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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cinzas de uma quarta-feria

O dia amanheceu cinza. Não sei em qual porcentagem, em qual escala, mas era cinza como deveria ser. Enquanto eu queria o mais rápido possível voltar para casa, contraditório, diminuía a velocidade do carro. Havia desânimo não apenas lá fora, mas também aqui dentro.

Sem meus óculos de sol, encarei a manhã de cara limpa. Desmotivado pela sua pobre coloração, olhei o dia sem filtrar a luz que acinzentava ainda mais o universo ao meu redor. Cinza lá fora, a alegria do carnaval também se descoloria dentro do meu carro, preto. Minha roupa, variando apenas entre o branco e preto se fez um uniforme ideal para a quarta-feira.

As senhoras, fiéis, caminhavam rumo ao templo. Cumpriam suas obrigações, deixavam Deus feliz com sua silenciosa caminhada de fé. Eu, talvez infiel demais, queria apenas o escuro do meu quarto. Passava descrente por aquela procissão. Indo no sentido contrário, compartilhava com elas do silêncio.

Minha vó, talvez a mais disposta e feliz das fiéis, (quase que intencionalmente) escolheu o vestuário mais cinza de seu armário. Ela também entrou na caminhada e me convidou para seguir rumo ao altar. Dispensei a demonstração de fé, sacramentada com uma cruz na testa, feita com as cinzas do que sobrou da alegria do carnaval.

Sem som, sem tom, a quarta amanheceu para quem acreditasse, ou não, que ela poderia ser boa.

Elis Regina - Marcha da Quarta-Feira de Cinzas

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