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terça-feira, 27 de março de 2012

Miseravelmente miseráveis

Quanto custa a bolsa de grife? O tênis de marca? O casaco importado? A bicicleta do vizinho? O carro vermelho italiano? O colar de diamantes? Os anéis de ouro? A calça da moda? O tablet de última geração? O celular sem teclado? A mansão na beira da praia?

Quantos dígitos são necessários para ter tudo isso?

Objeto de desejo de milhões, mundo a fora. Cada um dos poucos ítens citados acima trazem muito mais do que facilidade e utilidade. Eles carregam outros valores (além do financeiro) que fazem deles tão cobiçados, caros e especiais.

Quanto custa um copo d'água? Um prato de comida? Um par de chinelos? Uma camisa? Uma bermuda? Uma coberta? Uma cama? Uma casa de dois ou três cômodos? Uma escola? Um caderno? Um lápis? Um óculos? Uma cadeira de rodas? Um remédio?

O trivial, o ordinário, o comum, o rotineiro, precisa de quantas moedas para ser obtido?

A maioria, ou talvez todos nós, não sabemos o valor exato dessa segunda lista. Da primeira é bem provável que, se não soubermos tudo, tenhamos cerca de 95% dos preços gravados. Até mesmo acompanhando suas variações, por meses, na expectativa de que um dia caibam em nossos orçamentos.

Valores a parte, qual das duas listas é a mais importante? Qual é o fundamental e merece, de fato, ter um valor exorbitante agregado ao seu preço?

Para cada novo tablet vendido, milhões de crianças deixam de ir à escola todos os dias. Para cada bolsa cravejada de brilhantes, bordada com fios de ouro e recoberta com a seda da mais alta qualidade, centenas de milhares de famílias estão debaixos de viadutos, árvores, pontes ou jogadas em calçadas. Para cada prato refinado e exótico, temperado com ervas finas cultivadas em remotas regiões do planeta e preparado por um renomado chef, milhões morrem de fome e sede.

E daí? Todos sabemos disso, mas não nos damos conta quando estamos na fila com cada um dos ítens citados nas mãos, depois de meses, ou semanas, de economia.

O que nos difere dos miseráveis? Ambos queremos objetos valorosos, mas que não estão ao nosso alcance. Nós por luxo, eles por necessidade, desespero talvez. Somos igualmente miseráveis, mas em graus e escalas diferentes. Os mais debochados me dirão que a nossa miséria é evoluída, mas infelizmente ela é uma miséria mais miserável ainda. É quando o básico vira fútil e o dispensável se torna essencial.

Enquanto isso, vivemos como se nada acontecesse do lado de fora dos muros com cerca eletrificada e câmeras de vigilância. Mesmo vendo e sentindo a violência bater à nossa porta todos os dias.

Na verdade queremos ser as madames chiques do reality show da tv, que acham tudo uma loucura e brindam com suas taças de cristal às nove da manhã. Queremos ser os filhos do bilionário que têm um carro que ninguém mais no país tem e que vão a uma delegacia com cinco seguranças (dentro de outro carro importado) explicar que não tiveram culpa em atropelar e matar um ciclista.

O que nos sobra, nos faz falta, porque é essa "aparente sobra" que nos fará chegar lá em cima. Já para quem quer apenas sobreviver, o que nos sobra lhes faz tanta falta que muitas vezes eles morrem esperando que alguma ajuda venha.

Agora pergunto a todos, me incluíndo aí também: - Você mataria alguém para ter algum dos primeiros objetos citados lá em cima? Não!, todos responderemos (espero). Mas o quê temos feito para salvar essas vidas que se perdem a espera daquilo que nos sobra?

... , responderemos.

Engenheiros do Hawaii - Terra de Gigantes/Números


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