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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Fábrica de Pesadelos

Que o papel aceita de tudo, isso não é novidade. Aliás, escrito o mundo se torna tão bonito e perfeitinho que nos orgulhamos de nossa humanidade. Pode-se criar leis que ofereçam direitos e deveres sem se esquecer de ninguém. Nas linhas é possível erguer um país justo e igualitário e corrigir os desenganos que o tempo cometeu.

Pena que quando saímos do papel pouco se concretiza. Em especial a assistência social, tão bonita em sua normatização. Tão garantidora de direitos que pode comover o mais desavisado que lê-la, acreditando que o mundo a concretiza. A verdade por trás de tudo isso é que os governantes entendem o serviço social como uma mera forma de assistencialismo que devolve aos seus governos votos importantes a cada 4 anos.

Após quase um ano em um abrigo público constato o completo abandono do Estado e o reflexo sentido por mim, a frágil ponta da linha que liga excluídos adolescentes de rua ao governo. Uso excessivo de drogas, vandalismo, tráfico, roubos, violência gratuita, algumas vezes a tentativa de coagir a nós que tentamos garantir-lhes os mínimos direitos e tendo como único apoio do sistema a "metodologia" da Polícia Militar (inimiga número 1 dos jovens em situação de rua).

Meu local de trabalho (nas piores condições estruturais possíveis) se localiza, ironicamente, próximo a um belíssimo canteiro de obras. Um estádio que receberá nações e será palco de possíveis alegrias a cada país representado. Até por quê, no "país do futebol" é imprescindível garantir uma bela Copa do Mundo e mostrar a capacidade da nossa nação em receber as Olimpíadas em 2016.

Afinal, o que garante votos? Abrigos que cuidam de idosos, moradores de rua, mulheres com problemas mentais e crianças? Ou a distribuição de pão, leite e auxílios que incentivam famílias a terem mais e mais filhos sem se importar de maneira eficaz com o planejamento familiar e a melhora social? Quase ia me esquecendo, as famílias que recebem os auxílios são, em parte, as mesmas que por vários motivos vêem seus filhos se envolverem no crime, traficarem, morarem na rua, se drogarem e chegarem até abrigos iguais ao que trabalho.

Como nos alertou um colega de trabalho, ex-morador de rua, "menino de rua é igual onça, todo mundo defende, mas ninguém chega perto". No mais alto escalão da secretaria, promessas eternas de que tudo há de melhorar enquanto adolescentes são presos, mortos, traficam, são estuprados, viciados, agredidos, rejeitados, prostituídos e os servidores públicos que os assistem adoecem, são agredidos, ameaçados e com pouco mais de dois meses perdem todos os sonhos de que era possível mudar muitas vidas.

O sonho não é de todo em vão. Algumas poucas almas podem ser salvas, não por ajuda de um governo, mas por desejo de mudança do jovem. Como ovos de tartarugas enterrados na areia da praia, de cada mil, um consegue superar a natureza e sobreviver.

Natiruts e GOG - Quem Planta Preconceito

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