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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Difícil fotografar o silêncio

(Manoel de Barros)

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta.
Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.

Preparei minha máquina de novo.

Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado.
Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.

Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakoviski -- seu criador.
Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.


Antônio Abujamra - Difícil Fotografar o Silêncio

segunda-feira, 29 de março de 2010

Marina, mais linda

Agora é tempo de amar.
Amor assim, sem fim.
Extenso, largo, profundo e forte como o mar.

Agora é tempo de, sorrindo, chorar,
de ninar a boneca menina.
Tempo de acalmar o coração de mãe aflita
e apenas poder cantar uma cantiga, Marina.

Dorme Marina, dorme.
Que os olhos estão a te vigiar.
Deita e cochila, não fique aflita.
Tens aqui todo o amor que precisar.

Se acolhe no colo de mãe linda,
se aconchega no seio da tua vida.
Se abriga! Descança onde nada te causará ferida.

E essa menina, será que é do mar?
Será que o mar é dessa menina?
Será Marina, será menina pra se amar.

Pequenos olhos ainda,
és a pequena dos olhos da vida.
Pequena menina, Marina.
Pequena menina, mais linda.