Inverno tá acabando? Só se for mesmo, aqui nem começou. - minha mãe conversava com a notícia na TV e ria. Enquanto isso o dia seguia quente e muito seco. Mesmo para os calangos do cerrado a seca já estava insuportável. A poeira rapidamente formava uma camada sobre os móveis, por mais que fossem limpos.
Na esquina da outra quadra um redemoinho se formava. O pequeno furacão vermelho de poeira levantou de repente levando papéis, folhas, sacos plásticos e tudo ao seu alcance. A mulher com o filho nos braços teve logo os cabelos embaraçados. A criança tapava os olhos com as pequenas mãos enquanto gargalhava.
Ao longe, meninos soltavam pipa, admiravam o fenômeno e riam da mulher com a criança. O vira-latas olhou, mas não se interessou pela cena. Preocupava-se apenas com os carros na pista, temia que pudessem impedí-lo de atravessar e chegar até o campo. Enquanto isso o vendaval passava, deixava pra trás mulher, criança, campo e se desfazia no ar.
Abandonou então seus papéis, sacos, folhas e lixos flutuando e dançando no ar. Agora tudo caía lentamente por cima das casas, entre os galhos do ipê amarelo (com poucas flores). A grama queimada se cobria da poeira vermelha. Uma tentativa de disfarçar a morte vinda com a seca de 4 meses e um descuidado cigarro acesso caído.
No céu, o azul já não era tão bonito como antes. Sem nuvens, sem a intensidade anil de semanas atrás. Inverno seco, quente, empoeirado chegando ao fim, mas onde estaria a chuva de primavera que não apontava no horizonte? Por que as cigarras ainda não começaram a chamar a chuva? Não sei, enquanto isso... segue o seco.
Marisa Monte - Segue o seco
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
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