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sábado, 22 de maio de 2010

Multidão solidão

Um brinquedo, um pássaro, um encanto qualquer que laçou os olhos do menino. Uma magia viva e colorida que prendera ali seus pés pequenos e largos. Distraída, entre o celular e a travessia, a mãe seguiu o caminho segurando a bolsa e apressando o passo. Ele ficou, fincou ali seu posto de observador da vida.

A manada humana, vinda dos lados de lá, marchava pra cima de si. O empurrava, o fazia se mover de volta à praça, longe do semáforo e de onde sua mãe poderia, talvez, olhar pra trás e vê-lo. Logo estava junto aos pombos famintos e em busca das migalhas jogadas e caídas pelo chão sujo. Também já estava ao lado dos brinquedos coloridos e barulhentos vendidos pelo camêlo magro e alto. Sorrindo o pequeno tentou capturar os pombos em uma rápida corrida, mas espantou-lhe a imagem do menino tão encardido quanto o chão.

Tentou correr de volta para a mãe, mas não pode ir muito longe. A manada ainda passava por ali, por aqui e por todo lado, para todos os rumos. Buzinas, passos, música e o grito desesperado do outro lado da rua era mais um. Era de uma mãe aflita e já não tão distraída quanto antes. Ninguém se mobilizou, não havia sensibilidade por mais um drama qualquer naquela metade do dia em pleno centro da cidade.

Ele chorou, se viu sozinho entre tanta gente estranha. Se percebeu frágil e desnorteado em um outro mundo, agora mais solitário e vazio. Buscou nos rostos, que não olhavam para baixo, uma ajuda ou algum conhecido. Mas seus olhos apenas buscavam sem enxergar nada direito. Tentavam encontrar algo que acalmasse o desespero. Chorou, e chorou alto, pra tentar responder o grito distante da mãe. Como o pequeno pássaro piando para que a genitora o ache.

Já de olhos fechados, com sua pequena platéia se formando, a mão firme e amiga lhe encontrou. Seus olhos olharam para o céu, viram a luz. Viram o sol e o anjo vindo dele para lhe abraçar e proteger. Sua mãe agora chorava e lhe prometia jamais se afastar dele.

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