O dia ia mal, mesmo tendo começado há pouco. Por que se levantar? Queria apenas manter-se deitada e esperar que o dia seguinte chegasse logo. Sem vestido, sem véu, sem noivo... definitivamente aquele não seria o dia de seu casamento.
A cabeça pensava em tudo ao mesmo tempo, enquanto não esquecia dos planos feitos há um ano. Tudo acabou, se lamentava aos prantos enquanto os pés procuravam a sandália embaixo da cama. Até o banheiro havia uma longa e difícil caminhada cheia de lembranças, lágrimas e mágoas a serem ultrapassadas.
Quis não pensar em todo o resto, mas a mão logo foi ao ventre e buscou pelos filhos que não estavam mais ali. Abortaram-se os seus sonhos todos de uma só vez, de uma cruel e única vez. Onde ele estaria agora? Com quem ele poderia estar deitado a fazer novos planos? A prometer uma ilusória vida "feliz para sempre"?
O rosto lavado não se reconhecia no espelho. O pensamento confuso e sofrido tomava conta de todo o tempo e espaço. O dia seria longo, seriam longas as horas até que tudo isso acabasse. E teria fim?, se perguntou antes de voltar para a cama. Sentou-se e ficou olhando para a janela sem enxergar o belo dia que havia lá fora.
Depois de alguns minutos a mente voltou a si. Levantou, se arrumou e foi viver outro dia. Não iria ao altar, não seria amada na alegria e na tristeza, não seria o dia que lhe haviam prometido. Não, essa seria a palavra do dia.
Maria Gadú - Linda Rosa
quinta-feira, 27 de maio de 2010
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Vinicius, adorei teu blog. parabéns.
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