock vive o mundo dos clipes animados (como vimos na postagem anterior de Música Animada). Vanessa da Mata não quis ficar sozinha e de fora dessa, misturou mundo real e animado, e nos proporcionou um belo vídeo.
Vanessa da Mata - Não me deixe só
Reggae e forró, Brasil e Jamaica, Gil e Marley se encontraram no próximo vídeo graças à parceria Música/Animação.
Gilberto Gil - Tree Little Birds
Mas se enganam os que pensam que a animação só existe com as mais avançadas técnicas e recursos. Marisa Monte mostra, com simplicidade, como é que se faz uma boa música animada.
Marisa Monte - Diariamente
Tim Maia foi muito bem homenageado pela nossa próxima animação. O vídeo retratou aquele que podemos definir como o momento mais "racional" da carreira do músico. O clipe fez parte do projeto de relançamento de um dos seus mais famosos álbuns, Racional, em 2006. Com vocês, o animado mestre Tim.
Muita comemoração nesta segunda. Elba Ramalho e Ed Motta apagam as velinhas mais uma vez. Milhares de fãs e a nossa mpb desejam que eles comemorem mais e mais anos. E que venha mais e mais música boa.
Como as damas devem vir primeiro, comecemos pela paraibana, cantora e atriz. Nosso "frevo mulher", Elba Ramalho acompanhada pelo parceiro e amigo Dominguinhos.
Elba Ramalho - De volta pro aconchego
O vídeo de Ed Motta faz parte de um show (que se tornou dvd e cd) em homenagem ao seu tio, Tim Maia. Apesar dos rumores de que não se davam bem, vale mostrar o quanto a família é talentosa.
Ed Motta - Azul da cor do mar/Se me lembro faz doer